Em Culross sob um céu escocês típico - ameaço de chuva com clareiras.
Se não fosse um arzinho especial, fino e leve, e uma sensação indefinível de setentrional, podia ser uma aldeia portuguesa. Varandas e escadarias floridas, fachadas caiadas de branco mas alegradas por uma ou outra mais colorida, cortinas nas janelas, calçada ingreme de pedras, uma Câmara de granito com torre central e um mosteiro antigo lá no alto, tudo rodeado de verdura. Mas quando a vista se espraia sob os telhados e chaminés, no miradouro, e pelo Firth of Forth, há na paisagem uma respiração de quase Ártico na quietude, no isolamento, no aparente abandono - não há trânsito nem camionetas, nem vozes humanas, nem ruído de obras. Só pássaros, sussurros do vento e da folhagem, um som de fundo da água a fluir no largo estuário, e aquela luz coada, discreta, em tons frios azul e verde.
Meados de Agosto, e quase ninguém. Estava tudo em Edimburgo no Festival?
A 'típica' empena lateral triangular com chaminés.
Há um vago 'feeling' de parentesco desta aldeia com as da Península Iberica. Nada a ver com as aldeias inglesas.
A casa mais diferenciada, de influência nórdica, talvez holandesa ou escandinava.
Beira Baixa ? Alto Alentejo ?
Não, esta não é mediterrânica.
O céu ficou pesado, choveu, passou. Muito 'Highlands'.
Na parte alta da vila, uma varanda panorâmica sobre o rio Forth:
Culross Abbey
Tendo sido Viking e Celta mas nunca Romana, a Escócia escapou à primeira vaga de cristianização. Mas logo a seguir, quando os Romanos abandonaram a Britannia desde o séc. V, os Celtas começaram a converter-se (o Livro de Kells de Iona data de c. 800) num processo que se prolongou até ao séc. X. Um monge do séc. V (São Servo ou São Servano) andou por aqui a pregar, e deu origem a muitas lendas.
A Abadia de Culross foi fundada em 1217 sob o 7º conde de Fife, afiliada à ordem de Cister como na maioria da Escócia. O que resta de pé passou desde 1633 a igreja paroquial da Church of Scotland.
A bandeira nacional a drapejar no alto da torre.
Um recanto íntimo onde os musgos e as amoras nas silvas parecem contar segredos com muitos séculos.
Junto a um muro de silvas carregadinhas de lindos frutos que ninguém apanha:
Na tearoom 'Biscuit Café ', inevitavelmente, o ritual do chá com scones; talvez a compota seja das mesmas amoras ?
Destes momentos também se faz viagem.
Na despedida, junto ao cais de acesso ao Forth, jogos de luz, àgua, céu, linhas de fuga, duas pessoas também fascinadas.
You sylvan powers that rule the plain
Where sweetly winding Forth a glides
Conduct me to those banks again
Since there my charmimg Mary bides.
E a terminar um pouco de gaélico, que me soa lindamente - é uma língua musical e de sonoridade agradável:
"O Barqueiro", Fhear a Bhàta
2 comentários:
Gostei muito. Da música também! Abraço.
Obrigado pela visita, Henrique. Não te esqueças do Garbarek... Abraço !
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