terça-feira, 14 de julho de 2020
A Estranha Nuvem Negra / The weird black Cloud
Um destes últimos fins de tarde de Julho, surgiu no horizonte (visto da minha varanda) uma estranha nuvem, que começou com uma forma de monstro marinho a levantar-se da linha do mar, com se emanasse das águas, invadindo aos poucos a tonalidade mais clara do céu como um borrão de tinta suja.
Parecia mau presságio, como uma pandemia a expandir-se, ou como um turbilhão de ódio a alastrar pelo mundo, ou como um desastre nuclear.
Subitamente o vento passou a soprar de sul, cada vez mais forte, e a nuvem estranha foi sofrendo uma deformação para norte.
Espectáculo raro, belo à sua maneira. O mar também escureceu e ariscou, ajudando ao clima de arrepio.
Felizmente esticou-se de mais; é bem feito, acabou dispersa num fiozinho estreito e inofensivo.
Por esta vez, venceu a luz e o azul, que se ia tornando alaranjado, cada vez mais rubro. E o dia acabou em cores quentes, como se em festa. Por esta vez.
These are the clouds about the fallen sun,
The majesty that shuts his burning eye:
The weak lay hand on what the strong has done,
Till that be tumbled that was lifted high
And discord follow upon unison,
And all things at one common level lie.
W. B. Yeats, 1916
Estas são nuvens sobre o sol em queda,
a majestade que fecha o olho ardente:
os fracos que pousam mão sobre o mais forte
até tombar de onde se elevou, desamparado,
e a discórdia se abater sobre o consenso,
e tudo estar caído ao nivel mais vulgar.
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1 comentário:
Bem apanhado e excelentemente comentado!
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