quarta-feira, 8 de abril de 2020

O meu cruzeiro até ao fim do mar: Mo i Modalen.


Viagem para desenjoar de casa.


Nunca fiz um cruzeiro daqueles gigantescos que duram vários dias e param em cidades. Fiz cruzeirinhos - o das ilhas do mar Egeu, o do rio Douro, e este num dos fiordes da Noruega, em 1998. Era um barco bonito de dimensão agradável, com algumas madeiras e cobres polidos, e levou-nos a partir de Bergen até ao Mofjorden, também conhecido como Romarheimsfjorden.


O MS Bruvik estava acostado num cais de Bergen a poucos metros do nosso alojamento. Maravilha. Tudo cómodo, e partiu sem atraso.


O Bruvik *, de 1949, foi readaptado em 1994 para cruzeiros nos fiordes em redor de Bergen, com ida e volta no mesmo dia. Pode acolher mais de 200 passageiros.

Apesar do frio, da maresia e do cheirete a diesel, era no deck ao ar livre que se disfrutava melhor a viagem.

Mo fica no fundo do fiorde, a 100 km de Bergen, umas 3 horas de viagem.


Não se chega a sair para o mar aberto, a navegação faz-se por um largo canal até entrar no fiorde; depois é quase em linha recta, direcção nordeste.

Era um dia de Verão, com sol e alguns chuveiritos, bastante fresco e ventoso. Avisaram-nos para levar agasalho, uma manta seria fornecida.

O Mofjorden é uma canal bastante aberto, ladeado de escarpas florestadas e pouco elevadas; não tem sítios dramáticos como outros mais selvagens, apenas duas referências: o Castelo (ou as Torres) e o Mostraumen.

Slottet (castelo) i Modalen é uma dupla falésia, que deve ter vistas fantásticas lá do alto; cá em baixo impressiona pouco.

Mais interessante é o Mostraumen, um estreito que era antes fechado, ou seja, o fiorde terminava aqui, e depois de um istmo havia um lago onde se situa Mo; em 1913 abriu-se o canal que liga as duas águas, ficando assim o fiorde muito mais profundo.


Um dos trechos mais bonitos do fiorde (foto de https://rodne.no/)


O Mostraumen tem 60 m de largo, e alonga-se por 650 metros.


Pouco depois avistámos Mo, o nosso destino. Grande terra. Consegue ser mais pequena que o nome!

Mas o cenário valia a viagem. Cascata e tudo.

Como não havia refeições a bordo, a maioria dos passageiros foram a um restaurante local, previamente combinado, antes do regresso; para nós o preço era proibitivo, tanto mais que já o passeio era carote. Optámos antes por ficar a passear na terra e arredores, até porque o sol abrira de vez e estava mesmo calor.


O edifício de acolhimento junto ao cais.

Não faltavam recantos bonitos.



Este parece ser o edifício principal da aldeia; é de um fabricante de calçado de couro cosido a mão, deve ser um luxo caro.

Casas de madeira branca, como por toda a Noruega. A densidade nesta região é de 1 habitante por km2.


A igreja e a cascata. Lembrei-me da Senhora da Peneda. A igreja é da mais comum arquitectura neo-gótica de madeira, século XIX.

Uma ponte pênsil liga os dois lados do rio que desagua em Mo, o Modalselva.

Encontrámos uma vereda um pouco íngreme que subia a encosta sul; ainda deu para escalar um bocadinho até termos uma perspectiva

Mas fazia-se tarde. Entretanto o Bruvik, que se tinha afastado para inverter o sentido de viagem, já estava acostado à espera.

Regresso com muito frio.

Não foi grande aventura, não se apreciou nada de histórico, nem houve visitas culturais; nem sequer a gastronomia deu para degustar. Mas valeu pela lufada de ar fresco no rosto, pela lavagem de poeira dos olhos, que voltaram cheios de luz e cor. E como em quase por toda a Noruega, respira-se uma sensação libertadora de Ultima Thule.

Adeus, MS Bruvik barquinho lindo, obrigado pelo passeio.


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* Bruvik é também uma pequena localidade, noutro fiorde próximo de Bergen.


1 comentário:

Arnaldo Leles disse...

Lugar magnífico! Bela é a Noruega!