domingo, 28 de setembro de 2014

Como é que ainda nunca tinha ouvido
'Komm, o Schlaf' e 'Tristis est' ?


Duas pequenas obras lindas de morrer.

A primeira, uma ária de Telemann da sua ópera Germanicus (1704) só estreada em tempos modernos em 2007 e gravada em 2011, uma das vinte que o compositor terá escrito, na maioria perdidas.

Canta, muitíssimo bem, Nuria Real, com a Kammerorchester Basel.

Komm, o Schlaf und lass mein Leid


Komm, o Schlaf und lass mein Leid
In der stillen Einsamkeit sich vergraben.

Schließ die müden Lichter zu,
Lass die Ruh
nach dem ausgestandnen Schmerz
Dieses abgemattete Herz
Wieder laben.

Come, o sleep and let my sorrow
in the silent solitude be buried.


Close the tired lights,
let the peace
after the departing pain
> this exhausted heart
Refresh again.


Esta outra ainda mais antiga, um motete a capella, de Orlande de Lassus (ou Roland de Lassus) (1532? 1530? -1594), exemplo dos caminhos da música no fim do Renascimento.

Tristis est anima mea


Tristis est anima mea usque ad mortem:
sustinete hic et vigilate mecum.
Nunc videbitis turbam
quae circumdabit me.
Vos fugam capietis,
et ego vadam immolari pro vobis.


'Um dos mais dramáticos motetes narrativos de Lassus', com uma 'invulgarmente vasta tessitura'.
http://www.hyperion-records.co.uk

Ouvi há pouco na rádio uma interpretação ainda mais excelente
pelo Platinum Consort, que só consigo encontrar em mp3.



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Desilusões, em livro e CD

- breve interrupção nas reportagens da Bretanha -

Quase sempre escrevo a dar conta do que gosto; desta vez, digo que não gostei de duas experiências recentes, uma literária, outra musical.

Começo por esta:  'Comme un chant d'espérance', de Jean d'Ormesson; começa lindamente com uma descrição do Big Bang em linguagem quase poética, e continua com ideias refrescantes - tanto do ponto de vista estético como racional - sobre o tudo e o nada, o espaço e o tempo, a luz - talvez das melhores páginas -, o acaso e a necessidade, a narrativa do universo ou o caos, e finalmente sobre o pensamento, defendendo - concordo ! - que o pensamento foi a maior novidade, o maior salto qualitativo, o maior 'golpe de génio' da criação desde o Big Bang, mudou a perspectiva de sujeito (submisso) para sujeito (primeira pessoa, actor). Depois Ormesson estraga tudo quando destas noções, dialécticas e abordagens tira a conclusão de que Deus é o que falta para tudo explicar, tudo integrar, tudo perspectivar e finalmente dar esperança de futuro. Deus é o tudo e o nada, o espaço e o tempo, gere o acaso e a necessidade, fez a luz e o pensamento... ora bolas. Que desfecho mais frustrante. O senhor Ormesson parecia inteligente e lúcido, tem direito à sua fé, claro, mas escusava de pretender deduzir Deus das lacunas de todo o conhecimento científico, e particularmente cosmológico, que os homens contruíram. Enfim. De canto de esperança estamos conversados.

Para mais, e acho que não estou a ser tendencioso, a qualidade da escrita, a própria criatividade linguística, cai aos trambolhões assim que Deus entra no texto, na 'narrativa'  a que inadequadamente Ormesson chama "romance".

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E não gostei da maneira como Ricardo Chailly interpretou as Sinfonias de Brahms no novo CD da Decca. Depois do ciclo de Beethoven, esplêndido, de referência mesmo, tinha alguma expectativa, embora me parecesse difícil superar o Brahms de David Zinman com a Tonhalle de Zurique. Pois ficou muito aquém, na vulgaridade mesmo, às vezes arrastado, chato, sem cores nem vitalidade, sem marca pessoal. Com a Gewandhaus é difícil fazer pior. Kurt Masur, por exemplo, fez melhor. Espera-se agora Thielemann com a Staatskapelle. Até lá volto a Zinman, portanto, o último grande reinventor, :) .

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Quanto a leituras, vou dedicar-me ao ligeiro 'Dans les forêts de Sibérie', e retiro-me para uma cabana junto ao lago Baikal, com a taiga e as águas cristalinas por companhia. Nos intervalos leio poemas da compilação 'Ice' que coloquei como livro de cabeceira aqui à direita. Correm no leitor hifi a flauta de Pahud, concertos de Haydn, de CPE Bach, um Schubert revelatório por Thomas Dausgaard, e um já 'antigo' Mozart por C. Zacharias e Zinman.


