sexta-feira, 27 de julho de 2012

onde eu gostava de estar :

Wolfgang A. Mozart • Die Zauberflöte
Salzburg, 27 de Julho

Nikolaus Harnoncourt, Conductor
Jens-Daniel Herzog, Stage Director

Georg Zeppenfeld, Sarastro
Bernard Richter, Tamino
Mandy Fredrich, Raínha da Noite
Julia Kleiter, Pamina
Markus Werba, Papageno
Elisabeth Schwarz, Papagena

Concentus Musicus Wien

diz o director:

It is not only a first for Salzburg, but also for Nikolaus Harnoncourt to perform this work in this sound-world in Salzburg, together with Concentus Musicus, bringing his entire life’s experience to bear on this production, and I am infinitely grateful to him for this gift

"The new production will be shown at the Felsenreitschule, and thus, The Magic Flute returns to the magical and traditional venue long its home."

1 Million Dollars for the ZAUBERFLÖTE on Period Instruments !

Com 10 ! récitas esgotadas, a Felsenreitschule tem 1400 lugares a preço de ouro, ou melhor, de platina. Talvez o melhor festival de sempre? Impressionante: quase toda a cena musical de topo lá está.


Programa aqui.

(mas hei de voltar a Salzburgo, sim)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Leituras e concertos: sobre os ruídos de fundo

Julian Barnes. que tenho andado a ler, é um inglês premiado que escreve coisas intensas mas quase sempre com graça. Um dos contos em The Lemon Table fala de concertos no Royal Festival Hall, onde estive há pouco, mas em particular destila ódio contra a assistência que tosse com se viesse da urgência de otorrino, espirra, mexe nas folhas do programa, e mais.

Um excerto:

The opening allegro went pretty well : a couple of sneezes, a bad case of compacted phlegm in the middle of the terrace which nearly required surgical intervention, one digital watch and a fair amount of programme turning. I sometimes think they ought to put directions for use on the cover of programmes. Like : “This is a programme. It tells you about tonight's music. You might like to glance at it before the concert begins. Then you will know what is being played. If you leave it too late, you will cause visual distraction and a certain amount of low-level noise, you will miss some of the music, and risk annoying your neighbours, especially the man in seat K37.” Occasionally a programme will contain a small piece of information, vaguely bordering on advice, about mobile phones, or the use of a handkerchief to cough into. But does anyone pay any heed? It's like smokers reading the health warning on a packet of cigarettes. They take it in and they don't take it in ; at some level, they don't believe it applies to them. It must be the same with coughers. Not that I want to sound too understanding : that way lies forgiveness. And on a point of information, how often do you actually see a muffling handkerchief come out?

I was at the back of the stalls once, T21. The Bach double concerto. My neighbour, T20, suddenly rearing up as if athwart a bronco. With pelvis thrust forward, he delved frantically for his handkerchief, and managed to hook out at the same time a large bunch of keys. Distracted by their fall, he let handkerchief and sneeze go off in separate directions. Thank you so very much, T 20. Then he spent half the slow movement eyeing his keys anxiously. Eventually he solved the problem by putting his foot over them and contentedly returning his gaze to the soloists. From time to time a faint metallic stir from beneath his shifting shoe added some useful grace-notes to Bach's score.

The allegro ended, and Maestro Haitink slowly lowered his head, as if giving everyone permission to use the spitoon and talk about their Christmas shopping. J39 – the Viennese blond, a routine programme-shuffler and hair-adjuster – found a lot to say to Mr Sticky-Up Collar in J38. He was nodding away in agreement about the price of pullovers or something. Maybe they were discussing Schiff's delicacy of touch, though I would choose to doubt it. Haitink raised his head to indicate that it was time for the chat-line to go off air, lifted his stick to demand an end to coughing, then threw in that subtle, cocked-ear half-turn to indicate that he, personally, for one, was now intending to listen very carefully indeed to the pianist's entry.

- Julian Barnes

Agora em português: Barnes propõe duas soluções

"...tenho duas propostas para melhorar o comportamento. A primeira seria instalar projectores sobre as cabeças e, se alguém fizesse barulho acima de um certo nível, a luz sobre o lugar acendia e a pessoa tinha de ficar ali sentada como um condenado durante o resto do concerto."

.........................

"A minha segunda sugestão é mais discreta. Todos os lugares da sala seriam electrificados e seria administrdo um pequeno choque, cuja intensidade derivaria do volume da tosse, ronco ou espirro do ocupante."

