sábado, 18 de setembro de 2021

Ozymandias, de Percy Shelley - também declamado e ... traduzido.


Toda a gente conhece este soneto, e mil e uma traduções dele, a maioria delas muito desagradáveis, penso eu. Por isso resolvi fazer a minha.

É um poema do fim, de julgamento final, da História, do Homem, da Vida. Todos somos Ozymandias*, reis de alguma coisa, e deixamos só areia atrás de nós. Mas poucos sabemos dizê-lo em poesia assim, como Percy Shelley. 

Por outro lado, ainda lá estão as pernas e o rosto em pedra, já é alguma coisa, ao menos um testemunho. Não vai longe o nosso poder e glória, mas pode perdurar, e perdura, uma memória que o Tempo escolhe preservar. É pelo menos a minha leitura. Efémero é o que em vida alcançamos, mas não tanto as pegadas que deixamos. 

Ozymandias

I met a traveller from an antique land
Who said - “Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them, on the sand,
Half sunk, a shattered visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp'd on these lifeless things,
The hand that mock'd them, and the heart that fed.

And on the pedestal, these words appear:
"My name is Ozymandias, King of Kings:
Look on my Works, ye Mighty, and despair!"
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal Wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away."

                                                                           Percy B. Shelley

Dito por John Gielgud:

              

                    Encontrei um viajante de uma terra antiga
                    Que disse: - Duas imensas pernas sem tronco, em pedra,
                    Se erguem no deserto... Perto delas, sobre a areia
                    Meio enterrado, jaz um rosto em pedaços, cujo sobrolho
                    E enrugado lábio e esgar de gélido comando
                    Dizem que o escultor soube ler as suas paixões,
                    Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,
                    A mão que escarneceu e o coração que alimentou.

                    E no pedestal aparecem estas palavras:
                    "Meu nome é Ozymandias, Rei dos Reis:
                    Contemplai as minhas obras, ó poderosos, e desesperai!"
                    Nada mais resta: em torno da ruína
                    Daquele destroço colossal, num vazio sem fim,
                    As areias nuas estendem-se até ao longe.


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o nome é uma adaptação para grego do título de Ramsés II, curiosamente o faraó mais celebrado e que mais herança deixou - não nas areias, mas na História e nos museus.

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