[ entretanto estou a tentar um post dobre Dinan, que não há maneira de sair bem]



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Curiosidades onomásticas : Malo, Malvinas e o santo Leonor


I
O 'Santo Malo' que dá nome à cidade francesa era um clérigo galês (não gaulês: do país de Gales) de nome Maclou, ou talvez MacLaw, latinizado Maclovius. Saint MacLaw, portanto ! :)


No século VI, um grande número de monjes e prelados celtas cristianizados, refugiados no oeste da Grã-Bretanha (Gales sobretudo), preferiram o exílio na vizinha Armorica (a Pequena-Bretanha, por oposição à Grande), para escapar às perseguições germânicas (anglos e saxões). Essa vaga de emigrantes bretões, nem sempre bem recebida, estendeu-se até à Galiza, a norte da Ibéria.


II
Outro nome que me intrigava é Saint-Lunaire, uma das praias mais lindas e míticas da Bretanha. Foi aqui que Chabrol Rohmer (*) rodou o "Conte d'été".


Li que, mais uma vez, um clérigo galês estava na origem da toponímica, mas não estava à espera deste nome: Saint Léonor ! Caso se pense que estou a inventar, que Léonor nunca foi masculino nem nome de santo, aqui ficam as evidências:


Chapelle de Saint-Léonor, Larret, Bretanha

Não faltam variantes: Saint Léonor/ Saint-Lunaire / Sant-Luner / Saint Lanard...

"Ce saint breton vint en Armorique en 535. La légende rapporte qu'en route vers l'Armorique le bateau de Léonor se perdit dans la brume. Alors, le saint sortit son sabre et fendit la brume qui disparut aussitôt. Ceci explique le fait que les marins invoquent saint Léonor, variante Saint Lunaire en cas de difficultés en mer. Davantage encore, ils considèrent le saint comme «patron de la brume».


III
Outra toponímica curiosa é a das Malvinas. Como disse num post anterior, de Saint-Malo partiam regularmente veleiros para o Atlântico Sul, seguindo depois pelo cabo Horn para o Pacífico. Um dos pioneiros foi Louis Antoine de Bougainville, de Nantesem 1764, com dois navios, aportou às ilhas, que já tinham recebido várias visitas, reivindicações e denominações, a gosto de cada visitante, como se dá conta neste mapa. Ora os habitantes de Saint-Malo chamam-se malouins, daí Bougainville tê-las baptizado ilhas ... Malouines !

"Íles Malouines, découvertes en 1706, nommées aussi " Îles Neuves de Saint Louis".

“Au commencement de l’année 1763, la cour de France résolut de former un établissement dans ces îles (...) Je fis sur le champ construire et armer à Saint Malo, l’Aigle de vingt canons, et le Sphinx de douze, que je munis de tout ce qui étoit propre pour une pareille expédition."
(Bougainville, 1772

Bougainville fundou a primeira colónia (Fort Saint Louis) nas ilhas então desabitadas, e foram marinheiros malouins os primeiros colonos residentes; as Malouines tornaram-se a última base de apoio e reabastecimento para os cap-horniers bretões em trânsito para o cabo. Mas só por três anos, pois as ilhas foram devolvidas aos furiosos e temíveis espanhóis, que as reclamavam ao abrigo de um tratado de 1713 (Utrecht).

O que se seguiu já é conhecido, uma longa trapalhada diplomática, que os ingleses acabaram por ganhar pelo facto consumado: dado o desinteresse dos sul-americanos, reocuparam a ilha, povoaram-na e defenderam-na.


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Acho graça a estas coisas. Nunca se tem a certeza, não há documentos de prova irrefutável, não faltam especulações -  é uma etimologia vagamente poética.

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(*) agradeço à Virgínia a correcção.



domingo, 21 de setembro de 2014

'Anse Solidor': os cap-horniers e um fim de tarde inesquecível


Mais um pequeno relato da Bretanha que visitei.
Especialmente para humming.

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Ao lado de Saint-Malo, a 5 minutos para sul, fica uma enseada e portinho conhecidos por Anse Solidor; fizeram em tempo parte do burgo de Saint-Servais, agora integrado na cidade, e lá existe uma torre medieval construída no séc. XIV sobre uma antiga torre Viking, para vigiar e proteger o porto e a antiga Cité d'Alet, uma cidadela fortificada. O passeio litoral é um regalo.


Um cenário 'vraiment pittoresque' !

No século X houve aqui um sítio Viking, 'Oreigle'.

