De As Cidades Invisíveis
Italo Calvino
Se ao tocar terra em Trude não tivesse lido o nome da cidade escrito em grandes letras, julgaria que tinha chegado ao mesmo aeroporto de onde partira. Os subúrbios que me fizeram atravessar não eram diferentes desses outros, com a mesmas casas amareladas e esverdeadas. Seguindo as mesmas setas dava-se a volta aos mesmos canteiros das mesmas praças. As ruas do centro mostravam mercadorias embalagens dísticos que em nada eram diferentes. Era a primeira vez que vinha a Trude, mas já conhecia a pousada onde me calhou ficar; já tinha ouvido e dito os meus diálogos com compradores e vendedores de sucata; outros dias iguais a esse tinham terminado a olhar através dos mesmos copos os mesmos umbigos que ondulavam. - Porquê vir a Trude , perguntava. E já queria voltar a partir. - Pode retomar o voo quando quiser, - disseram-me - mas chegará a mais outra Trude, igual ponto por ponto, o mundo está coberto por uma única Trude que não começa nem acaba, muda só o nome do aeroporto.
As cidades contínuas. 2.
-------------------------------------------------
Ao fim de alguns voos e alguns aeroportos, é essa a sensação que cresce. Apetece-me a não-cidade. Mas então a angústia de ser pequeno, indefeso, irrelevante, zero, na vasta e agressiva Natureza, pode fazer-me correr de volta à confiável Trude.
Sem comentários:
Enviar um comentário