"...cavar sepulturas era esforço demasiado para os já esgotados prisioneiros, que acabavam por enterrar os camaradas caídos sob o piso da própria estrada que costruíam. Tornaram-se eles próprios parte da estrada, e o Kolyma é um vasto cemitério para milhares de pessoas dos campos de trabalho."
O gulag do campo Dalstroy, na bacia superior do rio Kolyma, numa zona montanhosa perto de Sinegorye, Sibéria, chegou a ter 200 000 prisioneiros. Trabalhavam nas minas de urânio e na construção da trágica R5O4, 'Estrada dos Ossos', que liga Yakutsk a Magadan atravessando uma região de tundra montanhosa.
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A maior beleza surge por vezes onde menos se espera, é sabido. Lá onde se concentravam prisioneiros esfarrapados e esquálidos, castigados com trabalho forçado por uma ditadura dita do povo que não tolerava resistentes nem dissidentes; lá onde a "estrada dos ossos", construída sobre centenas de esqueletos, há muito arruinada, ainda serpenteia por uma paisagem deserta e gelada de rios e montanhas, taiga e tundra -
- lá existe um abençoado lago, belo como nenhum outro, lugar de um mundo feliz e harmonioso; o lago Jack London fica nas montanhas da Sibéria Oriental, a norte da cidade portuária de Magadan, perto da nascente do rio Kolyma e da vila mineira abandonada de Sinegorye, e a sul de Yagodnoye, aldeia-inferno do gulag e da indústria suja. A zona da cadeia de montanhas, cujo topo é o Pik Aborigen (2 300 m), é agora uma área de paisagem protegida que os russos e os aventureiros de outras bandas vêm descobrir para seu espanto e para consolo das passadas misérias.
Uma viagem virtual, que é a minha prenda de Ano Novo aqui, neste Livro :
Lago Jack London
Озеро Джека Лондона
Sibéria Oriental, província de Magadan
Coordenadas: 62° 04′ N, 149° 31′ E
Na bacia alta do rio Kolyma, entre uma cadeia de montanhas, as águas do Lago Jack London ficam a 800 m de altitude. É um lago muito mais pequeno que o Baikal, mas alongado - mede uns 10 km de ponta a ponta, e as águas descem a 50 m de fundo.
As margens são baixas, as encostas suaves florestadas de coníferas - lariço e pinheiro anão (Pinus pumila) - terminam em terreno de pântano ou areal.
Como um fiorde da Noruega
Porquê Jack London? Os geólogos russos eram bastante cultos, e Jack London era muito lido no início do século XX. Os que lideraram as primeiras expedições ao Alto Kolyma - onde viriam a descobrir as minas de ouro - acabaram por atribuir em 1932 o nome do escritor ao lago. Foi Peter Skornyakov o autor da sugestão.
As cores, intensas nos meses mais quentes, são uma festa visual:
Bétulas, choupos e abetos juntam-se aos lariços num colorido quente que contrasta com os azuis da água cristalina.
Não parece, mas são terras muito frias: em Julho a maxima não passa de 12ºC, no Inverno desce com frequência a -30ºC.
Reflexos perfeitos
Névoa sobre as águas proporciona uma beleza ainda mais etérea:
E a luz de crepúsculo ressalta a sublime irrealidade do lugar:
Junto ao lago há uma rarirade - a Floresta Yagel (de Yagel'naya, líquen das renas) - uma mata de musgos com 30 ou mais centímetros de altura. Crescem e florescem por não existirem renas predadoras... nem humanos.
Estamos de facto em terreno virgem, de uma Terra primordial.
Já mais frequentadas são as (poucas) praias, sobretudo para quem tem um barquito.
Em vista aérea, revela-se a forma de boomerang, semeado de penínsulas e ilhotas.
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Foi uma viagem aos confins do Oriente. Espero que tenha agradado. Ainda hei de falar de Magadan.
[fotos obtidas na Net de múltiplas fontes]
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