Há sempe uma sensação de espanto quando se está perante obra humana tão antiga, tão invulgar, ao mesmo tempo humilde e grandiosa, ascética e primitiva, contudo universal. Tanto mais que a localização da cidade monástica de Glendalough é soberba - um vale percorrido por riachos, alimentados por dois lagos mais acima, tudo escondido por um cerco de montes verdejantes.
Fundada por Saint Kelvin (~498 - 618 ), santo padroeiro de Dublin, contava no auge com 7 igrejas e era o destino da mais importante peregrinação da ilha. Com uma população de 500 a 1000 pessoas, que além dos clérigos incluia vários trabalhadores do mosteiro - pastores, tecelãos, pedreiros, ceifeiros - constitia uma autêntica cidade no deserto, pois mais nada havia muitos quilómetros à volta, pelos montes de Wicklow.
Esta localização, invisível da costa, protegeu algum tempo o mosteiro dos ataques frequentes dos Vikings; mas estes acabaram por o encontrar e fizeram sucessivas incursões e razias. De tal modo que, várias vezes arrasado e reconstruído, vemos hoje edificações em pedra tremendamente sólidas, quase sem janelas, torres circulares muito altas e resistentes. A mais alta (30 m) tem a porta de entrada a 3,5 metros de altura do chão!
As torres circulares tinham várias funções - sinalizar o local à distância aos peregrinos, servir de torres sineiras, armazéns de segurança, refúgio em caso de ataque.
Além da torre, o edifício mais bem conservado é a igreja de St. Kelvin, conhecida como a "cozinha". Tem um pesado telhado em pedras sobrepostas incrivelmente inclinado, apoiado interiormente numa abóbada semicircular. Impenetrável.
Depois da morte de St Kevin, o local foi-se tornando num impressionante conjunto monástico. Atingiu o auge pelo fim do séc. VIII, adquirindo um considerável poder económico, que lhe permitia resisitir às grandes fomes da época. Devia ter substanciais reservas de alimentos e um razoável tesouro .
O declínio veio com a chegada dos Normandos. Toda a actividade eclesiástica se centrou em Dublin, que anexou Glendalough como uma das dioceses.
Hoje vemos as ruínas dispersas entre um belo cemitério com cruzes celtas, no meio da verdura do prado e das encostas, proporcionando sugestões de recolha e contemplação.
A ver, absolutamente, fora da estação turística...
versão inglesa aqui
5 comentários:
Já? Estava a gostar tanto. Não fui a Glendalough, que o tempo nunca nos chega e temos de fazer opções, mas fiquei muito entusiasmado. Talvez numa próxima ida à Irlanda.
Bom, podia publicar sobre Dublin, mas confesso que a cidade não me encantou. Embora os Dubliners sejam gente muuuuuito interessante.
Basicamente, a capital irlandesa é uma cidade de onde é bom SAIR.
O Trinity College e o Book of Kells irritaram-me pela sanha anti-fotográfica. Passei lá um dia de chuva, fiquei apaixonado pelo Kells, mas não dá para publicar...
Finalmente, a costa leste não vale nada, as vilas costeiras são desinteressantes.
Well, west coast next time!
Desculpe, Mário, mas parece mais Glendalough, cemitério monástico dos séc. VI-VII...
Não deixa de ser um bonito cemitério, ou será graças ao talento do fotógrafo :-)
Hmmm... Apesar de tudo, ainda não foi agora que a Irlanda subiu nas minhas prioridades.
Nem nas minhas, Gi. Agora, que esperar de um mosteiro do séc VI vandalizado por Vikings e Normandos? que não restasse pedra sobre pedra. Ora, na verdade, sobra bastante construção; a minha reportagem deve ter falhado nesse aspecto, talvez por que as fotos exigiam cruzes célticas ...
Deixando a porta aberta à Irlanda ocidental, suponho que valem mais 5 dias na Escócia (para falar de algo "parecido") do que duas semanas irlandesas. Quanto a cidades, troco 1 só dia em Edimburgo por 20 em Dublin.
Lindas imagens. Parabéns pela sensibilidade.
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