Barnes conclui que electrocutar os prevaricadores poderia ter efeitos secundários adversos, esvaziando as salas de concerto e obrigando a fortes subsídios...

domingo, 22 de julho de 2012

Wait for the ricochet

Quantas vezes cantei isto... há 42 anos. Frase mítica.

Child in Time, Deep Purple.
Jon Lord, organista, 71 †, 1941 – 2012



Grande voz, grande solo de guitarra... acho que tenho saudades, quem diria. É só barulho, gritaria, acordes e escalas básicas? Sim, mas...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Moonrise Kingdom e o gosto de ler

Uma das coisas que me fascinaram no filme foi a atracção pelos livros e pelo acto de contar histórias. Sempre que Suzy abre um livro, o momento é solene, quase sagrado. Eis um vídeo engraçado, com o incrível narrador (outro achado genial), sobre os livros do filme:



Também a música tem um papel fundamental no filme, desde o Young Person's Guide to Orchestra e o Noye's fludde de Britten até à canção de... Françoise Hardy (le temps de l'amour). Como não ficar rendido a um filme que adora livros e música ? :)

Há muitas imagens que certamente guardarei para sempre na memória; por exemplo, a de Suzy no alto do farol perscrutando a ilha com os binóculos - a procura da "lonjura" (no espaço e no tempo), do "outro", porque o aqui e agora é feio e triste. Imagem que vale 1000 palavras, sim.


Um filme afinal feliz, onde as tragédias de vida quase sufocantes, que encercam mas não conseguem derrotar a aventura, são distanciadas com um sorriso melancólico.

E o final não é happy end, é open end, como deve ser.

Outra pequena jóia, esta germânica. 150 anos depois.

Brahms,1886:

Uma canção ligeira, quase pop, quem diria ? Brahms light.
Lembra
Lily Marleen.

Primeiro, a versão instrumental, que prefiro:

Wie Melodien zieht es mir durch den Sinn, op.105 no.1


tocam
Angel García Jermann, violoncelo
Kennedy Moretti, piano

Agora, cantada por Hans Hotter com Gerald Moore ao piano, grande dupla !


Wie Melodien zieht es
Mir leise durch den Sinn,
Wie Frühlingsblumen blüht es,
Und schwebt wie Duft dahin.

Doch kommt das Wort und faßt es
Und führt es vor das Aug',
Wie Nebelgrau erblaßt es
Und schwindet wie ein Hauch.

Und dennoch ruht im Reime
Verborgen wohl ein Duft,
Den mild aus stillem Keime
Ein feuchtes Auge ruft.

It moves like a melody,
Gently through my mind;
It blossoms like spring flowers
And wafts away like fragrance.

But when it is captured in words,
And placed before my eyes,
It turns pale like a gray mist
And disappears like a breath.

And yet, remaining in my rhymes
There hides still a fragrance,
Which mildly from the quiet bud
My moist eyes call forth.

Pequena maravilha (italiana)

O Concerto para oboé em Ré menor, de Scarlatti, obra pouco conhecida, foi agora revelado numa gravação luminosa por Christoph Hartmann com o Ensemble Berlin.



Uma jóia. Não me canso de ouvir o adagio (aos 2:34)

Aqui em mp3:

bom fim de semana !

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Só em Londres


Girafa em cabine telefónica


Cranbourne Street
Giraffe in a box, de Benjamin Shine

E há mais:


Box lounger, Benjamin Shine

Em Covent Garden:

BT ArtBox, uma exposição de rua para mostrar o design criativo britânico... e o típico humor.

Colecção aqui.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nadir na Villa Borghese

A partir de 18 de Julho, no Museu Carlo Bilotti (Aranciera da Villa Borghese de Roma), uma exposição de Nadir Afonso, Nadir Afonso e lo spazio metafisico.

O "laranjal" da Villa Borghese

Architetto, pittore e collezionista, la mostra romana vuole porre l’attenzione sull’attività di collezionista di Nadir Afonso, esponendo anche opere degli amici artisti con i quali ha lavorato. Tra questi Pablo Picasso, Max Ernst, Candido Portinari, Giorgio de Chirico, Max Jacob, Fernand Legér. La mostra ricostruisce, intorno alla figura di Afonso quale artista amico degli artisti, quel periodo storico che è il secondo Novecento, momento in cui la confluenza tra i generi e lo scambio intellettuale è certamente il motore di una rinnovata vitalità dell’arte.

Horus, 1953


mais sobre a exposição:


Parabéns, Nadir, e bom sucesso!

