quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A guerra lá adiante e a paz por aqui. Ou não.


Tenho-me mantido em negação, julgando que na Europa vivemos uma paz imperfeita (- Ucrânia) mas sólida desde os conflitos balcânicos. E é parcialmente verdade, aliás a maior parte do mundo está mesmo em paz e com mais tendência para democracia que para ditadura - agora foi a vez da Birmânia, salvé !

Mas quando três dos maiores exércitos mundiais estão envolvidos numa operação bélica conjunta (mais ou menos) contra uma guerrilha islâmica radical, isso é uma guerra e das grandes, não uma cruzada cristã mas uma enorme operação militar das democracias. Com recurso a tudo menos a um exército no terreno. Há do lado ocidental meio milhar de vítimas, pelo menos, do outro lado não se sabe. As bombas caem já há muitos meses, arrasadoras, na Síria e no Iraque, com o Irão ali ao lado a assistir felizmente sereno - veremos... - e mais preocupado com o Yemen, que é outro assunto trágico. Mulheres (e crianças) fazem-se explodir com uma inpossível espontaneidade, só para levarem com elas alguns 'infiéis', e sem mesmo poder contar com 17 rapagões no paraíso. É tudo tão, tão estranho, inumano, demencial. É guerra na sua modalidade pós-moderna, não mais entre impérios, não mais por conquista e dominação, mas sim por valores de civilização e controle dos recursos petrolíferos, por esta ordem.

A nossa paz aqui defende-se fazendo guerra lá. Mas a guerra entra cá pela porta das trazeiras, manhosa, insidiosa, entra cá derrotada e inútil mas com ódio ressabiado. Vivemos em Guerra-e-Paz, e assim permaneceremos muitos anos, tudo indica. Dependemos sobretudo, quem diria, da Rússia, o mais instável dos 'aliados', e para muitos europeus um perigoso inimigo.

Não tenho saudades de período histórico nenhum que me pareça melhor que o actual - e sobretudo não do horroroso século XX, que só para o fim abrandou a selvajaria, culminando na queda do império de Moscovo. Mas foram apenas dez anitos de (quase) paz e algum bem-estar, os melhores que tivemos, que me lembre, mas oh tão breves.

Certeza, parece, só de que no ocidente da Europa temos o mais forte foco civilizacional do mundo, que se prolonga para além do Atlântico, o único modelo que compensa imitar. É um alívio, egoísta, e um privilégio. Atrai vagas de refugiados e imigrantes e suscita invejas raivosas.

À beira disto, que problema é se teremos governo de gestão ou de invenção, se a presidência é desta ou daquela personalidade nula, se as comadres em acordo se vão zangar mais cedo ou mais tarde ? Quero lá saber.


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