quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Nuno Crato, o Indefensável


Sim, lembro-me bem, festejei aqui com optimismo a nomeação de Nuno Crato para ministro da Educação. E, bem sei, não faltou quem estivesse de pé atrás, ver para crer. Tinham razão, eu não.

A minha ingenuidade apoiava-se na atitude de seriedade e respeito que Nuno Crato tinha até então demonstrado, tanto nos escritos como no discurso publicado nos media. O contraste com a personalidade indescritível das suas antecessoras era tão grande que me deixei iludir pelas aparências. Afinal, já tínhamos tido ministros sérios e capazes, como Roberto Carneiro ou David Justino.

O ministério de Nuno Crato é um desastre, uma catástrofe sem fim à vista. Destruir totalmente a confiança no sistema educativo é obra. É verdade que já tinha herdado uma bela herança, e bastou-lhe subir aos ombros dos anteriores obreiros para ter sucesso quase garantido. Mas reconheço que não é para qualquer um gerir de forma tão maquiavélica, tão diabólica, tão demolidora, o sistema educativo de um país ao ponto de juntar contra ele todos os sectores envolvidos no processo.

Nao sei se foi intencional ou cabotino no modo como implementou erro atrás de erro. Se calhar os exames podiam trazer benefício, ou a autonomia, ou a renovação do processo de colocações, ou o retoque nos programas. Mas foi tudo, tudo, sempre, sempre, mal feito, por equipas incompetentes, com erros de planeamento e de execução, nunca claramente assumidos, somente varridos envergonhadamente para debaixo do tapete.

E depois há a questão do carácter. Bem sei que quem está no governo fica sob escrutínio dos media,  nem todos terão blindagem suficiente e podem vacilar sem demérito. Mas Crato deu provas seguidas e consistentes para merecer toda a desconfiança. A aura que tinha como académico desvaneceu-se, é afinal tão incapaz, enredado em manobras e artimanhas, presumido mesmo no erro, integrado nos sistema partidário de influências e amiguismos, como qualquer outro Relvas.

Não lhe perdoo, conseguiu fazer de mim parvo :(



7 comentários:

Anónimo disse...

Mário, também festejei. Aliás, eu senti mesmo felicidade quando soube que era ele o Ministro da Educação e Ciência. Ergui um punho no ar com um grande sorriso, "yes!", gesto que nem é meu, nem sei de onde veio e me envergonhou um bocadinho (às tantas foi hipnose). Andei a festejar com qualquer um que encontrasse. Depois, em coisa de dias, ele mandou tirar a calculadora da Matemática nos três ciclos. (Eu andava a ensinar pessoas de 15 anos a fazer contas de subtrair no papel! Era de chorar a falta de raciocínio dos miúdos que não desenvolveram capacidades tão básicas como calcular num papel e de cabeça. Vi gente a ir à calculadora por coisas de 2x2.) Confiante fiquei. Depois foi vendo o sorriso esmorecer. E há muito, muito tempo que o meu humor sobre o assunto está escondido debaixo de uma cama, dentro de uma caverna, em Chernobyl. Aquilo que eu conhecia dele (principalmente via rádio Europa, que à noite era dos franceses, mas que de dia era a melhor coisa que Portugal já teve em rádio, quer em programas, quer em música - alternava jazz a sério e clássica), hoje, é como aquelas balas que têm de ficar no organismo da pessoa, porque não dá para tirar. E se como Ministro de Educação foi mau, como Ministro da Ciência foi para lá só numa de regar as plantas e agora, quando o vejo, só oiço o som das folhas a estalar-lhe debaixo dos pés.

Nuno Crato, Erro Crasso, já nem sei qual é o nome. Tenho tanta, mas tanta pena.

Bom dia, Mário!

Mário R. Gonçalves disse...

Chernobyl é uma boa imagem, Ana.

Este ministério é uma ruína fumegante.

Pensamos que já sabemos tudo, mas estamos sempre a aprender, da pior maneira, a desconfiar. Mas a 'bala' acaba por sair, Ana, tenha fé. Falarmos disso já é meia terapia :)

(pois, isso da calculadora caiu bem, mas foi sol de pouca dura)

Fanático_Um disse...

E no ensino superior é o que se vê, para já não falar na ciência, em que se está a arruinar tudo o que foi construído nos últimos anos. Cortaram-se brutalmente os financiamentos.
Um cada vez maior (e mais assustador) número de jovens altamente qualificados emigra e penso que nesta onda de emigração não vão regressar. Caminhamos a passos largos para um país de velhos, em que não vai haver condições para se envelhecer!

E a mentira já está a ser construída - um dos principais parâmetros de avaliação da ciência é o número e qualidade das publicações científicas produzidas no ano. Para quem está no sistema, sabe que o que se faz (ou não) agora, só se publica dentro de 2 ou 3 anos. Resultado, a derrocada actual só se vai revelar nos próximos anos, quando outros tiverem esta responsabilidade política! Por isso é preciso denunciar a realidade! E Nuno Crato e sua equipa são os responsáveis!
Obrigado pelo texto Mário.

Anónimo disse...

Aparentemente toda a gente tem alguma coisa a apontar ao ministro Nuno Crato. Não sou professor nem investigador, mas sim um mero cidadão. Tenho que manifestar aqui o meu desapontamento por ele, não só não ter tomado posição contra essa aberração que é o "Acordo" Ortográfico de 1990, como ter imposto às crianças portuguesas que o usem. Com a sua atitude contribuiu para o caos ortográfico com que nos deparamos hoje.
Deixo-lhe aqui o link de uma iniciativa credível em que deposito a minha esperança de que seja posto fim a esta loucura:

https://www.facebook.com/groups/375657705870230/504597782976221/

Obrigado, Mário.

Mário R. Gonçalves disse...

Fanático_Um,

tenho de concordar consigo, infelizmente é isso que está em curso :(

Mário R. Gonçalves disse...

Anónimo,

O link que me sugere não abre, está inacessível, será só para registados ?

O Acordo é assunto de governo, mais que do sr. Crato. Mas nunca lhe ouvi uma palavrinha de discordância. Dele, que se fartava de discordar antes de chegar ao poder... parece auto-lavagem ao cérebro.

Anónimo disse...

Mário: o link é da página"Meios jurisdicionais de luta contra o Acordo Ortográfico" do Facebook. Como é um grupo fechado é natural que não a consiga abrir. Desculpe.