Todo o conjunto é bonito pela arquitectura, pela eterna presença de água (foz do Rance e mar aberto), portos, barcos, areais de maré baixa, faina de apanha de ostras e mexilhão; não faltam jardins floridos e esplanadas.


Dolce vita e um arzinho de Escócia na torre amuralhada em contraluz.


'Solidor' deriva do bretão antigo, e significa "porta do rio":




A ansa teve maior desenvolvimento a partir do séc XIV como porto de apoio a Saint-Malo. Tinha estaleiros de construção naval e um grande Hospital construído pela Companhia das Índias.



Os Cap-horniers da Bretanha

Veleiros no porto de Saint Servain (antigo)

Na Torre Solidor está instalado um museu marítimo dedicado à História e técnicas de navegação dos cap-horniers. O termo cap-horniers tanto se aplica aos veleiros que dobravam o Horn como aos seus tripulantes e capitães.

Diploma de cap-hornier, 1872

Foi no fim do séc. XIX que o comércio com as terras do Pacífico mais se desenvolveu: os grandes veleiros tinham o monópolio do transporte de trigo e lãs da Austrália, cereais da Califórnia, nitratos do Chile, níquel e crómio da Nova Caledónia, mas para aceder a essas paragens era preciso primeiro fazer frente aos terríveis mares austrais.

'Au Cap Horn', Anton Otto Fisher

Foram construídos veleiros majestosos, cada vez maiores e mais sofisticados, chegando aos 4 mastros e 200m de comprimento. O famoso Cutty Sark era um cap-hornier inglês, mas a frota que dominava aqueles mares era holandesa.

Gravura de 1859 representando o Cabo Horn

Nesta epopeia de navegação de longo curso, Saint-Malo era um dos portos de partida. Foram maloenses (!) os primeiros franceses a ultrapassar o cabo, numa rota que se prolongou até à 1ª Grande Guerra. Sob os ataques dos submarinos U-boat alemães, os grandes veleiros eram presa fácil - o navio rebentava e afundava-se num ápice. Enquanto os mais rápidos navios a vapor e com casco de ferro construídos pelos britânicos conseguiam (nem sempre...) escapar-lhes.

Os franceses construíam no Havre e em Nantes uma série de grandes veleiros baptizados France (I, II, III, IV) ou seguidos da data - o  France 1911 foi um dos últimos.
'France II, 1911' - monstro de cinco mastros, casco em aço, 10 000 toneladas! Também tinha acomodações luxuosas para passageiros, piano e tudo. Escapou aos submarinos, mas morreu encalhado, carregado de crómio, em 1922.
Relato aqui:
http://www.grand-voilier.com/cinqmats/histoire/histoire03.htm

O museu exibe maquetes de veleiros, instrumentos (um astrolábio português), mapas, gravuras e objectos exóticos trazidos como recordação de viagem.

Um navio famoso aqui construído e lançado foi o "Pourquoi Pas ?" IV, o navio de exploração ártica e antártica do comandante Charcot, um dos navegadores que mais admiro. Disso voltarei a falar.
Construído em Saint-Malo. Pourquoi pas ?


mais aqui:
http://fxbblogfr.wordpress.com/le-cap-horn/
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Voltando a Solidor, agora já o sol poente meio encoberto cobre a baía de um azul coado:


Quase uma aguarela.

Recantos e momentos destes é que são gratificantes em viagem, mais que a praça ou a ponte com muita gente a tirar fotografias. Não estava quase ninguém a passear por ali, com um fim de tarde sublime.




sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Saint-Suliac, aldeia de terreneuvas no rio Rance


Uma aldeia de muita História, Saint-Suliac.


La Rance, no leste da Bretanha, é um rio de curto percurso, uns 100 km, mas desagua numa larga embocadura sobre o canal da Mancha, semeada de centenas de ilhas e sujeita a enormes amplitudes de maré, que podem atingir 14 metros.

Oferece portanto condições óptimas para portos de abrigo e para construção naval; foi um centro importante de navegação -  várias incursões e povoados Vikings, base de corsários(*), ponto de partida de grandes expedições para sul, como a saga dos Cap-horniers que cruzavam o Cabo Horn para explorar o Pacífico. Também para noroeste: Canadá e Ártico, como os quatro " Pourquoi Pas ?" do comandante Charcot .

Três-mastros francês na Terra Nova, 1820

Não foram só os portugueses da nossa costa norte e centro a embarcar para a pesca longínqua do bacalhau ao largo do Canadá. Da pequena aldeia portuária de Saint-Suliac (**), quase todos os homens partiam ano após ano para a pesca do bacalhau na Terra Nova; a povoação pobre e isolada tornou-se próspera à custa dessa receita.

