sexta-feira, 21 de julho de 2017

Atanas Matsoureff, pintor búlgaro contemporâneo


Estou grato ao blog bensozia por me ter revelado a obra deste aguarelista nascido em Bansko, Bulgária, em 1975. É uma vila de montanha, uma estância de neve muito frequentada para desportos de Inverno no sudoeste do país, junto ao Parque Pirin.

A Bulgária continua para mim (para nós, aqui no extremo ocidental) um sitio mal conhecido, tido como pobre, rural e atrasado por anos de ditadura repressiva sob 'protecção' do Pacto de Varsóvia e sob as doutrinas do homem novo soviético e do cristianismo Ortodoxo. Certamente as coisas mudaram para melhor, mas o desconhecimento é mais que muito.


Acontece que Atanas Matsoureff já pertence a outros tempos - é do pós-25-de-Abril cá, e do pós-queda-do-muro lá. E numa coisa tem lições a dar: pinta e desenha magistralmente, e desenvolveu uma técnica e estilo de aguarela muito pessoal. Vive e expõe sobretudo em Sófia.

Já sei: é convencional, de estrutura, de traço e de colorido "académicos", um realista primário. Chega sempre uma altura em que estou farto de desafios, desconstruções e perspectivas multi-qualquer-coisa. Esta arte não questiona nem provoca - repousa e conforta.

Agosto, 2013

Vermelho Primavera, 2011




Gosto das naturezas mortas de Matsoureff, em particular com vestuário e utensílios, deixando a imaginação fantasiar histórias sugeridas pela figuração visível.

A Porta, 2013


Sótão, 2002

Ao final do dia, 2014


E já que estamos na Bulgária com Atanas, deixo um poema (*) do poeta Atanas Daltchev (1904-1978).

Um espelho

Ao longo de muitos anos tens esperado
Mas o milagre surge a cada hora.
Vê o homem das mudanças. Passa
com um pesado espelho !
Ao caminhar, as ruas, as casas
e as sebes dos jardins são ampliadas,
pessoas surgem do seu fundo cintilante.
Carros voam em fúria como pássaros fugindo da gaiola,
praças urbanas oscilam
e as árvores,
telhados e varandas desabam,
os céus azuis faíscam.
Não te admires ao notar que o homem
se dobra e dá cada passo lentamente.
Ele transporta nas suas humanas mãos
Um prodigioso, um inteiramente novo Mundo.


Assim é a arte: um espelho, um prodigioso novo mundo.

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(*) [tradução minha, combinando a versão francesa e inglesa, portanto...]



1 comentário:

Fanático_Um disse...

Linda a pintura de Matsoureff que não conhecia. Estou totalmente de acordo consigo Mário, é uma arte que repousa e conforta. Um realista primário, qual é o problema? Pinta ao mais alto nível e as obras que nos mostrou são magníficas. Agradeço-lhe por abrir mais esta janela.