quarta-feira, 25 de abril de 2012

(des) gostos do 25

Não sei realmente o que escrever hoje... dia de ânimo ou de desânimo?

Há muitos modos de não-democracia. Além dos modos extremos do nazismo e do estalinismo, indefensáveis em absoluto, há estas modalidades mais suaves em vigor na China, em Cuba, na Venezuela, na Bielorrússia, nuns casos sob o anonimato de um partido único, noutros sob o abuso de poder de um demagogo populista. Não vejo caso nenhum, contudo, em que haja "despotismo iluminado", como tenho ouvido defender, em que o poder absoluto seja exercido por alguém superiormente culto e dedicado ao bem estar da população.

Desanimados com as ditaduras, estaremos animados pela expansão da democracia no mundo ? Nem por isso. Ouvem-se queixas crescentes contra os partidos, a liberdade dos mercados, os poderes encobertos, as ditaduras financeiras. O engraçado é que há unidade em volta destas críticas entre os mais à esquerda e os mais à direita. Surge a dúvida se não são os patrocinadores das ditaduras acima referidas quem mais ferozmente critica estas débeis democracias.

Como poderei então estar "animado" com o 25 de Abril, coisa anacrónica de há 38 anos ? Ou desembocava no primeiro cenário, ou desembocava no segundo. Cá estamos.



Contra o que cada vez mais se diz por aí, penso que o único ânimo que posso acalentar tem a ver com estarmos na Europa, estarmos no Euro. É como uma velha casa aristocrática que empobrece a olhos vistos, mas mesmo arruinada continua acolhedora, bonita e cheia de boas recordações. Tem uma dignidade como há poucas, boa vizinhança e portas abertas ao exterior. É onde fizemos amigos e trocámos amores. Sinto-me bem nesta casinha, nem que tenha de comer côdeas.

E percebo que terei de comer côdeas.

Não sei se tenho que agradecer a Abril.
Não era isto que eles queriam.
O Abril dos militares heróicos era o Abril das côdeas, sim, mas sem Europa. Era o "despotismo iluminado" ao contrário - a certeza de uma mediocridade social e cultural igual para todos. O que me anima, talvez, é que eles foram derrotados, e que, melhor ou pior, sempre fomos subindo os degraus na casa europeia. Porque nisso votámos.

Mas também... não era "isto" que eu queria.

2 comentários:

Imaginário disse...

Oh, Mário, de quanta verdade és capaz, meu velho?! E tens razão em muito e em muito nos faz pensar.
Abraços afetuosos.
Gilson.

Mário R. Gonçalves disse...

A verdade, Gibson, é demasiado complicada para mim. Vou dizendo coisas.

Seja sempre bem-vindo,
Abraço