domingo, 5 de agosto de 2012

Arte boreal: Ilustrações vitorianas das grandes viagens ao Ártico


Ao longo do séc. XIX, no reinado da Raínha Vitória, os britânicos viveram intensamente uma aventura naval nos mares do Ártico, procurando aceder ao Pólo por nordeste e, a noroeste, uma passagem do Atlântico para o Pacífico via estreito de Bering.

Algumas obras de arte são o melhor testemunho dessa aventura.


O Reino Unido entrou na "idade do gelo" em 1818, ainda sob William IV (o Rei Navegador), e até ao fim do século a Royal Navy enviou mais de 20 expedições ao Ártico - umas por mar, com navios, outras por terra combinando trenós e canoas.

"A caminho do mar de Weddell"
James Weddell, A voyage towards the South Pole, 1825.

"The Advance and Rescue entering Lancaster Sound"
Elisha Kent Kane, The U.S. Grinnell Expedition, 1854.

Publicavam-se histórias assombrosas de coragem, heroísmo e sacrifício , mas também resultados científicos - cartografia de regiões nunca visitadas, novos animais (sobretudo marinhos) e plantas, a descoberta antropológica das populações inuit ("esquimós")...

"Cabanas de neve dos Boothianos*”
John Ross,Narrative of a Second Voyage, 1835.

Tudo isto era ilustrado com magníficos desenhos e pinturas de marinheiros-artistas, como nunca antes se vira. Grande parte do fascínio público era induzido por essas imagens, publicadas em jornais e revistas como The Quarterly Review, The Examiner, The Illustrated London News, The Times, o News of the World.

"Uma passagem através do gelo",
John Ross, A Voyage of Discovery, 1819.

"Encalhado no gelo no Northumberland Sound, sob a luz de um paraselene."
Edward Belcher, The Last of the Arctic Voyages, 1855.

Muitos dos oficiais eram contratados pelos dotes artísticos; assim as narrativas eram ricamente ilustradas, por vezes coloridas, e os leitores eram brindados com imagens gloriosas de icebergues, caçadores de foca inuit, navios encalhados no gelo ou "congelados" no porto de inverno, casas de gelo, morsas, ursos polares, e mapas.

Edward Belcher's Arctic Exploring Expedition,
Illustrated London News, 1852

“The Dolphin squeezed by Ice”,
John Franklin, Narrative of a Second Expedition, 1828.

Homens do mar como John Barrow, John Franklin, John e James Clark Ross, Robert McClure, John Rae, Edward Parry, William Scoresby, Edward Belcher, eram largamente admirados e recebiam honras públicas. Ajudaram a dar conhecimento ao mundo de uma enorme área do planeta, inóspita e perigosa mas de beleza incomparável.

"HMS Hecla in Baffin Bay",
Parry, Journal of a Voyage, 1821.

"Repairing the Esk at Spitsbergen",
William Scoresby, An Account of the Arctic Regions, 1820.

O "romance do gelo" culminou no desaparecimento da expedição de John Franklin. Tendo partido em 1845 à procura mais uma vez da Passagem do Noroeste, perdeu contacto e nunca regressou; após 3 anos de ausência, começaram a partir expedições de busca.

A rota da expedição John Fraklin

Mas só ao fim de 11 anos e 36 expedições seria revelado o trágico fim de Fraklin e dos seus homens, capturados pelo deserto branco e morrendo aos poucos na desesperada fuga a pé para sul.

"Sepulturas de três membros da tripulação de Franklin em Beechey Island",
Elisha Kent Kane, The U.S. Grinnell Expedition, 1854

No processo de buscas, a rota da Passagem do Noroeste foi finalmente encontrada por Sir Robert Mclure no Investigator, e a costa do Ártico e do seu arquipélago explorada e mapeada.

"Os rochedos fumegantes ('Smoking Cliffs') de Franklin Bay",
Robert McClure, The Discovery of the North-west Passage by H.M.S. Investigator, 1856.

Fazendo uma leitura no sextante
George Back, Narrative of an Expedition in H.M.S. Terror, 1838

Dez narrativas oficiais das aventuras marítinas no Ártico foram publicadas, profusamente ilustradas. No imaginário das pessoas nasciam cenas impensáveis - passar um inverno inteiro sem luz solar, acampar na calote gelada vários meses sob 40º negativos...

"Visitando um icebergue invulgar",
John Ross, A Voyage of Discovery, 1819.

"Roupas de inverno dos oficiais e dos marinheiros",
Letters written during the Late Voyage of Discovery, 1821.

As aventuras no Ártico contribuíram também para o renascer do mito da Ultima Thule na era vitoriana. Nunca na História terá tido tanto apelo e fascínio a procura das terras remotas do extremo Norte.

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Uma exposição excelente de muitas das gravuras dessa odisseia teve lugar na Linda Hall Library, Kansas City, em 2010. Muitas das imagens aqui publicadas foram encontradas no catálogo dessa exposição - Ice, a Victorian Romance.

[post adaptado do original inglês, AQUI ]


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* habitantes da península de Boothia, inuits

5 comentários:

Virginia disse...

Fabulosa colecção de fotografias de época.
Em tempos vi a série completa : The Last place on Earth sobre a viagem do malogrado Scott e fiquei apaixonada pelos exploradores dos polos.
Esta entrada vale oiro e dá para uma leitura de horas:)

Obrigada, Mário.

Boa semana de verão!

Mário R. Gonçalves disse...

Eu tenho mais material. Virgínia, mas um post tem de ser conciso... como deve saber, ou suspeitar, o Ártico é uma zona que me fascina imenso. E as "descobertas" dos navegadores polares não perdem em mérito com as "nossas".

Está contente com a prestação britânica nos Jogos? Solidamente em 3º lugar, já 16 medalhas de OURO !!! brilhante.

Virginia disse...

Não tenho acompanhado os jogos, não sei porquê este ano não me apetece ver TV. Passo mais tempo na Interet ou a pintar. Mas tenho um amigo inglês que estava felicíssimo com a vitória do Murphy no ténis.

Nós é que a sempre a mesma miséria.....:))

Abº

João Alves disse...

Excelente post e imagens.

Mário R. Gonçalves disse...

Obrigado, João, seja bem vindo