Casa da Música, sexta 20 de Outubro
Michael Sanderling, direcção
Richard Strauss, Uma Sinfonia Alpina, op.64
Uma première, ouvir em concerto a majestosa Sinfonia Alpina de Richard Strauss, um projecto megalómano para 120 músicos no palco mais as trompas e trombones nos bastidores, mais as máquinas de trovões e de vento. Não admira que seja raramente executada, devido às dificuldaes de reunir e dirigir tão numerosa orquestra. A secção de percussão dó por si já é visualmente impressionante, mas todo o colorido orquestral deslumbra. A Sinfonia Alpina foi composta entre 1911 e 1915 como poema sinfónico; Strauss quis experimentar caminhos entre Mahler - falecido em 1911 - e Wagner, procurando fazer 'música contínua' que superasse os tradicionais 3 ou 4 andamentos e ilustrasse a filosofia de Nietsche de purificação pessoal pela força anímica e pela adoração da Natureza eterna.
É, digamos, um andamento único "narrado" em 22 episódios que seguem a ascensão ao cume da montanha e o regresso, com temas como "Durch Dickicht und Gestrüpp auf Irrwegen (Perdidos entre o Bosque e o Matagal). A música pretende ser descritiva da natureza e das sensações no alpinista. As influências de Mahler são evidentes na orquestração e na percussão.
Um tema inicial, desenvolvido depois no cume e retomado na coda final, cria uma estrutura que organiza a obra para além dos 22 episódios. Genial é o épico Ausklang (Final), com surpreendente contraponto em desarmonia, e terminando em sublime beleza no regresso da Noite, dolente como um adagio de Mahler. O menos conseguido são os momentos mais "niilistas" (Strauss admirava Nietsche) que pontuam por exemplo no Durch Dickicht... acima referido, onde a composição perde élan e, em boa verdade, perde coerência também.
A gravação que prefiro é de C. Thielemann com a Orq. Fil. Viena.
Devido à sua vasta escala dinâmica, a obra tornou-se uma referência para gravações de alta fidelidade; o primeiro teste de um disco compacto (CD) foi com uma gravação da Sinfonia Alpina.
Quanto à prestação da ONP Casa da Música e do Maestro Sanderling, escalaram com brio a montanha que tinham pela frente. Receava que a empresa pudesse ser demasiado exigente, mas não, a orquestra esteve muito bem controlada e suficientemente precisa para evitar desmoronamentos, foi ora grandiosa ou ora delicada conforme o momento exigia. De parabéns, grande concerto.
Um extracto por Simon Bychlov à frente da Fil. Berlim:
[devo dizer que evitei cuidadosamente a primeira parte do concerto, com a Metamorfose de Paul Hindemith, compositor que de todo dispenso]
Sem comentários:
Enviar um comentário