quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A casa-museu Viking de Borg, Vestvågøya, Lofoten


Um museu improvável.

Vista da estrada E10 em Vestvågøya.

Fica acima dos 68° N o mais perfeito exemplar de casa longa (langhus) Viking, reconstruída de acordo com os dados recolhidos na área. Numa região que até há pouco era demasiado fria (mesmo no século XX), quase só residem comunidades piscatórias pelo bacalhau, mas também pelo halibute, entre outros. E alguns artistas, por opção.


Seriam as Lofoten mais temperadas no 1º século? A verdade é que a comunidade Viking se adaptou e cresceu nesta ilha. Devia ser uma gente estranha aos nossos olhos actuais; despojada ao ponto de viver com mínimos quase insuportáveis de conforto, sem lenha para aquecer*, sem campos para cultivar, criando rebanhos de cabras e ovelhas e colhendo o que o mar oferece.  No outro lado do viver espartano estava o gosto pela aventura de cruzar os mares - hoje já se sabe que foram até altas latitudes do Canadá, muito acima da Anse aux Meadows, e para Oriente contactaram as civilizações asiáticas, de onde trouxeram joalharia. Sobretudo, o mar também lhes facultava os saques costeiros, claro. Para escapar à quase miserável rotina diária, onde eles mais investiam era na construção naval, nos famosos drakkars conhecidos em todos os mares do Norte.

Esta bela casa-museu fica em Borg, Vestvågøya, na estrada E10 (mais bem denominada como Vikingveien), junto ao fiorde de Borg (Borgfjord).

A casa
(e tem uma árvore !)

O barco

Casa / barco formam uma unidade logística indissociável, como que um sendo o 'inverso' do outro, o abrigo em terra e o abrigo no mar. Não sei se é acaso, mas a cultura tem coisas destas.


Sabe-se que existiram entre 500 e 900 DC várias casas familiares, rodeadas de pastos e rebanhos. Esta era enorme - 83 metros por 9 de altura ! A que existe foi reconstruída ao lado da original, de que ainda se vêm os tocos de madeira.

Tinha cinco divisões, incluindo dormitórios, área de trabalho, armazém e arrumos, sala de negócios e salão de refeições. O que terá acontecido cerca de 900, quando a casa foi abandonada, não se sabe; é provável, segundo o Museu, que tenham todos emigrado para a Islândia.

Entremos na casa que é o Lofotr Vikingmuseum.


É a casa de um Chefe, onde vivia com uma família alargada. Aqui não havia povoações, os 'clãs' eram constituídos por algumas dezenas de pessoas.


Ao centro, o fogo sempre aceso. As peles e o peixe ficavam suspensos por perto a secar.


A estrutura da casa está suportada por fortes vigas de madeira esculpida.



Junto às camas havia teares - fabricar vestimentos era uma das actividades permanentes. Aqui não faltavam ovelhas e cabras.



Da parte masculina, elmos e espadas, e os deuses do culto nórdico.



Um Freyr, divindade nórdica associada à fertilidade.


Descendo até ao cais no Borgfjord, encontramos a segunda casa, 'casa de viagem' :



Sempre a sonhar com terras distantes...



Como já disse, no 1º século que o Museu documenta a ilha devia estar quase sempre gelada ou nevada. A madeira vinha certamente de longe - mais a sul ou no interior.




Longínquo, inesperado e algo enigmático, é um museu que eu bem gostaria de ter visitado.

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Vestvågøya é uma das ilhas Lofoten, o arquipélago onde alguns situaram a Ultima Thule de Pytheas e de onde desde o séc. XIX nos chegava grande parte do pescado da Noruega.


* só a madeira que o mar traz à praia

1 comentário:

Fanático_Um disse...

Muito interessante. Também gostaria de visitar, mas penso que já não acontecerá no que resta da minha vida...