quarta-feira, 20 de março de 2019
'One Art', de Elizabeth Bishop - a arte de perder
ONE ART
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Elizabeth Bishop
É fácil dominar a arte de perder
Tantas coisas parecem ter vontade
de perder, que se perdem sem doer.
Perde cada dia alguma coisa. Aceita nem sequer
das chaves da porta saber, desvanecer uma hora.
É facil dominar a arte de perder.
Depois pratica perdas graves, a irromper:
lugares, e nomes, e sítios aonde querias
viajar. Que se perdem sem doer.
Perdi o relógio da Mãe. E querem ver?
A mais querida de três casas foi-se.
É fácil dominar a arte de perder.
Perdi duas cidades, lindas. E, a acrescer
propriedades, dois rios, um continente.
Sinto a falta, mas não me fez doer.
- Mesmo se a ti perder (a voz, um gesto qualquer
que adoro) não estarei mentindo. É evidente
que é fácil dominar a arte de perder
embora possa mesmo (Escreve!) sim, doer.
[tradução minha]
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5 comentários:
Que poema, Mário, nem tenho bem palavras para descrever a reacção que me causou... Este vai ficar a ecoar na minha cabeça por muito tempo, obrigada.
E não conhecia a Elisabeth Bishop, definitivamente vou ter de procurar mais coisas dela.)
(Aliás acabei de perceber que afinal já tinha apanhado Elisabeth Bishop anteriormente por aqui, no poema Man-Moth, que também é extraordinário.)
Foi o que me aconteceu, Inês. Fui logo ler mais obras dela, e já tenho mais uma em espera. Uma revelação/choque.
Things with the intent to be lost - quem se lembraria? humor também, e ritmo, e sarcasmo. Mas o último verso é demolidor.
Muito bom, Mário. Mesmo muito. Obrigada. Também vou investigar a autora.
E bom "dia mundial da poesia", Gi. Dias da bruteza são quase todos.
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