segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Vertigo revisited - grande e a cores

Tendo sido o mais votado para o melhor filme de todos os tempos, não faz sentido ser "a favor" ou "contra", mas não tenho dúvida que está entre os 50 melhores - depois, claro, da outra obra prima Janela Indiscreta.

Vê-lo em écran grande, restaurado, numa sala de cinema, é uma experiência que eu gostaria de ter tido quando o vi pela primeira vez. Agora que quase o conheço de cor, dá-me apenas o prazer de apreciar melhor como Hitchcock constrói minuciosamente planos e movimentos de câmara, escolhe cenários e desenha luzes e sombras - ou seja , a parte formal da imagem, visto que a narrativa nada ganha com o HD.

Ora a narrativa é justamente onde ele é mestre; rever Vertigo assim, em "grande", não traz emoção nem tem nada de novo por onde nos agarrar; acaba por ser uma experiência algo fria, racional, distante, como escutar em digital remasterizado aquilo que nos entusiasmamos a ouvir em vinil.





Mesmo assim, é espantosa a direcção de actores, e que grandes actores! Nada a ver com esses pindéricos que actualmente são famosos. São absolutamente deliciosas as cenas no estúdio de Mitch, a personagem com que Hitchcock nos faz mais simpatizar, mesmo que usando um humor algo amargo. E, finalmente, as sequências da torre, escadaria acima, são agora muito mais contrastadas, inteligíveis, nítidas - o que as faz perder em mistério. A entrada trágica da freira que provoca o desenlace fatal costumava ser terrível, obscura, quase diabólica; perdeu, a meu ver, ficando mais colorida e iluminada, mais trivial... mas ainda faz tremer !

Enfim, aquilo que é o âmago do filme - como o Bem se transforma facilmente em Mal, como a vontade de salvar a pessoa que se ama se transforma em vontade de matar a pessoa que se odeia por obra de coisa pequena, uma coisita pouca de se trazer ao pescoço - está lá por inteiro, perturbante como sempre.

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