The goddam particle

Uma apresentação bastante completa para quem sabe alguma coisa mas pouco sobre o assunto:

(
a hipótese de Higgs a partir do slide 34)


Um resumo divertido (mas sério) da experiência aqui:

domingo, 8 de julho de 2012

Grato pelo Quinteto...

ao Paulo do Valquírio, que aqui deu conta de um concerto num desses
"dias que se transformam em tardes prodigiosas".


Correndo o risco de ser acusado de parasitar o post do Paulo, aqui vai o 2º andamento do

Quinteto com Piano Op. 16, de Beethoven (II)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

De volta ... à CM

Strauss, Dvorak e Beethoven ontem na CM , dirigiu König:

- Johann Strauss II Marcha de Júbilo para o regresso do Imperador Franz Joseph I, op. 126

- Antonín Dvorák: Concerto para violoncelo e orquestra
- L. van Beethoven Sinfonia nº 3 'Heróica'

Não se percebe o que faz no programa a marcha de J .Strauss. Mas foi tocada com bastante Gefühl vienense.

O Concerto é um tanto desequilibrado, e não é das obras mais inspiradas de Dvorák; ainda assim teve belos momentos no andante, de diálogo entre o violoncelo e as flautas. A parte de violoncelo já é fracota, mas o executante deixou a desejar - definitivamente as intervenções solistas não foram o ponto alto.

A Heróica foi um compromisso razoável. A orquestra tocou ao seu melhor nível, seguindo as opções de König - nem excessivo classicismo interpretativo, nem obediência aos cânones modernos (Gardiner, Harnoncourt, Zinman, Chailly). Conseguiu alguns stacattos de belo efeito, foi aceitavelmente uníssona e fluente; mas os contrastes dinâmicos andaram longe, às vezes o discurso era mais de valsa... os metais muito tímidos, recuados, e a percussão quase ausente, causando uma frouxa rítmica (que nesta obra tem várias vezes parte de leão).

Uma noite bem passada, mas continua a faltar à orquestra (ao director ?) dar aquele salto do "decente" para o "excelente".

quinta-feira, 5 de julho de 2012

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sabem o que teve MESMO de bom, Londres?

Foi estar longe disto tudo, do Relvas, do Público, do C.R., do Nuno Crato, do Sousa Tavares, do Seguro, do Daniel, dos graffitis na baixa, do lixo nas ruas, dos BMWs na Boavista, do cheiro a sardinha assada, da cidade vazia às 6 da tarde, das buzinas, do batateiro, das tardes da Júlia-aos-gritos (ou são manhãs?), dos monos construídos e em construção, dos carros com altifalantes no tejadilho, do Camané e da Deolinda, dos Jeeps em 2ª fila nos colégios, do cheiro a sovaco nos autocarros, das senhas de 5 cêntimos para a gasolina, do cócó de cão nos passeios, de como (não) cumprimos com a troika, da nação valente e imortal, das livrarias sempre a fechar.


Patriota, eu, só voltado para poente a ver o mar.

terça-feira, 3 de julho de 2012

E ... os concertos.

Ora bem.

O primeiro, o mais ligeiro, foi música de Bernstein para West Side Story pela Royal Phil.


Gostei de ouvir, sobretudo os temas America e Cool, ganharam bem com o som orquestral ao vivo. Dirigiu Jayce Ogren.

Gostei de voltar a ver em HD bailados, cenários personagens como Bernardo, leader dos Sharks (George Chakiris) , que ficam para toda a vida. Um marco, um modelo.


Depois, um lanchinho com uma sobremesa gostosa:

Também é imperdível, o café Consort do Royal Albert Hall ! :D


O segundo concerto era a minha maior expectativa: o Requiem de Berlioz com a LSO dirigida por Colin Davis, aqui:


Entrei cedo para observar o espaço da St. Paul´s cathedral, a disposição das forças orquestrais e o público.


O volume de ar sobre a orquestra era fenomenal: para além da vastidão e da pedra, a cúpula ergue-se a alturas desmedidas (111 m., quase 40 andares). De certeza que o som não seria comprimido nem abafado. Pelo contrário, não iria ressoar em excesso, trazendo sobreposição dos ecos ?

Começou divinamente. Colin Davis está quase com 85 anos, muito frágil, e dirigiu sentado. Suavemente, sempre, quase apagadamente. Os primeiros acordes foram logo de arrepiar, a entrada do coro parecia não ser deste mundo, tudo ecoando pela nave e transepto até às alturas, irreal. Pareceu-me apenas que se ouvia menos a orquestra que o monumental coro.

