Ouvir as minhas novas Wharfedale é um consolo antiviral. De 2020 - ano Beethoven - sobraram várias excelentes gravações; ainda não ouvi todas e algumas merecem repetições, a disfrutar de melhor reprodução. São a prova de que nem tudo foi mau no ano vintevinte. Relato agora duas novas curiosidades, e uma coisa polémica.
Contemporâneos de Beethoven, Reinhard Goebel
Ainda relacionado com Herr Ludwig, este disco intitulado Beethoven´s world junta obras de Salieri, Hummel e o desconhecido Vorisek. Do primeiro, a suite 26 Variações sobre "La Folia di Spagna", é alegre mas cansativa; de Hummel, um injustamente secundarizado compositor, o majestoso e complexo Duplo Concerto para Violino, Piano e orquestra, com Reinhard Goebel a dirigir a sinfónica da WDR (Colónia). Há ressonâncias de Mozart, mas um Mozart que tivesse já aprendido com Beethoven... mas não, é Hummel no seu melhor, a escrever para dois instrumentos solistas e orquestra, o que não é coisa fácil, e a sair-se com mestria.
Pletnev e a orquestra russa
Surprendente, esta gravação ao estilo russo, como se Beethoven fosse Tchaikovsky. Nalgumas sinfonias resulta, noutras não. Pletnev afasta-se das interpretações historicistas, retoma a manipulação (ultra)romântica, mas com um gusto, uma energia impressionante, digamos ao estilo de um Solti nos seus dias mais tresloucados. Portanto, nada a ver com o que estamos habituados a ouvir.
Fosse a orquestra medíocre e o resultado era um desastre; mas nunca ouvi uma a orquestra russa tocar com tal rigor, com tal vigor, enfatisando as dinâmicas a um máximo muitas vezes discutível. A gravação é excelente, toda esta ênfase passa sem distorção. Gosto muito das 2ª, 4ª e 7ª. A interrogação na 5ª deve-se ao último andamento, realmente inaudível de tão erradas serem as opções de ritmo e dinâmicas, os fraseados aniquilados numa cacofonia estrepitosa. Pelo que li, a 3ª, 6ª, 8ª e 9ª são de fugir a sete pés, completamente arrasadas pela maluqueira de Pletnev.
Seja como for, uma lufada de ar. Se é fresco ou insalubre, depende dos gostos.
Que música vou deixar na despedida ? Não, não é Pletnev, é antes a WDR num excerto de Hummel, o andamento final do Duplo Concerto:
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