terça-feira, 3 de março de 2015

Nikolskoye, onde repousa Vitus Bering, o 'Viking do Pacífico'
(Episódio II)


(continuação)
- embora o post anterior tenha sido um flop de visitas, não deixo por acabar o que comecei -

Vamos então até Nikolskoye, no extremo oriente da Eurásia.


A 55º N, Nikolskoye (Нико́льское) está muito a sul do Círculo Ártico; mas não parece, com as suas cabanas de madeira numa desolada ilha coberta de tundra, sem árvores, fria, perdida no mar de Bering.


A Ilha de Bering é uma ilha sub-ártica na região da Kamchatka. Com 90 km por 24, é a maior das duas Ilhas Komandorski, arquipélago que pertence à cadeia das Aleutas.


Uma vegetação rasteira variada, típica da tundra sub-ártica, cobre quase toda a ilha, sulcada por vários cursos de água. A costa alterna entre falésias rochosas de onde caem algumas cascatas e praias de areia onde vivem focas, lontras e outros animais marinhos.

O Arco de Steller - um dos pontos mais visitados da costa.

Queda de água Fedoskinskya, uma entre dezenas.

Os cursos de água são ricos em salmão.

A pesca, fácil, é o principal recurso alimentar da ilha.

Situada na foz do rio Gavanskaya, Nikolskoye é a única localidade habitada, sem contar algumas casotas de utilização temporária para observação e estudo da natureza.
Vista da parte antiga da povoação e do estuário do Gavanskaya.


Os recursos são muito básicos - pesca, sobretudo de salmão rosa, caviar de salmão, frutos de baga, cogumelos (grandes). Alguns legumes têm sido cultivados com sucesso. Vive-se de serviços do Estado e de subsídios. Os bens essenciais chegam de forma algo irregular - a vinda do cargueiro é um acontecimemto, só superado pelos navios de cruzeiros com turistas endinheirados.

Quase toda a ilha é reserva natural, é proíbido caçar mamíferos marinhos.

O novo e o velho: em baixo, o Museu e outras casas antigas; em cima, a nova Escola e o Centro Cultural, à frente de prédios residenciais de funcionários.

População :   ~800
Coordenadas :  55° 12′ N, 165° 59′ E

A povoação foi fundada em 1826 por colonos nativos das Aleutas trazidos pelos negociantes de peles russos para os trabalhos mais duros.

Uma escadaria de madeira liga à parte alta da cidade.

Algumas casas do século XIX são mantidas em bom estado como testemunho histórico.
Casa tradicional - por fora não são bonitas, mas o interior é confortável e aquecido, há electricidade.

O antigo posto da companhia de peles "Hutchinson Kohl," de 1870, que os americanos instalaram na ilha para comerciar peles.

Relíquia da era soviética, ainda funciona para dar a volta à ilha, mas já toda a gente quer SUVs.


Nikolskoye foi ainda brindada há pouco com jardim-escola, Hospital e Escola novos, um Centro cultural (!), uma nova Igreja (!!), e a remodelação do Museu, a vaidade maior dos habitantes. Uma pista de terra batida permite ligação aérea com Petropavlovsk (Kamchatka) duas vezs por semana.

O novo Hospital.

A inevitável igreja ortodoxa, novinha em folha, importada da Sibéria em caixotes "pronto a montar", tipo Ikea.


Demorou dois anos a construir, abriu em 2012. É a mais oriental igreja da Rússia.

Interior: pinturas sobre madeira.



O Memorial de Bering


Também recentemente, as autoridades russas homenagearam o comandante Bering (que deu o nome às Komandorski) com esta estátua e um pedestal com uma pequena réplica do 'S. Pedro'.

O 'Viking do Pacífico'.

Canhões recuperados do navio de Bering. Agora estão expostos num morro a sul da povoação.


Tradições Aleútas

Nikolskoye tem mantido o convívio dos modos de vida russa e aleúte.

Os Unangan (nome dos aleútes na sua lingua) são aparentados aos inuit do Alasca.