As coisas não se descontrolaram nunca, mas houve desequilíbrios. Colocaram secções de tímbales e de metais nos cantos e nas galerias do transepto, com estrondoso efeito espacial - só trompas eram oito, e seis trombones; mas o efeito foi excessivo por momentos - os arranques mais fortes nos metais abafavam a orquestra e o coro. Se há quem se queixe do volume dos concertos metaleiros de rock, pois bem, o volume de som ali produzido arrasava qualquer amplificação digital.

Felizmente, essas passagens tonitruantes são poucas e curtas; e quando chegou o Lacrymosa e o fabuloso Sanctus, tive um dos mais arrepiantes momentos musicais da minha vida. Barry Banks é um tenor poderoso, cantou com uma convicção, segurança e beleza tonal formidáveis; a alternância com o coro garantia uma espacialidade arrasadora. Êxtase, ou quase.

O final Agnus Dei é de uma beleza comovente. A maneira como Colin Davis conduziu o decrescendo foi magistral. Sempre com uma sonoridade sedosa magnífica, a LSO ouvia-se agora , e bem; aquele ondulado final , lembrando Wagner, deixou-me em Gravidade Zero.

Quando se calou, o silêncio ficou uns bons 2 minutos nos ares daquela imensa abóbada de pedra.


Só quando Colin Davis se levantou finalmente, rebentou a sala em aclamação. Merece bem, o senhor, aliás Sir, e todos os músicos que fizeram um concerto memorável, três dias depois do S. João, em S. Paulo.

Sair ainda abalado para a rua , e ver a cúpula fantasticamente iluminada. Adeus...




O terceiro concerto, pelo contrário, foi na detestável Royal Festival Hall do Southbank Center. Por fora, são blocos de cimento sujo e coisas plásticas; por dentro, um espaço incómodo e inamistoso e uma sala enorrrrrme, que nunca mais acaba de fundo e de alto, com uns 3000 lugares, mas sem qualquer charme. Tecto forrado a painéis acústicos.


Mas era a Philarmonia e a Segunda de Mahler. Pela primeira vez, (ou)vi de cima, num camarote a meia distância. Ouvia-se lindamente - boa acústica, sim. Receava, como disse, um Mahler nórdico, à Sibelius, e foi um bocado isso.


Salonen não tem élan romântico nenhum. Esteve sempre muito controlado, quer nos fortes e fortíssimos, quer nas passagens suaves, sem rubato. Nada de violentos contrastes dinâmicos, nada de Solti, Rattle, nem sequer Abbado - mais ao estilo de Bernard Haitink, penso.

Há quem prefira assim. Os detalhes são valorizados. As madeiras, em particular, soavam como nunca, belíssimas, e os diálogos entre secções eram claros e precisos. A música fluía, mas não havia pathos...

Monica Groop tem uma bela voz, certamente, e o timbre nada feio. Mas não lhe perdoo: não é que falhou umas notas no Urlicht ? Num momento crucial, absolutamente crucial ? Não tinha estudado bem aquela curta ariazita? (bela, grande ária !). E o Leben final foi curto e insípido.

O Die Auferstehung foi bastante bom. Trivial, mas bom. Impressionou-me a facilidade, coerência e agilidade da Philarmonia - devem conhecer a partitura de cor. Em resumo, muito bom, mas Salonen não tem um conceito, não deixa uma marca, é apenas um bom técnico.

Voilá, ou melhor, that's it. Cansado mas consolado, lá vim para o Underground já funcional - antes, à ida, tinha havido um bloqueio da Central Line que me deixou em pânico. Salvou-me uma corrida de Táxi.

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Ainda falta o Royal Ballet e o Globe Theater. Se calhar não vale a pena. Fiquemos antes com o Agnus Dei de Berlioz, aqui pela orquestra de Atlanta e Robert Shaw:

Duas meias surpresas

Antes de passar aos concertos, dois apontamentos simpáticos que também tiveram o seu quê de surpresa combinado com dolce vita.

O Café Charlie's, em Portobello



Todos sabemos o difícil que é ter um café bem tirado, como deve ser, no Reino Unido. Pior ainda é se o queremos "personalizar" a nosso gosto, coisa que para eles é absurda, "sai como a máquina quer, é automático"...

