segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Outonal - poesia no feminino


Aí está em força, agora sim, a queda das folhas. Não tenho nenhuma explicação para o facto de serem muitas a poetisas a escrever sobre o Outono; Verão e Inverno são mais masculinos, aparentemente. Dois poemas sasonais:

''Autumn'' de Emily Dickinson

The morns are meeker than they were,
The nuts are getting brown;
The berry's cheek is plumper,
The rose is out of town.

The maple wears a gayer scarf,
The field a scarlet gown.
Lest I should be old-fashioned,
I'll put a trinket on.


                                     As manhãs mais pachorrentas do que antes,
                                     As nozes ganham tom acastanhado;
                                     As amoras mais cheias e redondas,
                                     A rosa foi para longe de viagem.

                                     O plátano veste alegres adereços,
                                     O campo, um roupão escarlate.
                                     Se eu não quiser ficar fora de moda,
                                     Algum berloque terei de usar.



"Fall, leaves, fall" de Emily Brontë

Fall, leaves, fall; die, flowers, away;
Lengthen night and shorten day;
Every leaf speaks bliss to me
Fluttering from the autumn tree.
I shall smile when wreaths of snow
Blossom where the rose should grow;
I shall sing when night’s decay
Ushers in a drearier day.


                                     Caiam, folhas, caiam; morram, flores, vão-se;
                                     Prolongue-se a noite e encurte o dia;
                                     Cada folha me sussurra êxtase
                                     Ao flutuar em queda da árvore outonal.
                                     Vou sorrir quando grinaldas de neve
                                     Florirem onde era a rosa a crescer;
                                     Cantarei quando o cair da noite
                                     Descer sobre um dia mais soturno.


[tarduções minhas]

3 comentários:

Gi disse...

Gosto do poema de Emily Brontë, Mário, que não conhecia, mas parece-me que os dois últimos versos foram entendidos ao contrário. Eu traduziria qualquer coisa como:

Cantarei quando o decair (ou a decadência) da noite
Deixar entrar um dia (ainda) mais desolado.

O que não se consegue é transmitir o ar alegre (ritmo) com que ela fala nestes temas sombrios.

Mário R. Gonçalves disse...

Pois não, Gi, não vou longe como tradutor. Tem toda a razão sobre a musicalidade da Brontë.

Sobre os dois últimos versos, não consigo concordar com a Gi. Mas fiquei grato por me chamar a atenção, pois acho que consegui melhorar.

Gi disse...

Está melhor, sem dúvida, embora discordemos sobre a cronologia ;-)

Eu disse "não SE consegue" - não sei se alguém conseguiria. Por isso, só lhe posso dar os parabéns pelas suas traduções (todas)!