quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

E nem foi nada mau!


Bem bom, este Rigoletto moldavo, tendo em conta as expectativas. E deu-me uma tristeza imensa constatar como a Moldávia tem um teatro de ópera tão digno e capaz, e nós, hhhaammm.

De trajes ( Irina Press), um luxo deslumbrante, mantos, sedas, bordados, bonito colorido, típico bom gosto aristocrático da Europa de leste.
De cenário, pouca variação (base fixa) de uma estrutura bem pensada, permitindo vários planos de acção, mas muito vista. Iluminação vulgar. Movimentação anémica.

A orquestra (dir. Giovan Battista d'Asta ) , uma surpresa enorme : tocaram muito bem, certinhos, afinados, com panache verdiano q.b., belo som de cordas e sopros; sempre em tempo certo com o canto, não houve nenhum deslize notável. Tomara nós.

As vozes: não podia ser tudo tão bom, claro, há coisas que nem o dinheiro paga...

... mas mas mas: o barítono Vladimir Dragos esteve muito bem, um vozeirão bem controlado, fundo e expressivo, o melhor em palco; o coro, fabuloso - os coros verdianos foram todos magistralmente interpretados (e o Rigoletto tem alguns dos melhores).
O Duque de Mântua / Nicolau Bantea e a Gilda /Maria Tonina: vozes tíbias, fraquinhas, de garganta, mas capazes de cantar as notas (quase) todas. A Gilda disfarçava fraquezas com belos pianíssimos em vez dos agudos mais arrojados; o Duque, comia sílabas, esforçava-se visivelmente muito para "lá chegar", mas nunca meteu água. Foi, digamos digno na sua mediocridade. O "La Dona é mobile" nem saiu nada mau, teve direito a 1 bravo e aplausos para o Si natural final.

Em geral, uma noite bem passada sonora e visualmente, nunca aborreceu, pelo contrário, um consolo para quem aprecia ópera. A coerência estética / narrativa / musical da produção dá a perceber muito trabalho e um conceito clássico, conservador, que só não seria do meu gosto se resvalasse para o kitsch. Não resvalou.

O melhor: foi intenso e comovente o dueto Rigoletto / Gilda no 2º acto, Tutte le feste al tempio.

O pior: falhado mesmo, só o célebre quarteto do 3º acto; pena, pois é esta a magnum opus que Verdi deixou nesta ópera.

8 comentários:

Gi disse...

Ora antes isso.
Não ter expectativas muito altas permite boas surpresas. O problema no S. Carlos é que temos que as descer *muito*.

Pena o quarteto, mas parece-me que para ser bem conseguido só mesmo conjugando cantores, orquestra e maestro de primeira classe.

Mário R. Gonçalves disse...

Muito bem dito, Gi.

Frase da época:

"é mau, mas podia ter sido bem pior".

:(

Paulo disse...

Quando ficamos contentes porque o que vimos não foi mau (ou muito mau) já é sintomático do mal que as coisas andam.

Anónimo disse...

Comentários muito negativos no blog. Eu concordo com a critica, mas penso que até nem foi mau é um exagero. É certo que não foi um espectáculo fabuloso, mas há que admitir que no geral foi um bom espectáculo, bem orquestrado, e com bons executantes. Claro exagero na mediocridade do tenor. Era um tenor que tinha consciência das suas limitações e jogou sempre bem com isso. A voz era audível mesmo para quem estava nos lugares mais recuados. Verdade que era uma voz que não transmitia a virilidade necessária para convencer o público que o Duca é um sociopata que usa todas as artimanhas para satisfazer os seus desejos. A grande prova das suas limitações foi no "Parmi veder le lagrime", provavelmente a ária mais difil do ponto de vista técnico para o tenor, em que ele aldrabou em grande. Não esperava que ele conseguisse fazer o final do "Posente amore", pois só me lembro de Kraus e Bonisolli conseguirem fazê-lo ao vivo.
No global, foi um espectáculo de 13/20.

Anónimo disse...

Só um gostinho. Uma das melhores versões dos quartetos desta ópera. Não se dão prémios a quem adivinhar o tenor :P
http://listen.grooveshark.com/s/Bella+Figlia+Dell+amore+rigoletto+/3aW6Nq?src=5

Mário R. Gonçalves disse...

Aldrabou em grande, sim, por essas e por outras o achei medíocre. Mas sou capaz de concordar com o 13/20. Uma bela produção, que ficaria muito bem no S. Carlos.

Um dos meus Rigolettos preferidos é o de Ponnelle, dirigido por Chailly, com Pavarotti justamente e a grande Gruberova. Não sei se é desse o quarteto com que me brindou...

Anónimo disse...

Penso que a versão a que se refere é um DVD da Deutsche Grammophon, se não estou em erro. Eu até tenho esse DVD. Ponelle foi único. A sua produção de cenários contínua ioigualávl e é referência no La Scala. Esse quarteto é uma gravação ao vivo de um jovem Pavarotti (como se nota pela voz). Apesar de no grooveshark não vir mais informações sobre a faixa (assim como no amazon), creio que essa performance se não estou em erro, é a performance que ainda hoje é considerada uma das versões "definitivas" desta ópera. Foi gravada em Roma, entre 1961 e 1966 com o seguinte casting:
Il Duca: Pavarotti
Gilda: Renata Scotto
Rigoletto: O saudos barítono grego Kostas Paskalis.

Maestro: Carlo Maria Giulini

Eu num post anterior tinha dito que apenas Kraus e Bonisolli conseguiam fazer a parte final do <> e do <> ao vivo, mas o Pavarotti dos anos 60 também o fez várias vezes ao vivo, como é comprovado em álbuns de live recordings. A diferença é que o Pavarotti usava Mixed Voice para atingir a nota, dando a sensação de falsetto, enquanto que Kraus e Bonisolli(apesar de este ser um tenor dramático) conseguiam fazê-lo em full voice.

Anónimo disse...

No comentário anterior algum texto foi "comido" pelo código BCC. Os <<>> contêm o texto Posente amore e Addio, Addio.