Se há entretimentos fúteis, este é um deles; durante o confinamento, andei a reunir fotos de vários cafés onde estive e me lembrei de carregar no disparador. São muitos, desde Viena, claro, a Oxford, desde Valencia a Travemunde.
Todos conhecem já o aforismo de George Steiner: segundo ele a Europa seria identificada, e distinta do resto do mundo, pelos cafés. Eu diria os cafés e as livrarias, desde os livros copiados à mão nas abadias aos que a imprensa produziu e distribuiu em larga escala. Mas os cafés enquanto instituição de cultura - lugar onde se conversa, discute, conspira, lê e ouve música sentado a uma mesa e frente a uma chávena fumegante, são sítio único.
Não é esse tipo de frequência que eu pratico: sendo um viajante, o café é lugar de descanso, das pernas e do fôlego, e de reconforto - do calor, do frio ou da sede. Muitas vezes ainda sabe bem folhear o jornal. Estes que vou listar foram cafés de férias, breves e passageiros, que por alguma razão mereceram a foto. Muitos mais lembro mas sem imagem para aqui publicar; não tenho, sfortunatamente, nenhum de Itália !
No Falstaff de Bruxelas estive em 1994. Era um dos sítios mais simpáticos da cidade, as refeições muito razoáveis e o espresso excelente (e caro, para quem cambiava escudos).
Todo o espaço era em madeira de época, mas a grande janela circular Arte Nova é que marcava o Falstaff. Foi também aqui que comecei a apreciar o famoso "pain aux amandes", biscoito belga que acompanha o café na perfeição.
Outro de que guardo boas recordações é o Charlie's de Portobello, em Londres.
Além de servir num pátio para fumadores, o que era já raro na cidade, tinha um café duplo excelente, quentinho, naqueles dias frios e húmidos típicos de Londres. Um paraíso.
Nem parece Londres. E ali perto há uma casa com pastéis de nata.
O Tomaselli
Uma experiência única, ainda nos bons tempos, foi o luxuoso Tomaselli de Salzburgo, na praça Alter Markt, hoje modernizado e descaracterizado.
Na altura, em 1997, eram ainda empregadas de avental de renda que traziam uma caixa com tampa de abrir para escolher os bolos, e serviam o café !
A Tarte Mozart, imperdível e divinal
Claro que havia todos os jornais, mas em alemão.
Em Viena, o Café Central é um entre muitos incontornáveis.
Também neste não devemos passar sem guloseimas. Está muito tourist-oriented, mesmo assim ainda se sente a importância histórica e a patine.
Já que estamos em Viena, também recordo bem o Café Oper.
Estivemos na esplanada num dia muito quente. Se o café era bom e a chávena bonita, então o copo de água fresquinha soube pela vida.
Oxford, outra cidade mágica; The Grand Café:
Bonita fachada na High Street, a reflectir o bulício da cidade. Apesar do nome, serve mais como tearoom.
Quase só para turistas; mas a cafetaria e sala de chá Vaults and Garden, junto à University Church e de frente para à Boodleian, está sempre cheia e animada. Quem viu as séries de TV 'Morse' e sobretudo 'Lewis' sabe do que falo.
Vale pelo enquadramento.
Aqui sim, tomei chá.
Continuando no Reino Unido, em Brighton o meu café favorito era na The Mock Turtle, uma tearoom despretensiosa.
E era bem bom o café 'Bristot', neste caso acompanhado com uma bola de ... Brighton.
Particularmente requintado foi Turnbridge Wells, na esplanada do Turnbridge Wells Hotel.
Uma vila termal lindíssima.
De Lübeck, em 2015, demos um salto a Travemünde onde há uma Promenade pedonal a dar para águas do Báltico, a Vorderreihe.
Esplanadas porta com porta, mas na afamada Niederegger não se pode resistir às fatias... que pedem café duplo.
Ré, a ilha de Ré na costa atlântica francesa, um dos meus destinos mais felizes. Aí tomei muitos, muitos cafés, sempre tão bem servidos...
Este era na Crêperie L'Oceane de Ars-en-Ré. Um café saboroso e espesso, inestimável.
O Lys d'Or foi uma escolha tardia na Place Plumereau de Tours; por sorte, saiu muito bom:
Foi um Delta bem tirado.
Pouco mais a norte, em Dinan, o café era Cellini e ainda melhor.
O sítio chama-se La Tomate, um italiano.
Já em 2015, em Valencia, foi na esplanada do Moltto, Plaça de la Reina.
Este já não existe: o Lion D'Or na Plaza Mayor de Valladolid.
E termino em 2016 com um Lavazza tomado na extraordinária Bath. Quando saíamos a passear na cidade pela manhã, o Mad Hatter's (o personagem maluco de 'Alice') ficava logo ali ao virar a esquina, para o primeiro café.
Era uma casa de chá, claro; mas quando nos trouxeram estes inesperados espressos tão familiares...
A vista, logo adiante, era da famosa ponte sobre o Avon:
2 comentários:
Ah, não imagina a alegria que foi ler esta publicação! Concordo com o Mário, quando fala do papel dos cafés na nossa civilização.
E que falta fazem cafés assim aqui no burgo... Em Lisboa, neste momento, não conheço nem um. Durante anos o Kaffeehaus (café de inspiração vienense) passava, mas foi já estragado pelo turismo massificado e por um serviço cada vez pior. Estou tão farta de cafés feitos a régua e esquadro para as fotografias do Instagram!
Ena, dar alegria é muito bom, mesmo na net em distanciamento social total!
Pois é, os cafés em Portugal são mal tratados. Aqui a Norte na Galiza são protegidos com carinho, toda a patine é mantida, há sempre jornais no bengaleiro, presos com barra de madeira! Ourense é um primor de cafés.
No Terreiro do Paço e Restauradores só há plásticos para Instagram como a Inês diz. Sobra a Brasileira do Chiado, numa hora vazia (agora há poucos turistas...) e se aguentar a antipatia do serviço.
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