segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ébola: 'Anticorpos monoclonais', o que é isso ?


Ultimamente, a propósito de novos tratamentos oncológicos e agora da eventual cura 'milagrosa' do ébola, fala-se de soros à base de anticorpos monoclonais, uma nova terapia químico-farmacêutica que ajuda na rejeição de transplantes, infecções virais em geral e casos de bactérias resistentes a antibióticos.

O nome, anticorpos monoclonais, parece de ficção científica. Procurei saber do que se trata - um novo antibiótico ? um antiviral ? Para começar, uma definição:

Um anticorpo é uma molécula, uma proteína naturalmente produzida no nosso corpo, dirigida especificamente contra a ameaça de outra molécula proveniente do exterior, o antígeno (*). Para cada antígeno, a resposta imunológica fabrica uma linha de anticorpos destinados a destruir o antígeno detectado que, na maioria dos casos, é um agente tóxico ou infeccioso (proteína), pólen ou vacina.

O anticorpo é monoclonal se tiver sido produzido de forma artificial, industrial, a partir de um só tipo de célula - o clone - e em grande quantidade. Os anticorpos naturais que reagem a uma agressão são proteínas de muito variados tipos; isolando apenas um tipo específico e reproduzindo-o por clonagem aos milhares, temos o anticorpo monoclonal.

É um produto das novas tecnologias bioquímicas. Sendo todos iguaizinhos, de grande pureza genética, os anticorpos monoclonais podem ser utilizados em força para combater um antígeno inimigo, como o que está na origem de certos tumores e infecções virais mas também de doenças auto-imunes.

Já há muito se fabricavam anticorpos na indústria farmacêutica - por exemplo, em soros para combater o tétano e as mordeduras de víboras. Obtinham-se por intermédio da inoculação do antígeno noutro animal cobaia (cavalo, rato) e pela recolha dos anticorpos por ele gerados. O problema é que não se conseguia uma composição determinada (a mais eficaz) mas uma mistura de anticorpos, e, pior ainda, não sendo de origem humana provocam muitas vezes fortes reacções alérgicas.

A nova biotecnologia permite uma pureza quase perfeita e garante um ataque forte centrado no antígeno, que o anticorpo imediatamente identifica e ataca.


O anticorpo é uma proteína em forma de Y. Os dois ramos do Y são os parátopos, como se fossem duas fechaduras à procura da chave afim no antígeno.
A interacção anticorpo-antígeno faz-se por uma ligação entre extremos afins, quando o parátopo reconhece e capta o correspondente epítopo, a 'chave' do antígeno, efectuando um acoplamento de grande precisão. Quem diria.


Os anticorpos monoclonais industriais têm nomes terminados em mab - infliximab, trastuzumab, bevacizumab (AVASTIN)... e  ZmAb, o cocktail de três anticorpos que tem tido algum sucesso contra o ébola, de que se fabricaram só 8 doses e se utilizaram duas.

Muito jargão científico? Pronto, é só para não estar na ignorância quando me tocar a vez. Tarrenego.

 - Fontes: estaesta, e esta, além da Wiki -

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(*) ou 'antigénio'




2 comentários:

Gi disse...

Porquê tão poucas doses fabricadas e utilizadas, encontrou a razão, Mário?

Mário R. Gonçalves disse...

Ao que sei, fabricaram-se poucas porque sendo o processo moroso e caro não se antevia necessidade de mais; o soro estava ainda em fase de pesquisa laboratorial, agora deu-se um 'salto' no tempo e na ética ao fazer de humanos cobaias.

Suponho que nesta altura já se acelerou a produção.