A população da aldeia está dividida entre russos e aleútes, descendentes dos indígenas trazidos pelos russos para o comércio de peles.  As tradições aleútes sobrevivem em grande parte no Museu e no grupo folclórico.

O exótico chapéu tradicional.

Cestos de Nina Kiyaykina, uma artesã aleúte que foi Directora do Museu.

O Museu Regional Aleúte


O  Museu Aleúte foi criado na década de 1960, para documentar as explorações de Bering e a cultura tradicional da população. Mais tarde foi alargado com uma secção geológica, e a História da colonização, desde os primeiros russos até ao período americano. Também não falta a inevitável  "vaca marinha" de Steller.


A casa azul onde está instalado foi construída no século passado pelos americanos como sede da companhia de pescas nas Ilhas; é anterior à negociação do Alasca.


Máscara aleúte.


O 'Iqyax', kayak aleúte. Diz-se que foram os maiores kayakers de sempre.

Pintura representando o naufrágio do navio de Vitus Bering numa praia da ilha.

Site do Museu:
http://www.museum.ru/M1015


Sergey Pasenyuk, artista e aventureiro de Nikolskoye.

A povoação acarinha também o seu artista local, um residente excêntrico que tem uma galeria sobranceira à baía e à foz do Gavanskaya. Caçador, etnógrafo, naturalista, desenhador, escultor, escritor, e ainda velejador solitário, Sergey Pasenyuk atravessou várias vezes o oceano Pacífico no seu iate.

A casa de Sergei Pasenyuk.


Gosta sobretudo de visitantes com disponibilidade para uma boa conversa. No Verão dedica-se mais à pintura e ao desenho, no inverno vai pescar ou fica a ouvir a batida das ondas.



Adaptou um antigo celeiro para expor uma imensa quantidade de coisas, a maior parte trazidas dos lugares visitados durante as suas viagens, muitos documentos e também as suas obras.

Um dos desenhos de Pasenyuk


A escultura Menina de Ferro é o seu trabalho mais famoso, tornado ex-libris da ilha.
Um anjo de pés nus com uma lanterna, para saudar marinheiros e pescadores desejando boa viagem e bom regresso.

Representa "Assol", personagem principal de um famoso conto tradicional infantil, "As Velas Escarlate".



Nikolskoye tem clima  sub-ártico; não tão frio como seria de esperar devido a correntes marítimas quentes, mesmo assim os ventos frios impedem as árvores de crescer, o inverno desce por vezes aos -20º C, os nevoeiros são frequentes.




Alguma flora e fauna da Ilha de Bering.

Durante os séculos XVIII e XIX, os caçadores de peles, russos ou americanos, quase extinguiram as lontras marinhas e as raposas na ilha. Desde que foi declarada reserva natural, a fauna tem vindo a recuperar.

Perdiz nival ou alpina (Lagopus lagopus).

A famosa raposa azul - na verdade é mais acinzentada.

Protegida, já não está sob ameaça de extinção.

Frutos de baga são a maior benesse contra o escorbuto, muito consumidas frescas ou em compota.


Bem, estou grato a Bering por este bocadinho de planeta !



Ler mais:
http://www.answers.com/topic/commander-islands#ixzz3RSifeFwU



3 comentários:

Gi disse...

Um dos lugares que o Mário adoraria visitar, e eu fico bem lendo a respeito...
Pensava que só havia pinguins no hemisfério sul.
A raposa azul é bem bonita! "Azul", quando se fala de cães, gatos, e pelos vistos raposas, quer dizer "cinzento escuro vagamente azulado" :-)

Mário R. Gonçalves disse...

Puffins, Gi, deve ler onde eu escrevi pinguins :(
Nem o crivo da revisão me valeu.
Há focas para todos os gostos, orcas e baleias, ratos e lontras e renas - pinguins, não. Azar.

Vou apagar, claro. Obrigado e volte sempre, o seu crivo é melhor que o meu !

Dennis disse...

Parabéns e obrigado pelo post.