Fora de moda, impopular, o pintor bolonhês Giorgio Morandi (1890-1964) pintou quase sempre "a mesma coisa". Sofre por isso de um injusto esquecimento.
Começou sob influência de Cézanne, Renoir, os primeiros futuristas, De Chirico, a pintura metafísica. Mas cedo rompeu com as vanguardas, e dedicou-se só a naturezas mortas, vasos de flores (poucos) e paisagens (ainda menos).
Até que estacionou sob um tema único - recipientes : vasos, garrafas, jarros, frascos, taças, copos, conchas, com uma total indiferença pelo que se ia passando à sua volta e no mundo.
Deste 'Botiglie e fruttera' de 1916 diz-se que é um dos mais belos do século.
O menos empenhado, o mais desatento dos pintores, um eremita indiferente ao frenético novecento italiano, Morandi pintava apenas objectos que tinha no seu quarto. Tensão ou erotismo é coisa que não existe nas suas aguarelas e gravuras.
Por outro lado, há uma procura, serena mas obstinada, da verdade intrínseca dos objectos, da essência das coisas - forma, côr e luz - que Morandi projecta numa espécie de metafísica suave.
O 'silêncio das cores' , uma esbatimento que impressionou Antonioni.
É quase um jogo a que se entrega afincadamente; Morandi torna-se mestre dos enquadramentos, do equilíbrio de conjuntos, dos jogos de luz e de cor nos volumes.
Os objectos do quotidiano parecem respirar uma metafisica suave, evanescente, que condiz com a vida de solidão ascética do pintor.
Admirado por Antonioni, o realizador, Morandi teve obras suas no filme A Noite, e também na Dolce Vita de Fellini.
Faleceu a 18 de Junho, há 51 anos.
Sono un pittore di natura morta e voglio comunicare un senso di tranquillità e riservatezza, stati d'animo che valgono di più.
Giorgio Morandi
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Fontes:
- Gabriele Simongini, artigo no Il Tempo
- Morandi, col. Génios da Pintura, ed. Fabbri/Abril Cultural, 1967
2 comentários:
Boa pintura.
Obrigado por mais um "post" muito educativo.
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