Ultimamente, a propósito de novos tratamentos oncológicos e agora da eventual cura 'milagrosa' do ébola, fala-se de soros à base de anticorpos monoclonais, uma nova terapia químico-farmacêutica que ajuda na rejeição de transplantes, infecções virais em geral e casos de bactérias resistentes a antibióticos.
O nome, anticorpos monoclonais, parece de ficção científica. Procurei saber do que se trata - um novo antibiótico ? um antiviral ? Para começar, uma definição:
Um anticorpo é uma molécula, uma proteína naturalmente produzida no nosso corpo, dirigida especificamente contra a ameaça de outra molécula proveniente do exterior, o antígeno (*). Para cada antígeno, a resposta imunológica fabrica uma linha de anticorpos destinados a destruir o antígeno detectado que, na maioria dos casos, é um agente tóxico ou infeccioso (proteína), pólen ou vacina.
O anticorpo é monoclonal se tiver sido produzido de forma artificial, industrial, a partir de um só tipo de célula - o clone - e em grande quantidade. Os anticorpos naturais que reagem a uma agressão são proteínas de muito variados tipos; isolando apenas um tipo específico e reproduzindo-o por clonagem aos milhares, temos o anticorpo monoclonal.
É um produto das novas tecnologias bioquímicas. Sendo todos iguaizinhos, de grande pureza genética, os anticorpos monoclonais podem ser utilizados em força para combater um antígeno inimigo, como o que está na origem de certos tumores e infecções virais mas também de doenças auto-imunes.
Já há muito se fabricavam anticorpos na indústria farmacêutica - por exemplo, em soros para combater o tétano e as mordeduras de víboras. Obtinham-se por intermédio da inoculação do antígeno noutro animal cobaia (cavalo, rato) e pela recolha dos anticorpos por ele gerados. O problema é que não se conseguia uma composição determinada (a mais eficaz) mas uma mistura de anticorpos, e, pior ainda, não sendo de origem humana provocam muitas vezes fortes reacções alérgicas.
A nova biotecnologia permite uma pureza quase perfeita e garante um ataque forte centrado no antígeno, que o anticorpo imediatamente identifica e ataca.
O anticorpo é uma proteína em forma de Y. Os dois ramos do Y são os parátopos, como se fossem duas fechaduras à procura da chave afim no antígeno.
A interacção anticorpo-antígeno faz-se por uma ligação entre extremos afins, quando o parátopo reconhece e capta o correspondente epítopo, a 'chave' do antígeno, efectuando um acoplamento de grande precisão. Quem diria.
Os anticorpos monoclonais industriais têm nomes terminados em mab - infliximab, trastuzumab, bevacizumab (AVASTIN)... e ZmAb, o cocktail de três anticorpos que tem tido algum sucesso contra o ébola, de que se fabricaram só 8 doses e se utilizaram duas.
Muito jargão científico? Pronto, é só para não estar na ignorância quando me tocar a vez. Tarrenego.
- Fontes: esta, esta, e esta, além da Wiki -
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(*) ou 'antigénio'
2 comentários:
Porquê tão poucas doses fabricadas e utilizadas, encontrou a razão, Mário?
Ao que sei, fabricaram-se poucas porque sendo o processo moroso e caro não se antevia necessidade de mais; o soro estava ainda em fase de pesquisa laboratorial, agora deu-se um 'salto' no tempo e na ética ao fazer de humanos cobaias.
Suponho que nesta altura já se acelerou a produção.
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