domingo, 12 de setembro de 2021

"I've seen things you people wouldn't believe" - as minhas Tanhäuser Gates


I've seen things you people wouldn't believe...I watched C-beams glitter in the dark near the Tanhäuser Gate ....All those moments will be lost in time, like tears in rain.
- dizia o andróide Roy, perto do fim, no filme Blade Runner.

Estes que se seguem, entre outros, são instantes improváveis em que eu "estava lá", e que fizeram a minha vida subitamente mais viva. Não feliz, só isso, mais viva. São as 'Tanhäuser Gates' que pude ter:

- Estive em Grosvenor Park, Chester, quando a luz do fim da manhã de súbito se fez noite, era o eclipse solar de 99. Foi tudo estranho, o silêncio que caiu, um ventinho de mau agouro, as aves a pousar num ápice sobre as ramagens, os verdes ficando cinzentos. Uma irreal luminosidade, baça, como a meia noite em latitude nórdica. Sem surpresa mas com a mesma brusquidão, o dia renasceu de luz e cor !

- Estive em Ravenna no mausoléu de Galla Placídia, em solidão, dois milénios de História, uma geografia que vem desde Constantinopla; sob a abóbada azul rendilhada em dourados, sentia uma antiga multidão que pairava no silêncio carregado, e tudo só para mim.

- Num Verão já longínquo, depois de uma hora de caminhada entre densos silvados e arbustos por um atalho da estrada das eólicas, mergulhei e nadei despido numa lagoa secreta do Lindoso. O meu momento de epifania OM hippie, e um gosto físico raro.

- Na costa inglesa perto de Whitby, depois de prolongados zig-zags e enganos de estrada através dos campos, com o sol alto e o calor a apertar, fui dar em Sandsend a um hotelzito, sobranceiro ao mar, onde me serviram o melhor cocktail de gambas do Universo, com meias fatias de ananás, uma maionese sublime e uma janela de ampla vista. Manjar de deuses, se algum tive.

- Uma quente noite de Lua Nova no Verão, subimos ao terraço da nossa Casa do Côro em Marialva, as estrelas povoavam o céu e era como estar na varanda de uma nave a vogar pela galáxia. 

- Também uma noite mas a tremer ao vento frio estive em Paradela de Montalegre, numa das mais belas e desertas paisagens de Portugal, para fazer uma directa à espera das Perseidas, e foram muitas - mas nada se comparava à visão da Via Láctea na limpidez daqueles ares. 


- Desci à praia de Salgueiros a molhar os pés numa manhã de maré vaza, o mar sereno como um lago, e vi-me rodeado de duas, cinco, muitas estrelas do mar, um cardume de estrelas do mar, entre os reflexos do sol que bailavam na água cristalina e se projectavam nas areias do fundo, como um filme, como um sonho.

- Ouvi o Requiem de Berlioz ecoando na solene majestade da Catedral que Wren deu a Londres, dirigia Colin Davis; eram vários os génios em presença... avassalador.
- Corri, corri estradas, por montes e planos, rectas e curvas, mas cheguei ao Vale Dourado; entre as faias e as bétulas da Forest of Dean abriu-se a mais bela paisagem com o rio Wye entre colinas verdes.



- Uma tarde, em Rapperswil, fui rodeado pela multifonia do fenomenal repicar de sinos das duas torres de St. Johann, como se os deuses todos da história estivessem a puxar as cordas lá de cima atroando os céus.






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