Mais uma vez aposto que vou mostrar sítios onde muito poucos leitores foram, nem sequer ouviram falar, nem fazem ideia onde ficam. Memel chama-se agora Klaipėda, e parecem nomes de sítios no planeta αΩ-06 da galáxia Markarian 421; mas Klaipėda é a genuína designação lituana, com uma pinta no ė, da cidade que começou integrada na Alemanha e foi mudando de dono durante séculos - desde a época hanseática até ao fim da 2ª Grande Guerra - com o nome de Memel (de Memelsburg). Está na costa da Lituânia, frente à Gotlândia.
Pärnu fica mais a norte, na Estónia, é um porto do Golfo de Riga e é outra lindeza hanseática, o extremo final da Liga no Báltico oriental. Teve a sua época de glória entre os séculos XIII e XVIII, depois um renascimento no entre-guerras, mas sofreu grande devastação com as bombas dos aliados.
Pärnu
De seu nome antigo Pernau, é uma cidade portuária no estuário do rio Pärnu; fundada em 1251, não tardou a entrar para a Liga Hanseática e estabelecer negócio previlegiado com a Holanda. Cresceu em importância estratégica no comércio por mar até ao século XVII, Actualmente com cerca de 40 000 habitantes, é a principal cidade de veraneio da Estónia, tendo rio e mar, passeio marítimo, praias com dunas, um Hotel e um Café de praia cuja bela arquitectura do séc. XX os tornaram património protegido. O que não foi protegido foi o centro antigo, em grande parte destruído na 2ª Grande Guerra.
Casa do Cidadão, de 1740 - uma espécie de museu da cidade, na rua Nikolai.
Rua Pühavaimu, a via principal do burgo antigo.
'Seegi Maja', antiga casa de enxamel anterior a 1658, fundada para abrigo dos pobres, é agora alojamento e restaurante.
Testemunho de tempos áureos é o Café Grand, na rua Kuninga, em Arte Nova, digno de uma capital centro-europeia:
Construído em 1937, pouco antes da guerra; desde os anos 30 que a estação balnear estava na moda entre os russos e escandinavos ricos. Em 2016 foi amplamente renovado.
Parece apelativo.
Klaipėda
Foi fundada em 1252 por cavaleiros da Ordem Teutónica e cruzados de Lübeck, com o nome de Memel (Memelburg). Mas a designação actual (Caloypede e depois Cleupeda) já estava em uso desde 1413. Memel refere-se às margens do rio, Cleupeda ao terreno pantanoso; pois Klaipėda está também na foz de um rio, o Danė.
A ligação a Lübeck permaneceu quando a cidade foi integrada no reino da Polónia, depois no reino da Suécia, mas sempre vinculada à Liga Hanseática. A história de Klaipėda é uma tumultuosa sucessão de pertenças, depois da Suécia à Alemanha, à Rússia, à Lituânia... hoje, o porto marítimo mantém a vitalidade de outras eras - no Báltico oriental, é o principal porto livre de gelos no Inverno -, e a cidade ganhou maior dimensão, com quase 200 000 habitantes e Universidade. O porto é talvez a principal fonte financeira da Lituânia.
O antigo moínho de arroz (séc. XIII) foi convertido no Hotel "Old Mill", de arquitectura moderna.
A cidade antiga, na margem sul, mantém várias casas de enxamel típicas do centro da Europa, datadas de entre os séculos XIII e XVIII, assim como a trama das ruas em recticulado ortogonal.
Residência dos Fachverkinis, séc XVIII.
Na rua Aukštoji há mais casario do séc. XVIII/XIX:
Na outra margem, a cidade moderna começou na rua Liepų com o edifício vistoso dos Correios, acabado em 1893:
Combina três estilos, o neo-gótico, neo-clássico e a arte nova, reflectindo diversas fases de construção e renovações, mas no conjunto imita a arquitectura austro-húngara. Os carrilhões dão um concerto aos fins de semana.
Ao lado, na mesma rua Liepų, outro edifício Arte Nova, de 1867:
Voltando ao núcleo histórico, ali não há bustos soviéticos que lembrem a era de pertença à URSS; na praça principal frente ao Teatro, a estátua no pedestal é a de Taravos Anikė, ou Ännchen von Tharau, a heroína do poeta Simon Dach nascido em Memel.
O teste definitivo são os cafés; o cais fluvial do Danė é agora uma zona de lazer, onde não faltam esplanadas. O mais antigo café é o Vero.
Pronto. Estou convencido. Ia lá se pudesse.
O veleiro Meridianas, navio-escola construído na Finlândia, é um dos símbolos de Klaipėda. Está atracado no cais fluvial, junto ao café.
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Tenho sensações mistas com estas cidadezinhas limpas, coloridas, silenciosas, amáveis, com tudo à mão - um café, uma biblioteca, um quiosque de livros e jornais - mas que por outro lado permitem dedicar uma vida ao interior da nossa casa, ao seu jardim, a passeios na beira rio e pelos bosques, a praia todo o ano. Ainda são a síntese mais perfeita do habitat humano com a Natureza.
Apetece-me muito passar lá uma temporada.
1 comentário:
Eu também passaria lá uma temporada, sem dúvida. Obrigado Mário por nos dar a conhecer estes locais que, provavelmente, nunca visitarei (apenas nestas suas fabulosas viagens para nós).
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