Não tenho nenhuma leitura recém-publicada, é tudo livros com meses ou anos. Só exceptuo os dois que já li e de que aqui falei, Another Time, Another Place de Victoria Crowe e Encre Sympathique de Modiano.
Contos. Farto de Tchekov, que está largamente sobrevalorizado, volto a um outro, subvalorizado, Alistair Maclean. The Lonely Sea junta alguns contos de marinheiros (marinha de guerra ou pescadores), sempre às voltas com os perigos do mar.
Por exemplo, They Sweep the Seas, um dos melhores contos, é a descrição do processo de varrimento do mar à procura de minas (minesweeping), depois da 1ª Grande Guerra, no Mar do Norte ao largo da Escócia. Duas traineiras saíam do porto - talvez Tarbert ? - diariamente pela manhãzinha, fosse qual fosse o estado do mar, e chegando à zona destinada para esse dia lançavam um cabo de aço de uma para a outra, com pesos devidamente colocados para fazer arrastar o cabo abaixo da superfície das águas; todas estas operações exigiam uma mestria extrema na manobra das traineiras que só os melhores dominavam: uma precisão de centímetros, estivesse mar calmo ou agitado !
Havia acidentes fatais - se a mina explodia perto de uma das traineiras, se o cabo partia e no ressalto cortava algum tripulante - e sucessos festejados, se a mina era desactivada. Cada caso de sucesso ficava registado com uma marca na madeira, um V. MacLean conta estes detalhes da vida marítima no início do século XX com muita vivacidade e humor, num inglês que dá gosto ler.
Para relaxar, BD: mandei vir os dois volumes de Faut pas prendre les cons pour des gens, 'Não se pode tomar os parvos por pessoas', humor sarcástico francês numa edição de Fluide Glacial, a bater sobretudo nos novos códigos morais do inicio deste século.
Um exemplo: a máquina self-servive para obter diplomas:
Quanto ao Anomalia, L'Anomalie, de Patrick Teller, ao contrário do que dizem o Expresso, o número de vendas e um prémio imerecido, é um livro completamente idiota, mal escrito, que pirateia ideias já muito repetidas e melhor exploradas da ficção científica numa prosa vulgar submetida aos códigos mais vulgares dos tempos que correm, tudo num pacote multiqualquercoisa e inclusivo, aborrecido. Não há um personagem que seja com consistência, tudo esboços de marionetes, não admira que se fale de duplos; e o enredo mesmo sendo básico está baralhado sem estilo nem coerência. Um flop.
Estou ainda à espera do novo Ishiguro, Klara e o Sol.
Filmes em DVD: uma escolha bastante óbvia é rever todo, ou quase, o Eric Rohmer, reeditado em HD; Genou de Claire, Pauline à la plage, L'amour l'après-midi (malandreco) e os quatro Contes, em particular o lindíssimo Conte d'été.
São filmes de Verão por excelência, quentes, tolos (silly season ) e finalmente melancólicos, mas com personagens e diálogos de antologia. Que saudades dos tempos em que 'tudo' era permitido mas havia decência e contenção.