Saint-Suliac

Hoje, " petite ville au caractère"  e classificada " un des plus beaux villages de France", é uma jóia de aldeia histórica a viver do turismo.


Do século XVI ao século XIX, foi uma vila de marinheiros, marins-pêcheurs, os chamados "terreneuvas" ; mas também eram tripulantes de navios corsários, sobretudo durante as guerras, e em tempo de paz dedicavam-se ao comércio por via fluvial com Dinan e Saint-Malo.

Partiam para a Terra Nova na primavera e lá ficavam de Fevereiro a Outubro; regressavam, partiam, numa transumância anual que atingiu os maiores números  - uns dez mil homens por ano - nas décadas 1820-30-40. Em 1873, 18 marinheiros de Saint-Suliac são dados como perdidos no mar, a maior tragédia de sempre para a aldeia.


Em 1912 ainda havia partidas de três-mastros para a Terra Nova; mas a pesca intensiva moderna obrigou à interdição da pesca do bacalhau pelas autoridades canadianas, nos princípios do séc XX, para proteger uma espécie em quase extinção.


Muitas casas da aldeia estão decoradas com redes de pesca, a relembrar o seu passado de séculos:







A rua principal desemboca sobre o Rance.

Um campo fortificado, num dos extremos da baía, revela ocupação por Vikings no século X. Construíram uma povoação portuária com a forma quadrangular, enquadrada por uma cerca contínua de 600 metros. Após serem derrotados pelos Bretões em 939, abandonaram o local e retiraram-se para a Normandia.



No final da  2ª Grande Guerra, depois da invasão da Normandia, Saint-Suliac foi palco de combates intensos; as tropas do general Patton instalaram artilharia contra Saint-Malo, onde os alemães se tinham concentrado para resistir aos aliados.

A terminar deixo a " Chanson du Cap-Hornier"  de Henry-Jacques.

Au premier voyage était moussaillon.
Ho hisse, allons !
Fit l'tour du monde et tant et plus.
Dit au cap Horn en crachant d'ssus !
J't'ai eu !
J’t'aurai encor’ comme je t'ai eu !


Au deuxièm' voyage était novice.
Ho hé, ho hisse !
Fit l'tour du monde et tant et plus.
Dit au cap Horn en crachant d'ssus
J't'ai eu !
J't'aurai encor’ comme je t'ai eu !


Au troisièm' voyage était matelot,
Ho hisse, hé ho !
Fit l'tour du monde et tant et plus.
Dit au cap Horn en crachant d'ssus
J't'ai eu !
J't'aurai encor comme je t'ai 'eu !


L'quatrième voyage était capitaine,
Piquez la baleine !
Fit l'tour du monde et tant et plus.
Dit au cap Horn en crachant d'ssus :
J't'aî eu !
J't'aurai encor comme je t'ai eu !


Du cinquièm' voyage n'est point revenu,
Good bye, foutu !
Fit l'tour du monde mais n'en r'vint plus.
Et le cap Horn en crachant d'ssus,
Lui dit : j’t’ai eu !
J't'ai eu, mon gars, mieux qu'tu m'as eu !



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(*) Distinguiu-se o corsário Thomas-Auguste Miniac de La Moinerie, que tomou o navio britânico de 56 canhões "HMS Ruby" em 1707, e comandou o cerco do Rio de Janeiro en 1711
(**) Saint-Suliac, Saint-Malo, Saint-Lunaire... nomes bretões de monges e santos.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pas plus que trois petits livres


Na volta de Rennes, recordei tempos em que a mala vinha de Londres a abarrotar de livros, uns 30 quilos de peso... fóra os sacos de mão.

Agora, só com 15.6 Kg, estava nos limites de tolerância (tive sorte com a simpatia pelos 600 gramas a mais). Mesmo assim, a mala de cabine vinha inchadíssima e mal cabia no vão (mas não eram livros).

Limitei-me então a três, pequeninos:

A saber, Comme un chant d'espérance do filósofo Jean d'Ormesson; Canada de Richard Ford (traduzido) e Dans les forêts de Sibérie de Sylvain Tesson.

Quanto ao primeiro,
"... l'écrivain fait part de son émerveillement et de sa stupéfaction face au mystère de l'univers. Il le fait avec brio, comme à son habitude. Commencé comme un court traité de cosmologie, le livre tourne vite à la quête de Dieu. Ce Dieu-là n'est pas celui qui régnait en maître chez ses grands-parents à Saint-Fargeau, il y a cent ans ; c'est une Personne plus insaisissable et plus riche à la fois: l'auteur des beautés de la Création, et celui qui donne la vie et la joie."
Talvez me ensine alguma coisa.

