sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Dean Village, nas margens da Water of Leith


Water of Leith é o rio que atravessa Edimburgo até ao porto de Leith, desaguando no famoso largo estuário Firth of Forth, aquele onde, segundo a épica composição dos Genesis,

The sands of time were eroded by
the river of constant change


Ao entrar na zona urbana de Edimburgo, o curso de água forma uma garganta estreita onde desde há séculos (c. 1145) se instalaram vários moínhos de água ou azenhas, alguns de grande dimensão. Nasceu uma vila dedicada à panificação e outras artes chamada Dean Village. Nunca a tinha visitado, desta vez não falhei.

O rio Leith (Leith não é o Lete dos gregos mas é pena) corre pelo vale glaciar onde Edimburgo viria a nascer. O dia nasceu soalheiro e chegar lá foi um encantamento súbito.


O acesso a partir da cidade faz-se por uma longa descida em curva até à beira rio.
Belo trabalho de ferreiro !

11 moínhos produziam farinha para alimentar Edimburgo no auge do crescimento urbano no séc XIX. Alguns eram grandes prédios que foram agora convertidos para apartamentos. Mas a proximidade das águas do Leith e da antiga ponte de acesso à cidade também acabou por atraír indústria têxtil, tanoaria e ferrarias.

Caminho de acesso à antiga ponte.



A antiga ponte medieval era o único acesso à cidade, o que contribuiu para o crescimento da aldeia de Dean.


À esquerda, o Well Court, prédio Vitoriano para trabalhadores.

A aldeia começou a decair em 1832, com a construção de uma nova ponte alta sobre a garganta do Leith, dando acesso directo a Edimburgo e deixando Dean em baixo, num desvio; mesmo assim a vila continuou como centro de tanoagem até ao fim do século. Em 1880 um enorme complexo residencial de cinco andares viria a ser construído em arenito vermelho, o que veio a dar novo alento à comunidade.


O prédio do Well Court tem um grande pátio central comum, capela e torre de relógio que tocava o recolher às 10 h da noite. Uma bela obra de arquitectura que fez parte da candidatura a Património da UNESCO.


O pátio comunal interior.

Um aviso de 1880 anunciava: "providing homes of two and three rooms with conveniences". Para uma classe respeitável de trabalhadores (padeiros, ferreiros, tanoeiros, guardas de linha de combóio), sob ordens estritas - o portão fechava às 22h, com o tocar das badaladas na torre.


Posteriormente, já no séc. XX, Dean seria abandonada e deixada a uma população desempregada miserável. História parecida com muitas outras, a que a prosperidade na mudança de século pôs fim.

Há um percurso pedonal ("Leith Walkway") de 20 km junto ao rio nesta zona verdejante; é paisagem protegida.


O percurso à cota do rio está rodeado de bosque por vezes bastante denso; a acreditar no folheto, há aqui trutas e outro peixe de rio, lontras, e muitas espécies vegetais estimáveis.

Na época Vitoriana, Dean passou a estar "na moda" para gente abastada, os apartamentos são caros, mas manteve sempre um apego comunitário que a distingue do resto da cidade. São mesmo muito bairristas.

Perto, nesta zona suburbana baixa e verdejante, ficam os dois prédios  da Galeria Nacional Escocesa de Arte Moderna. Com este dia luminoso, entrar em Museus não seria o que mais apetecia; mas era oportunidade única. Lá vamos, já a seguir.

2 comentários:

Gi disse...

Quando um dia me reformar, quero viajar por impulso, sobretudo para terras como esta ou a Irlanda (país que ainda não conheço), quando puder prever uma semana sem chuva.
Esse passeio à beira-rio parece lindo. Que saudades de andar no campo.

Mário R. Gonçalves disse...

Senti isso, Gi, uma alegria e um alívio tão fundo naquele cenário de aldeia e rio. Só se ouvia a água e as folhas. Experimente as nossas aldeias de Xisto, Gi, Talasnal, Cerdeira... (na Primavera, antes dos incêndios!).

A seguir vem outro cenário lindo e sossegado, à beira-mar, igualmente na costa leste escocesa.