terça-feira, 26 de março de 2019

A raposa branca do Ártico, bicho lindo, e o Mikkl de Christiane Ritter


Já há muito tempo publiquei aqui a minha simpatia pelo arminho, ou marta, das regiões árticas. É um dos bichos mais bonitos que conheço, tanto assim que até Leonardo o pintou no regaço de Cecilia Gallerani.


Mas não lhe fica atrás a raposa do Ártico, no apogeu da pelagem de inverno, de pristina brancura; é linda linda.


Esta muda de pelo permite-lhe suportar facilmente uns -50ºC, e bem precisa, pois não sendo animal de hibernar tem de sair à procura de alimento por mais frio que faça. Se no resto do ano é fácil - ovos e crias de pássaro, pequenas focas, roedores, restos deixados por outros - na estação fria tem de saltar alto e cair de patas e focinho sobre o gelo para o furar e apanhar algum roedor.


Não está de modo algum em perigo de extinção, pelo contrário, nalguns locais ainda se organizam caçadas para manter a população sob controle. Senão lá se vai o galinheiro.
 



Os famosos olhos 'matreiros' são um dos encantos, possivelmente fatal para as presas.


A distribução da raposas brancas no planeta é "circumpolar", numa faixa baixo-ártico / sub-ártico à volta do pólo. A espécie varia um pouco, sendo as principais variantes a raposa da Gronelândia, da Islândia, do Canadá, das Ilhas Pribilof e das ilhas do mar de Bering, incluindo ainda a grande população da Ilha Wrangel.

 
Raposinhas a brincar ao crepúsculo, Ilha Wrangel

Existe uma centro de protecção, educação e controle na aldeia de  Súðavík , Islândia.
Súðavík, 66°01′ N, 22°59′ W

O complemento literário de hoje é extraído de um dos meus livros favoritos, A Woman in the Polar Night, de Christiane Ritter, uma das maiores obras-primas de autoria feminina.  Durante o seu isolamento numa cabana em Svalbard, Ritter é visitada por um raposo, a quem chama Mikkl, que estabelece com ela laços de quase amizade doméstica.

Mikkl demonstra agora o seu afecto por nós dormindo toda a noite junto à cabana. Deita-se enroscado na cama de palhas e pauzinhos, com a cauda felpuda a tapar o nariz. A raposa adormecida, de um branco luzidio, enquadra-se na perfeição com a serenidade da noite, que continua de uma claridade mágica. Mikkl é como um fragmento da misteriosa Idade do Gelo, que jaz disfarçado na glacial, luminosa quietude. No céu trasparente a enorme lua parece próxima, mas não como na Europa onde a sua luz é fria e distante. Aqui parece pertencer a este nosso mundo, um quadro luminoso de uma paisagem de gelo delineada com apurada nitidez.



1 comentário:

Gi disse...

Ah bichos lindos!
Não são só os gatos, não.