quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Uma era a terminar: coisas que valeram a pena.


Balanço de geração, ainda na ressaca dos 5 anos do Livro.

Nestes tempos parece que se respira o fim de uma era, em que muitos princípios, valores e modos de vida são postos em causa por aparentemente não terem conduzido ao esperado progresso de uma vida melhor para a humanidade.

Para quem partilha a minha geração (nascida, digamos,  nos anos 1940-60) não faltaram motivos de espanto, maravilha, deslumbramento e mesmo orgulho. Atravessando agora um momento depressivo de esterilidade e vacuidade, é bom relembrar tanta coisa boa, relembrar que mais ninguém antes desfrutara destas criações, descobertas e inventos em todo o seu original esplendor e frescura, um ciclo feliz de humanidade imaginativa e aventurosa.

✸  Anos 60 – nasce a música pop/rock/folk : Beatles, Simon e Garfunkel, Pink Floyd, Fairport Convention e Sandy Denny, Leonard Cohen, Donovan, Bob Dylan, Beach Boys... e aos poucos nascem também imensos festivais, rurais ou urbanos, que reúnem multidões para, 'apenas', ouvir música. Nunca visto.


✸  A aventura espacial : as viagens à Lua, o Space Shuttle a a construção da Estação Espacial orbital, o telescópio Hubble e a nova visão do Universo pelas sua fabulosas imagens. Finalmente conhecemos os nossos vizinhos mais de perto, e até encontramos mundos semelhantes fora do sistema solar; mas nada se compara a vermo-nos a nós próprios no espaço.


✸  BD, a banda desenhada, nova forma de arte: o universal Tintin de Hergé e as suas inúmeras viagens, o Príncipe Valente, o mágico Mandrake, Mickey Mouse e Scrooge MacDuff, Calvin, as aventuras conspirativas de Black and Mortimer, a personagem ímpar de Corto Maltese,  Fred e a imaginação à solta.


  A redescoberta da Música Barroca e Antiga : interpretações historicamente informadas revelam um universo musical dos séculos XVI/XVII quase desconhecido e revalorizam de forma deslumbrante alguns clássicos: Händel, Mozart, Vivaldi, Telemann, Gluck, e depois Beethoven, Mendelssohn. Nomes como Christopher Hogwood, J. Eliot Gardiner, Nicolaus Harnoncourt, Tom Koopman, Phillip Herreweghe, Jordi Savall, David Daniels, Andrea Scholl, Emma Kirkby, Cecilia Bartoli, fazem parte da herança e do imaginário da nossa geração pioneira desta redescoberta entusiasmante.


✸  A Queda do Muro de Berlim : fim do regime e do império soviético, fim da maior mentira política de todos os tempos, fim da guerra fria - só não o festejou quem não o sofreu. Somos muito mais livres, falta-nos encontrar a responsabilidade correspondente. Desde aí, a Europa reencontrou-se na sua vastidão e variedade, e na sua longa e sofrida História, onde não faltam disparidades e conflitos por resolver. Talvez por isso mesmo seja o continente com mais potencialidades de inovar, reinventando-se. Pelo menos é sem dúvida o mais colorido !

✸  O Ártico : cada vez mais valorizado; com a descoberta de um território imenso e variado na sua natureza e nos seus povos, uma história esquecida foi-nos devolvida: um novo mundo de glaciares, imensidões geladas, fiordes, vida animal, longas noites e longos dias, luzes que bailam no céu, aldeias coloridas, artes e costumes das comunidades do gelo, que vem sendo revelado para nosso espanto - e também para nossa preocupação com a riqueza finita da água potável.


✸  Portugal na Europa : somos quase iguais... cafés e pizzarias à italiana, boulangeries à francesa, fast-food, casas gourmet; esplanadas mediterrânicas por todo o lado que trouxeram animação e colorido; salas de cultura e de concerto até em recônditos concelhos, espaços urbanos melhorados, percursos pedestres, passadiços, ciclovias, e, claro, cartões, multibancos, moeda única. Serviços de saúde quase exemplares, longevidade acrescida. Mas a riqueza não trouxe visão, a liberdade não trouxe juízo nem honestidade, e a cultura propriamente dita, essa decaiu, hélas.

✸  A Internet, claro (aproxima os afastados e afasta os próximos), e os computadores pessoais, genial coisa. Há tão pouco tempo ainda imprevisíveis, depois mostrados como temíveis na ficção científica, agora quem os usa uma vez não mais os dispensará. A Internet é a cultura de massas levada à quase perfeição. Por definir ainda os efeitos da rede mundial a longo prazo - há quem aposte até numa possível mutação.

Para mudança, tivemos Mudança !  E olhando retrospectivamente não será fácil encontrar uma geração que possa gabar-se de tanta coisa nova ter trazido para a História.

Não conseguimos resolver as mais básicas injustiças e desigualdades.
É a nódoa na herança que deixamos: um mundo em perigoso desequilíbrio.

2 comentários:

Virginia disse...

Fica-se feliz de pertencer a uma geração destas ( os chamados baby boomers). Obrigada pele lembrança de que o optimismo é essencial para acreditarmos que nem tudo morreu ou vai morrer.....

Abraço

Mário R. Gonçalves disse...

Feliz não direi, Virgínia, não cumprimos muita coisa, mas ao menos surpreendemos, e tivemos gozo no que realizamos.