segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A grande vigarice da votação catalã


A Catalunha tem 7 500 000 habitantes, mais ou menos. Sejam 5 milhões de eleitores, ou mesmo 4. Mesmo só o facto de não se saber já faz do acto uma palhaçada de democracia. Votaram "mais de dois milhões", e 76% no Sim à independência. Muitos estrangeiros residentes (!!!) e os adolescentes desde 16 anos. Urnas violáveis de cartão. Nenhum organismo internacional validaria tal aldrabice, seria uma vergonha que indignaria todo o mundo. Mas 76% de "mais de dois milhões" são "mais de" 1 500 milhões, suponhamos 1700. Vejam lá se pudéssemos assumir que os restantes 2 ou 3 milhões e meio de eleitores não querem a independência ! Seriam uns 62% pelo menos, e podia chegar aos 75%.

O referendo foi um tremendo e rotundo fiasco, e o independentismo perdeu em toda a linha, teria de ultrapassar 3 milhões de Sim para convencer. Num processo que, à beira do escocês, foi um complot mafioso à boa maneira do sul. Tudo indica que numa eleição rigorosa e transparente levavam um banho.

Os jornalistas, como de costume, não sabem fazer contas e exultam com a vitória retumbante do Sim. Pobres cretinos. A mentira e a falsidade tornam-se regulares na imprensa e na TV, não quero acreditar que por manipulação, mas pela mais crassa ignorância e desistência de pensar pela própria cabeça. Talvez também pelo ódio à democracia formal que vem grassando perigosamente.


5 comentários:

Gi disse...

É verdade, Mário.

Virginia disse...

Vou partilhar esta entrada. Um sobrinho meu cobriu as eleições para o Expresso e isto deve interessar-lhe. Obrigada, Mário por tão sucinto e esclarecedor artigo.

Rantanplan disse...

Não sou a favor ou contra a independência da Catalunha - isso é coisa que caberá aos catalães decidir.
Mas pondo as coisas em perspectiva:Nas legislativas portuguesas se 2011 houve 42% de abstenção. Este número não andará longe dos que são apresentados (2 milhões e tal em 4 milhões?) e tratava-se de uma eleição com efeitos práticos imediatos: eu tenho que levar com o governo que foi eleito. Claro que numa eleição que efectivamente decida sobre a independência, a abstenção vai baixar muito - mas nada, mesmo nada, me diz que o resultado será substancialmente diferente. Tal como cá, se a abstenção fosse menor.

Que se despreze o facto que numa consulta como esta houve 1 milhão e quinhentos mil a votar sim à independência é evidentemente um erro político crasso ou uma atitude ditada pela posição ideológica. Que se presuma que os restantes dois ou três milhões votariam contra é wishfull thinking e seria péssimo jornalismo se fosse vindo de um jornalista.

O jornalismo está uma desgraça? sim. Mas é como o futebol: mesmo quando a equipa joga mal, os treinadores de bancada sabem menos do assunto que o "mister", por "cretino" que seja.

A democracia formal que temos é essa: percentagens de abstenção a rondar 50%. Pena




Mário R. Gonçalves disse...

"Isso é coisa que caberá aos catalães decidir"
Não. Primeiro, aceitaram o voto de estrangeiros residentes, que não são catalães. Segundo, Espanha não tem que se pronunciar sobre parte do seu território constitucional ? ora essa. Se o Algarve quisesse independência, não era aos algarvios que cabia decidir. A Catalunha não é nenhuma colónia invadida e oprimida, pelo contrário, é uma zona rica e privilegiada que quer deixar de contribuir (como o Reino Unido na Europa) para a redistribuição do rendimento. Que Madrid tire de lá a SEAT e a canção seria outra.
Cabe-me a mim ser contra esta mentalidade.

Comparar legislativas a um super-referendo em urna de cartão e voto de catraios parece-me ... abusivo. Nas legislativas concorrem partidos, desgastados e fracos. Aqui era uma questão de nação por excelência, uma questão de orgulho nacional, como o Barcelona FC. Era suposto 90% de afluência ao SIM. Menos, significa que nem com toda a batota conseguem disfarçar que a independência não é desejo de larga maioria.
(ah, enganas-te, para decidir sobre a independência não se faz uma eleição)

Acho piada a essa treta de não se poder ter opinião sobre outras actividades profissionais. A barbaridade que dizes sobre jogadores de bancada e mister significa que não podes deixar de respeitar as opções do teu governo como competentes, pois eles é que são economistas, professores universitários, médicos. E os banqueiros, quem pode dizer mal desses profissionais senão eles próprios? cale-se o povo que não percebe nada!

Nada disso. Os jornalistas têm o dever profissional de informar procurando ser imparciais e objectivos, e já agora, saber contas de somar e dividir. Se querem dar opinião, que ninguém lhes pede e do que abusam, têm o dever de ter uma formação decente nessa área e estudar o assunto a fundo. Tarefeiros e biscateiros que se poem em directo a exultar com fenómenos que ainda nem arrefeceram, participando boçalmente do triunfalismo reinante à volta sem distância nem reflexão imparcial, são o melhor exemplo de jornalismo rasca, carneiro, anti-democrático ou mesmo fascistóide na sua massificação servil.

Fanático_Um disse...

preto no branco!