Ora no Charlie's, um espaço bem simpático com mesas de pátio protegidas do vento e onde é permitido fumar (!!!), o café é bom, bem tirado e com atenção às recomendações. Bem hajam.



A Serpentine Gallery

Houve também tempo para uma voltinha nos Kensington Gardens. Nunca tinha ido à Serpentine Gallery, e depois de uns zigzags lá a encontramos; estava em exibição "To the Light", de Yoko Ono, a viúva de John Lennon. Nunca tive qualquer simpatia pela arte dela, mas enfim, tinha lido coisas simpáticas no Times, vamos lá.

Para minha surpresa, exposição muito singela, contida, em preto e branco e, de facto, com uma valorização bonita da luminosidade.


Lá estava a "famosa" escada branca que Lennon adorou; lá no topo, com uma lente, pode ler-se "YES". Naquele espaço, resultava muito bonito e sugestivo.


Em cada canto, mesas "Where do you go from here? " - um convite a sentar e escrever algo, que se guarda num copo de vidro.

Pointedness, de 1964 - reflexos esféricos.

Labirinto de vidro, "Amaze", 1971

Gostei bastante do espaço interior da galeria. O jardim exterior, infelizmente, estava vedado para um "evento", já se via muito fato e toilettes.

Ah, a entrada é grátis :)
Ah, deixam fazer fotografia ! :)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Por onde começar? talvez pelo inesperado...

Mesmo quando se tem tudo planeadinho, acontece por vezes num tempo livre deixado à solta uma das melhores e mais gratas experiências de viagem.

Assim aconteceu, em duas tardes livres em Londres que dediquei a far niente:

Estava sol mas não muito calor, o ideal para passear pelas ruas no 2º andar de um vermelho London bus. Não cansa os pés, vê-se o rebuliço e as fachadas e vai-se saindo onde se quer.

Trafalgar estava apetecível - as colunatas brancas da National Gallery e da igreja de São Martinho do Campo iluminadas intensamente pelo sol já baixo - e era altura de lhes dizer adeus. Ao passar em St. Martin, cartazes de concertos livres:


Pareceu-me ouvir música vinda lá de dentro. E era: ensaiava para essa noite o grupo liderado pelo violinista Joshua Fischer que ia tocar Bach e Vivaldi.

Momento quase mágico, com a luz a entrar em força pela janela do fundo, projectando sombras nas paredes claras. Bach enchia a nave. Irresistível. Para mais, é tão bonita, aquela igreja de madeira, branco e gessos... mini-filme:



Noutra tarde livre, com os pés pisados de calcorrear Notting Hill e Portobello (fugimos sempre do mercado, claro), pasmava frente ao cinema Coronet em Notting Hill Gate: como é possível que um edifício daqueles, numa zona urbana movimentada, ainda não tenha sido engolido pelas salas multiplex de qualquer shopping? Pois é assim.

Enorme, imponente, era um antigo teatro que foi convertido em movie theater. Prometia ser interessante ver cinema ali, como nos velhos tempos se via no Rivoli, no Batalha ou mesmo no Coliseu. A bilheteira era o balcão do café/bar... o filme era Moonrise Kingdom de Wes Anderson, com alguns actores de respeito. A sinopse do filme prometia tudo menos chatice. Vamos lá.

A sala era um salão enorme , claro, com plateia, balcão, tribuna e sei lá que mais, tudo forrado a vemelho com mutos candeeiros, alguns dourados e pinturas no tecto... ena, isto devia estar classificado (e está). Podia-se deambular à vontade, sair e voltar a entar, ir lá fora para um cigarrito... já nem estou habituado a esta "qualidade de vida". Nao havia pipocas, nem telemóveis.

A qualidade da projecção era *****: imagem luminosa e bem focadinha !, coisa difícil por cá. Depois de uma valente estopada de anúncios e trailers (isso é igual, hélas) o filme era uma obra prima deliciosa, com uma realização de mestre, inventiva e bem disposta, um enredo invulgar e invulgarmente filmado onde todas as personagens se tornam simpáticos na sua humanidade. É uma história de dois adolescentes que fogem de casa para se juntarem, numa história de amor tão ingénua, aventurosa, arriscada e corajosa que faz mesmo vontade de voltar a ter 13 anos.

O Coronet é uma raridade, e deu-me a ver um dos melhores filmes dos últimos tempos - penso mesmo que ultrapassa o Hugo de Scorsese.

Cartaz no corredor do metro: "the perfect antidote to summer blockbusters" - pode haver melhor recomendação ?

Moonshine Kingdom - a não perder !