sexta-feira, 17 de julho de 2020

Olonkinbyen, confinamento ártico em Jan Mayen


Com estes 38º C e mais, o Ártico apetece.

Jan Mayen e o vulcão Beerenberg, por William Scoresby

Confinada, essa sim, está a equipa permanente no aldeamento-base de Olonkinbyen, na ilha vulcânica norueguesa de Jan Mayen, a 71° N de latitude. Uma das últimas fronteiras da Europa, a ilha ergue-se inesperadamente do Atlântico Norte, 950 km a oeste da Noruega e 600 km a norte da Islândia. É o lugar mais remoto de todo o hemisfério norte, muito acima do Círculo Polar ártico e a dias de viagem de qualquer cidade europeia. Só em Svalbard, outra ilha norueguesa, existem europeus mais a Norte.


Olonkinbyen é um aldeamento pré-fabricado, que a Noruega foi instalando na ilha desde 1959 para observações científicas. Aloja o pessoal que opera a estação rádio-meteorológica, as infraestruturas da energia e da pista de aterragem, e a equipa rotativa de investigadores, ao todo uns 18 membros, número que pode ir até ao dobro nos dois meses de Verão. É a população total da ilha, e da sua 'capital'.



Os 'habitantes' de Olonkinbyen (= cidade de Olonkin) vivem quase todo o ano encerrados num labirinto climatizado de pavilhões, salas e corredores. As escassas saídas (sempre dependentes da meteorologia) são para trabalho no terreno. Estuda-se o clima, geologia e oceanografia, vulcanologia e geotermia.


O complexo é constituído por contentores bem isolados e resistentes interligados entre si. O interior foi decorado tanto quanto possível como um hotel, mas com muitos laboratórios e salas de trabalho. Há salas especiais multimedia, um museu, refeitório, posto de correio, biblioteca e... piscina !


Aquecimento, água, música: aqui o melhor sítio é em casa.


Museu


Sala de jogos

Dia de sol na 'Playa del Alge', piscina aquecida e tudo.

Na ilha existem, desde o início do século XX, outras cabanas dispersas que em tempos foram de abrigo de caçadores, e um aglomerado, Puppebu, que pode ser consideardo a segunda 'povoação', mas é de ocupação temporária. Fica no lado oposto da ilha, numa baía de lava, e está ligada a Olonkinbyen por uma estrada de lama vulcânica batida, a Mayenveien, que serve também o aeródromo.

Será o único 'monumento' da ilha este poste na Mayenveien, onde se acumularam ao longo dos anos direcções e distâncias de sítios da Noruega de onde vieram sucessivos ocupantes da base.


´Maratona' na estrada de lava de Puppebu.

É também a zona da ilha mais acostável por pequenas embarcações.


Gamlemetten, junto às águas da Nordlaguna, era uma estação meteorológica norueguesa. Duas das construções foram restauradas, uma das quais, Frydenlund, para alojamento.


Depois do trabalho, uma pausa reconfortante a mais de 500 km a norte do Círculo Polar.

Algumas visitas vai havendo: um veleiro que passa em cruzeiro de Verão, um ou outro urso polar. A equipa também recuperou e mantém habitáveis algumas cabinas de pescadores, para alojamento de emergência. O turismo não está permitido , excepto algum desembarque restrito a Puppebu. Passam todo o inverno na ilha umas 14 pessoas, incluindo pessoal militar norueguês que opera a base aérea e o radar, mecânicos, cozinheiros e enferemeiro(a).

Um Hércules C 130 da Força Aérea opera o transporte de pessoal, abastecimentos e correio, oito vezes por ano. O correio pode vir muito atrasado.




A Ilha de Jan Mayen e o vulcão Beerenberg

Jan Mayen é parte da cadeia dorsal meso-atlântica, elevando-se do fundo oceânico 3000 m abaixo do nível do mar.  Jan Mayen pertence à Europa; estando como a Islândia sobre a crista oceânica central, os Jan Mayenianos de Olonkinbyen são europeus.


Um vulcão activo, o Beerenberg (2277 m), domina a pequena  e alongada ilha. Teve a mais recente erupção em 1985.


O topo de Beerenberg (= Monte do Urso) está permanentemente coberto por uma capa de gelo, que envia línguas glaciares em várias direcções. O resto da ilha é de baixa altitude, estreita e coberta de sedimentos vulcânicos.

Beerenberg, altitude 2277 m


Do cimo do vulcão escorrem vários glaciares que tapam as correntes de lava anteriores, precipitando-se desde a cratera até ao mar.



No resto da ilha a antiga lava está coberta com tapetes de musgos, líquenes e plantas rasteiras.


Muito pouca gente alguma vez aqui pousou, esta é quase terra virgem.

Engelskbukta, praia negra.

Sob a erosão a lava solidificada apresenta formas estranhas.

Há duas lagoas na base do vulcão; são as zonas mais verdejantes, que florescem no Verão (morugem, dente-de-leão). Gamlemetten fica junto à bonita Nordlaguna:

Nordlaguna no Verão. É uma importante fonte de água potável.

Mergulhão do Norte, ou do Ártico: a fauna avícola é imensamente variada.


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História:

A Ilha de Jan Mayen foi descoberta em 1607 por Henry Hudson, embora haja indícios do seu conhecimento anterior pelos dos Vikings. Foi o navegador neerlandês Joris Carolus que lhe atribuiu o nome actual. Ainda no início do século XVII, os Holandeses estabeleceram na ilha várias estações baleeiras, que chegaram a ocupar um milhar de pessoas na produção de óleo de baleia; foram abandonadas por volta de 1640 por extinção de baleias na zona. Por mais de 200 anos, Jan Mayen permaneceria desocupada.

Só no século XIX, em 1882, uma expedição austro-húngara (!!) construiu uma estação meteorológica e mapeou a ilha. Os noruegueses só apareceram cerca de 1900, a explorar os recifes; ainda restam dessa época algumas cabanas de pescadores.


Os noruegueses instalaram uma estação meteorológica do Instituto Nacional e conseguiram a anexação de toda a ilha entre 1922 e 1926, com a soberania estabelecida em 1929 por decreto real. Entretanto tinha começado a caça à raposa. Pelo menos treze cabanas de caçadores existiram na ilha, até à extinção da espécie.

Do Beerenberg conhecem-se 7 erupções entre 1732 e 1985. As mais recentes foram em 1970 ( a mais forte) , 1973 e 1985

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E estejam gratos, dei-vos viagem a um sítio deste planeta onde nunca hão de ir. Muito trabalho me deu, pois. Espero que o guia tenha agradado e ajudado a refrescar :)


2 comentários:

Fanático_Um disse...

Muito grato,sem dúvida. Muito interessante, como sempre, agradecendo dar-nos a conhecer um local remoto que nunca iremos visitar mas que é sempre um prazer fruir das descrições que nos oferece.

Mário R. Gonçalves disse...

Não precisa de agradecer, F_1, a minha gracinha era para os outros caladinhos que cá vêm , à volta de 30, nem bom dia dizem. Bom domingo, obrigado pela visita.