Este ano inovei :) e fui ouvir Herbie Hancock e Bill Frisell no Guimarães Jazz.
Hancock foi uma valente estopada, que apenas valeu pelas três primeiras peças solo no piano - o resto do concerto foi nos sintetizadores, com Hancock a brincar com a parafrenália electrónica, tipo homem-dos-sete-instrumentos, como se estivesse a animar uma noite de bar ou discoteca, o som horrivelmente plástico e repetitivo. Há coisas que se fazem em casa mas não se levam ao palco...
Mas Bill Frisell apresentou um dos melhores concertos que já ouvi, de uma beleza elegante e contida. Sobre a projecção de um filme mudo e a preto e branco de Bill Morrison, "The Great Flood", que documenta as grandes cheias do Mississipi em 1927, o quarteto interpretou a banda sonora composta expressamente para o filme por Bill Frisell. Jazz de uma enorme sensibilidade, ao mesmo tempo descritivo e introspectivo, sem lugar a improvisos de maior uma vez que havia uma pauta a seguir em coordenação com as imagens. E a coordenação teve momentos excepcionais, em que a música reforçava a expressividade já intensa da desgraça que as cheias causaram.
O que mais me impressionou, contudo, foi a delicadeza daquela música, nunca gritada, a guitarra de Frisell capaz de notas e acordes sublimes, inesperados, pequenos toques de génio, uníssonos muito belos com o trompete ou com o baixo, frases que surgiam quase por milagre do nada, do silêncio - e é raro ouvir música que valorize assim o silêncio.
Encontrei uma pequena amostra aqui:
http://www.billfrisell.com/news/great-flood
mas o que ouvi no Centro Cultural Vila Flor - magnífico auditório! - soava bem mais límpido, articulado, perfeito.
Bill Frisell, Guitar
Ron Miles, Trumpet
Tony Scherr, Bass Guitar
Kenny Wollesen, Drums, Vibes
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