quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cortés, herói ou bandido ?

Hernán Cortés de Monroy y Pizarro (1485 – 1547) foi o conquistador espanhol que chefiou a expedição que arruinou o império Azteca e entregou a maior parte das terras mexicanas ao Rei de Castela, no séc XVI.

Em 1518 Velázquez, governador de Hispaniola (Cuba), atrapalhado com falta de terras cultiváveis e mão de obra escrava, entregou a Cortés o comando de uma expedição para explorar, negociar e controlar o interior do México para a sua colonização.

Cortés tinha 19 anos , e deixara a Espanha após um breve período de estudo das Leis. A sua ambição e forte personalidade causaram desconfiança a Velásquez, que acabou por o retirar da missão, mas Cortés ignorou as ordens e, com 11 barcos, 500 homens, 13 cavalos e alguns canhões, desembarcou na Península de Yucatan. Mas não tencionava apenas explorar, negociar e libertar alguns prisioneiros cristãos: ambicionava a conquista do México.

Avançou para o interior e descobriu Tenochtitlan, capital do império Azteca. Apoiado por vários povos indígenas aliados, que forneciam guias e intérpretes, a expedição duraria 3 meses ao longo de 300 difíceis quilómetros.

O império Azteca era relativamente jovem - datava do séc XIV - e encontrava-se numa fase próspera e de franca expansão. Tenochtitlán era um esplêndido complexo de construções, templos, lagos, canais, um grande centro de civilização.

A população da cidade começou por se iludir, julgando Cortés descendente da dividade Quetzalcoatlin, de pele branca. A profecia previa o regresso de Quetzalcoatlin para reclamar a sua autoridade sobre os Aztecas. Moctezuma, o imperador, acolheu Cortés como um deus, com grandes oferendas aos espanhóis.

Mas, a pretexto de barbaridades cometidas pelos selvagens, Cortés aprisionou Moctezuma; e depois de um período confuso de escaramuças, os espanhóis finalmente cercaram Tenochtitlán em 1521 e invadiram a cidade, destruindo tudo e todos de tal maneira que dela pouco restou senão as escassas marcas que os turistas hoje visitam.

Os tesouros dos Aztecas vieram para Espanha, e Cortés foi recebido como herói, nomeado governor da nova colónia, mas acabou por cair em desgraça, e voltou a Espanha para morrer pouco depois.

A acção de Cortés foi a maior contribuição de um só indivíduo em terras e tesouros para a coroa espanhola.

Assim se escreveu uma daquelas irreversíveis páginas da História, que transformaria para sempre a América do Sul numa imitação pobre da Europa mediterrânica, por vezes até com grande dignidade (Buenos Aires, Borges...), outras vezes numa triste palhaçada de civilização ocidental. Fica a dúvida, contudo: entregue a si própria, não se teria tornado antes numa outra África paupérrima, tribal e corrupta? Só tenho uma certeza: os europeus podiam ter-se comportado bem melhor, tanto mais que apregoavam belos valores cristãos, e promovido muito mais riqueza e desenvolvimento, em vez de se dedicaram à roubalheira e à escravatura. Não será isto tão vergonhoso como Auschwitz ou o Gulag ?

5 comentários:

Gi disse...

Uma diferença: naquela época a escravatura e a pilhagem eram consideradas normais (os povos do México faziam o mesmo), ao passo que no século XX o genocídio já não era normal.
Julgo eu.

Mário R. Gonçalves disse...

Não sei se a ética e os princípios de decência têm assim uma época de "normalidade" tão marcada. Tendo até a acreditar que Cortês tinha mais consciência da patifaria que estava a praticar do que alguns sequazes de Estaline, por exemplo. Mas é só uma fézada.

Xico disse...

Desconhecia que Cortez era tão jovem. A um jovem desculpa-se muita coisa. Se tinha consciência da patifaria que fazia não sei. O que sei, e isso é que merece reflexão, é que hoje só não se fazem patifarias daquelas, porque há muita gente a ver e há jornais. Não porque sejamos mais decentes. Guevara era um patife e há gente que o endeusa.

Mário R. Gonçalves disse...

Xico,

obrigado pelo comentário.

Não acha que se há jornais e muita gente a ver,isso se deve a que de facto estamos mais decentes hoje ? E depois podíamos ficar indiferentes ao que lemos e ouvimos, mas não ficamos. Não duvido que há algum progresso nisto, apesar de toda a selvajaria que ainda possa continuar.

E se o Che é admirado por alguns, não é também porque faltou (e falta) informação directa e verdadeira sobre o que ele fez ? Porque justamente os que deviam informar criticamente são os que alinham no endeusamento ?

Xico disse...

do site: http://luis.afonso.googlepages.com/lendanegra:verdadesementiras
Li este excerto:
Não há duvida de que a evangelização e 0 conceito de império foram utilizados para escravizar os povos indígenas, mas é também verdade que os monarcas espanhóis promoveram a protecção dos aborígenes, tarefa de que incumbiram as ordens religiosas e que não teve eco nas colonizações levadas a cabo por outros países A0 gesto evangelizador, a Coroa espanhola acrescentou uma obra de integração cultural no Novo Mundo, reflectida na construção de cidades extremamente bem organizadas em que havia, além de catedrais e igrejas, escolas e centros de ensino. Em 1551, os dominicanos fundaram em Lima, actual capital do Peru, por decreto de Carlos V, a Universidade de San Marcos, a mais antiga da América.
O escritor argentino Ernesto Sábato afirma que a Lenda Negra “foi iniciada pelas nações que pretendiam substituir 0 império mais poderoso da época, entre as quais a Inglaterra, que cometeu no mundo inteiro atrocidades tão graves como as espanholas, embora agravadas pelo seu clássico racismo”. Sabato considera que, se a Lenda Negra fosse uma verdade absoluta, os descendentes dos povos indígenas subjugados deveriam manter um ressentimento atávico contra a Espanha, “e não só isso não acontece, como dois dos maiores poetas de língua castelhana de todos os tem- pos, Ruben Dario, da Nicarágua, e César Vallejo, do Peru, eram mestiços e cantaram a Espanha em poemas imortais”, sublinha o escritor argentino.
Uma opinião semelhante foi defendida pelo escritor mexicano e Prémio Nobel da Literatura de 1990, Octávio Paz: “Não se pode pensar em termos da Lenda Negra. E evidente que a descoberta da América e a sua conquista estiveram repletas de horrores, mas também de gestas gloriosas que não podemos deixar de lado, e creio, sem receio de me enganar, que aqueles que a definem como a comemoração do genocídio dos povos americanos cometem um erro grave, porque é historica- mente falso e a-histórico por definição”