Estive por duas vezes em Florença, mas nunca tive paciência para as filas das Galerias Uffizi. Florença tem muitíssima mais arte, em cada esquina e praça, palácio e jardim, e se há coisa que me falta é paciência para esperar de pé. Mas tenho pena, e como lá não volto, vou visitar aqui e agora os dois quadros que mais lamento não ter visto.
A Primavera de Botticelli
Estar sentado em frente longos minutos, várias vezes ... era esta a obra que mais me faria demorar. Muito mais que o outro em que Vénus nasce da concha.
Mesmo assim o conjunto é luxuriante de cor e movimento. Percorre-se, como na leitura, da esquerda para a direita ( ou vice versa) e não da frente para o fundo (como o de Michelangelo), como um pergaminho ilustrado que se desenrole na horizontal. Vénus, vestida a maneira Florentina, está num arco entre o filho Cupido, de arco e flecha prontos, e as Três Graças .
Certamente toda a gente já reparou nas mãos cruzadas. Três pares de mãos entrelaçadas, genial composição.
Também nas Uffizi está a lindíssima Madonna de Pomegranate, um medalhão redondo como o de Michelangelo; mas mais imperdível é este:
Il Tondo de Michelangelo.
Il Tondo Doni (1503-1504) é uma sagrada família, encomenda de um tal Agnolo Doni na forma de medalhão - (ro)tondo.
O famoso chiaro-escuro a criar três dimensões na tela.
Pensado para uma colocação elevada que nos obrigue a observar em contre-plongée, o quadro deveria ter obrigado a um estudo e trabalho nas formas e sombreados nunca visto; mas a obra é posterior à decoração da Capela Sistina, portanto Michelangelo já dominava a técnica com desinvoltura.
Vários golpes de génio fazem deste redondo uma obra prima. Em vez do habitual triângulo, o que temos são dois triângulos, um deles invertido, unidos num ponto fulcral que é o incrível olhar da mãe; que, coisa rara, não olha de frente nem de lado - olha para trás, enlevada, numa atitude algo sensual como quem se relaxa no leito de manhã. Uma diferença radical: em Boticelli interessa a cena, o decorativo, o detalhe; em Michelangelo, tudo está ao serviço de afectos, de sentimentos humanos.
Também é curioso como Michelangelo representa duas perspectivas diferentes da vida: na paisagem de fundo, corpos nus ao estilo greco-romano contrastam coma simbologia cristã, como se fossem o fundo mitológico sobre o qual se fundou a narrativa bíblica.
Como é possível ?
Muitos outros haveria, como a Madonna de Pomegranate, ou a Anunciação de DaVinci incontornável, ou todas as salas de esculturas. Mas são estes dois que não me perdoo.
1 comentário:
Maravilhosos! Eu não me importaria de estar la´de é 24 horas! Até levaria tenda para acampar! O que eu me recrimino por ter estado no aeroporto de Florença e nunca ter visitado a cidade. Tudo por ingénua falta de planeamento! Com a vida que levo dificilmente lá poderei voltar. Resta apreciar as reproduções e ler as suas postagens, obrigada por isso! Hoje até vim aqui para pedir a sua visita. Solicitava que lesse a minha postagem de hoje, que corrigisse se encontrar erros, faça sugestões. É assunto que não domino e que sei que entende bem! Passe por lá e bom fim de semana: está por aqui muito frio, convida à blogagem!
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