Sylvain Tesson foi
"... s’enfermer seul dans une cabane en pleine taïga sibérienne, sur les bords du Baïkal, pendant six mois (...) faire l’expérience du silence, de la solitude, et du froid. Vivre isolé du monde nécessite avant tout de s’imposer un rythme. Le matin, Sylvain Tesson lit, écrit, fume, ou dessine. Puis ce sont cinq longues heures consacrées à la vie domestique : il faut couper le bois, déblayer la neige, préparer les lignes de pêche, réparer les avanies de l’hiver… Le défi de six mois d’ermitage, c’est de savoir si l’on réussira à se supporter. En cas de dégoût de soi, nulle épaule où s’appuyer, nul visage pour se lustrer les yeux."

E ainda trouxe mais uns álbuns de Saint-Malo e Dinan, pesaditos, e pronto. Quanto a turismo de bouqinerie, um pouco em Bécherel - onde para meu desgosto a maioria das pequenas livrarias estava fechada, pois só abrem ... aos domingos ! Para os turistas. Mesmo assim foi uma visita engraçada.


Nomes como " La Part des Anges",  "Neiges d'Antan", "La souris des champs" (Librairie, Fleurs et Brocante !) ...



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[ claro que vai haver mais reportagens :) ]

domingo, 7 de setembro de 2014

Muito mal tratado(s) na Ryanair, para que conste


Já tinha assistido a coisas desagradáveis, mas nada como o que me/nos aconteceu no vôo Ryanair para Rennes. Não vou aqui relatar, porque não é esse o estilo do Livro, fazer queixa ou reclamação de algo ou de alguém e esmiuçar detalhes mais ou menos privados.

Diz-se que tratam os passageiros como gado, foi mais ou menos como me senti tratado. Alguns amigos contrariavam, que é só maldizer de uma companhia barata, que a Ryanair é impecável e competente; pois não senhor, pelo menos emprega gente com elevado nível de grosseria e incompetência.

Por mal de mim, terei de recorrer a essa empresa porque domina quase completamente a oferta de rotas a partir do Porto. É aliás isso que lhe dá a prepotência de que abusa com a maior das impunidades: que me adianta reclamar ? Toda a gente precisa e recorre à Ryanair, e eles podem dispensar passageiros como eu, não precisam de ser sequer decentes, já nem digo afáveis. Basta-lhes ser baratos e pontuais.

Fica aqui este vago desabafo, para que conste, sem nomes nem detalhes. Para mim, a Ryanair nunca mais será 'pessoa de bem' - é uma reles espelunca de saldos.

Às vezes, não terei outro remédio senão lá entrar.



sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Em Saint-Malo, cidade corsária


A dar uma voltinha pela Bretanha oriental:
Dinan, Saint-Malo e a costa.


Mon bonheur est pour bientôt
Déjà je toucherai terre 
Quand entre le ciel et l'eau 
Surgira la flèche altière 
Du clocher de Saint-Malo.



À bientôt.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ainda sobre os seis anos do Livro: Soy


Em boa verdade, há duas coisas que me contentam: não conheço outro blog semelhante ao meu, e consegui até agora mantê-lo relativamente indiferente à efemeridade que corre no momento. Mas falhei no mais importante - e era o que eu queria:  que fosse radicalmente intemporal como a letra impressa dum livro antigo ou a areia numa baía da mais recôndita ilha.

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Música e poesia, sempre.

Conhecem Joseph Touchemoulin (1727-1801) ?  Francês, sim, mas fez carreira na corte de Ratisbona (Regensburg), Baviera. Foi a Itália aprender com Tartini, e ficou com esta habilidade para o violino.

Les Inventions, com Daniel Sepec no violino
Dir.  Patrick Ayrton.


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Soy

Soy el que sabe que no es menos vano 
que el vano observador que en el espejo 
de silencio y cristal sigue el reflejo 
o el cuerpo (da lo mismo) del hermano. 

Soy, tácitos amigos, el que sabe 
que no hay otra venganza que el olvido 
ni otro perdón. Un dios ha concedido 
al odio humano esta curiosa llave. 

Soy el que pese a tan ilustres modos 
de errar, no ha descifrado el laberinto 
singular y plural, arduo y distinto, 

del tiempo, que es uno y es de todos. 
Soy el que es nadie, el que no fue una espada 
en la guerra. Soy eco, olvido, nada.


Jorge Luis Borges