sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Klaipėda e Pärnu: duas cidades hanseáticas que me faltava conhecer


Mais uma vez aposto que vou mostrar sítios onde muito poucos leitores foram, nem sequer ouviram falar, nem fazem ideia onde ficam. Memel chama-se agora Klaipėda, e parecem nomes de sítios no planeta αΩ-06 da galáxia Markarian 421; mas Klaipėda é a genuína designação lituana, com uma pinta no ė, da cidade que começou integrada na Alemanha e foi mudando de dono durante séculos - desde a época hanseática até ao fim da 2ª Grande Guerra - com o nome de Memel (de Memelsburg). Está na costa da Lituânia, frente à Gotlândia.


Pärnu fica mais a norte, na Estónia, é um porto do Golfo de Riga e é outra lindeza hanseática, o extremo final da Liga no Báltico oriental. Teve a sua época de glória entre os séculos XIII e XVIII, depois um renascimento no entre-guerras, mas sofreu grande devastação com as bombas dos aliados. 

A cidade fica numa península formada pela foz do Pärnu no Golfo de Riga.

Pärnu 

De seu nome antigo Pernau, é uma cidade portuária no estuário do rio Pärnu; fundada em 1251, não tardou a entrar para a Liga Hanseática e estabelecer negócio previlegiado com a Holanda. Cresceu em importância estratégica no comércio por mar até ao século XVII,  Actualmente com cerca de 40 000 habitantes, é a principal cidade de veraneio da Estónia, tendo rio e mar, passeio marítimo, praias com dunas, um Hotel e um Café de praia cuja bela arquitectura do séc. XX os tornaram património protegido. O que não foi protegido foi o centro antigo, em grande parte destruído na 2ª Grande Guerra.

Rua Kuninga, e a igreja de S. Nicolau.

Casa do Cidadão, de 1740 - uma espécie de museu da cidade, na rua Nikolai.

Rua Pühavaimu, a via principal do burgo antigo.

'Seegi Maja', antiga casa de enxamel anterior a 1658, fundada para abrigo dos pobres, é agora alojamento e restaurante.

Testemunho de tempos áureos é o Café Grand, na rua Kuninga, em Arte Nova, digno de uma capital centro-europeia:


Data de 1926, entre-guerras.




O Rannahotell


Construído em 1937, pouco antes da guerra; desde os anos 30 que a estação balnear estava na moda entre os russos e escandinavos ricos. Em 2016 foi amplamente renovado.


O Rannakohvik

Ao lado, uma café de praia de arquitectura também elegante, não invasiva, de um tempo em que isso contava, os anos felizes entre guerras.


Parece apelativo.

Klaipėda

Foi fundada em 1252 por cavaleiros da Ordem Teutónica e cruzados de Lübeck, com o nome de Memel (Memelburg). Mas a designação actual (Caloypede e depois Cleupeda) já estava em uso desde 1413. Memel refere-se às margens do rio, Cleupeda ao terreno pantanoso; pois Klaipėda está também na foz de um rio, o Danė.


A ligação a Lübeck permaneceu quando a cidade foi integrada no reino da Polónia, depois no reino da Suécia, mas sempre vinculada à Liga Hanseática. A história de Klaipėda é uma tumultuosa sucessão de pertenças, depois da Suécia à Alemanha, à Rússia, à Lituânia... hoje, o porto marítimo mantém a vitalidade de outras eras - no Báltico oriental, é o principal porto livre de gelos no Inverno -, e a cidade ganhou maior dimensão, com quase 200 000 habitantes e Universidade. O porto é talvez a principal fonte financeira da Lituânia.


O antigo moínho de arroz (séc. XIII) foi convertido no Hotel "Old Mill", de arquitectura moderna.


A cidade antiga, na margem sul,  mantém várias casas de enxamel típicas do centro da Europa, datadas de entre os séculos XIII e XVIII, assim como a trama das ruas em recticulado ortogonal.
 
Residência dos Fachverkinis, séc XVIII.


Na rua Aukštoji há mais casario do séc. XVIII/XIX:


Na outra margem, a cidade moderna começou na rua Liepų com o edifício vistoso dos Correios, acabado em 1893:


Combina três estilos, o neo-gótico, neo-clássico e a arte nova, reflectindo diversas fases de construção e renovações, mas no conjunto imita a arquitectura austro-húngara. Os carrilhões dão um concerto aos fins de semana.




Ao lado, na mesma rua Liepų, outro edifício Arte Nova, de 1867:


Voltando ao núcleo histórico, ali não há bustos soviéticos que lembrem a era de pertença à URSS; na praça principal frente ao Teatro, a estátua no pedestal é a de Taravos Anikė, ou Ännchen von Tharau, a heroína do poeta Simon Dach nascido em Memel.



O teste definitivo são os cafés; o cais fluvial do Danė é agora uma zona de lazer, onde não faltam esplanadas. O mais antigo café é o Vero.



Pronto. Estou convencido. Ia lá se pudesse.

O veleiro Meridianas, navio-escola construído na Finlândia, é um dos símbolos de Klaipėda. Está atracado no cais fluvial, junto ao café.

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Tenho sensações mistas com estas cidadezinhas limpas, coloridas, silenciosas, amáveis, com tudo à mão - um café, uma biblioteca, um quiosque de livros e jornais - mas que por outro lado permitem dedicar uma vida ao interior da nossa casa, ao seu jardim, a passeios na beira rio e pelos bosques, a praia todo o ano. Ainda são a síntese mais perfeita do habitat humano com a Natureza.

Apetece-me muito passar lá uma temporada.

Ännchen von Tharau, na bela voz de Peter Schreier



1 comentário:

Fanático_Um disse...

Eu também passaria lá uma temporada, sem dúvida. Obrigado Mário por nos dar a conhecer estes locais que, provavelmente, nunca visitarei (apenas nestas suas fabulosas viagens para nós).