E também a propósito, ainda, das más encenações de Ópera.
Não é só nas encenações que se faz falsa Arte, lixo que se quer fazer passar por Arte. A mercantilização, o valor monetário e financeiro da Arte, promovem esse lixo em Pintura, em Escultura, em Música, no Teatro e no Cinema ...
Se não vendessem gato por lebre, como conseguiriam valor de venda para gatafunhos, calhaus e molduras em branco ?
"Três painéis em branco", de Rauschenberg, que atingiu recentemente muitos milhões num leilão.
Os critérios para mim são claros e transparentes:
- Se é feio, não é arte. "Feio" pode ser subjectivo, bem sei, neste critério pode haver divergências, mas não aceito os estetas da fealdade. Rejeito o que for monstruoso, disforme, deselegante, vil, ordinário, ofensivo, kitsch, enfadonho; mas não forçosamente o que for rude ou provocatório, desde que lá consiga encontrar beleza e génio criativo.
- Se "até eu era capaz de fazer isto", não é arte. Simplório, primário, cansativo, totalmente desestruturado, não é arte. Vão assim para o caixote os painéis brancos, as borradelas, os 4' 33'' de silêncio de Cage, os filmes de écran preto...
'Quadrado preto', de Malevich - nada a ver com Mondrian, pois não há nada para ver.
Há tempos uma jornalista de TV deliciava-se divertida porque na feira ARCO de Madrid o público comentava elogiosamente, e até com discurso erudito, uma suposta obra de arte que afinal eram garatujas e borrifos de criança. Conclui ela: Arte não é nada de transcendente ou excepcional ou genial, não passa de uma convenção de élites, uma vez que não se consegue distinguir de uma borradela qualquer.
Ora é precisamente o contrário, mas a jornalista boçal não podia entender certamente: nem a borradela, nem o resto da tralha que estava pelas paredes da feira, são Arte. É tudo lixo. A Arte, quando existe, distingue-se logo, impõe-se, é avassaladora de beleza, de elegância, de equilíbrio, na alegria ou na tristeza; quase sempre surpreendente, nunca é aborrecida nem repelente, nunca vulgar nem infantil, nunca se encaixa em conversa monetária de investidor nem na vulgata de jornalista. Nunca é balão para o parolo olhar.
O calhau de 340 toneladas que Michael Heizer foi buscar com uma escavadora - só lhe deu o trabalho de transportar o mais pesado pedregulho de sempre (Guinness ?). Durou um ano e custou 10 milhões. Um disparate.
A diferença, por exemplo, entre a Música da 'Iphigénie en Tauride' de Gluck e a horrenda encenação de que aqui dei conta é que esta, qualquer um a fazia, na sua vulgar fealdade; mas a primeira, a Música, exige saber muito, ser compositor - ter um talento ao alcance de poucos, de uma élite.
É por isso que as escolas, a Escola, na sua tendência que vem desde os finais do séc. XX para rejeitar o saber de élites, e o valor superior da História, já quase só forma para a vulgaridade. Nunca produzirá Renoirs, mas apenas pintores de feira. Já estamos a assistir ao resultado.




















