sexta-feira, 29 de março de 2019

Haydn 2032, por Giovanni Antonini: isto é que é um projecto!


Haydn nasceu em 1932, fará centenário em 2032, mas a festa já começou. Juntaram-se dois parceiros da cena musical clássica - a editora Alpha e a Fundação Haydn de Basileia - para uma nova edição, historicamente 'ainda mais informada', das 107 sinfonias do génio austríaco. Coube a direcção ao italiano Giovanni Antonini, um dos maestros mais prestigiados na área do classicismo anterior ao romântico com o seu precioso Giardino Armonico ; mas a Orquestra de Câmara de Basileia também intervirá em várias gravações. Uma das curiosidades desta colecção imprescindível é que cada volume de sinfonias é temático, e tem um complemento de outro compositor da época - Mozart, W.F. Bach, Cimarosa, Kraus...


A edição é também muito bonita, com capas cuidadas (cartonadas) e design gráfico com fotografias ilustrando o tema de cada volume.
Site do Haydn 2032:
https://haydn2032.com/EN/haydn2032.html

Nº1- La Passione - A nº1, uma excelente nº39, e em extra um Ballet do Don Juan de Gluck
Nº2- Il Filosofo - sobressai a nº 22, e mais uma pequena sinfonia de W. F. Bach; trabalho gráfico muito bonito.
Nº3 - Solo e Pensoso - até agora o volume mais fraco , mas com o bónus da ária do mesmo nome, cantada por Francesca Aspromonte.
Nº4 - Il Distratto - tem a nº 60 e a nº 70, obras elaboradas, com grande variedade de temas e força criativa. O complemento é Il Maestro di Cappella, obra bufa esfuziante, muito italiana, de Domenico Cimarosa; um discurso instrumental muito 'didáctico', numa versão orquestral inédita. Um CD imperdível.

Entretanto já foram publicados 7 volumes a esta data. A partir do 5º, com a orquestra de Basileia, como aqui na brilhante Sinfonia nº 3:


Mas o Giardino Armonico é impressionante na nº 70:


-----------------------------------
Já agora, uma observação: à parte a Alemanha, nenhum outro país tem tanta densidade de orquestras de topo como a Suíça. Começa na Tonhalle de Zurique, depois a Camerata de Berna, a Kammerorchester de Basileia, a orquestra do Festival de Lucerna fundada por Abbado, o Musikkollegium de Winterthur, a orquestra da Suisse Romande de Genève. Um fartote.


terça-feira, 26 de março de 2019

A raposa branca do Ártico, bicho lindo, e o Mikkl de Christiane Ritter


Já há muito tempo publiquei aqui a minha simpatia pelo arminho, ou marta, das regiões árticas. É um dos bichos mais bonitos que conheço, tanto assim que até Leonardo o pintou no regaço de Cecilia Gallerani.


Mas não lhe fica atrás a raposa do Ártico, no apogeu da pelagem de inverno, de pristina brancura; é linda linda.


Esta muda de pelo permite-lhe suportar facilmente uns -50ºC, e bem precisa, pois não sendo animal de hibernar tem de sair à procura de alimento por mais frio que faça. Se no resto do ano é fácil - ovos e crias de pássaro, pequenas focas, roedores, restos deixados por outros - na estação fria tem de saltar alto e cair de patas e focinho sobre o gelo para o furar e apanhar algum roedor.


Não está de modo algum em perigo de extinção, pelo contrário, nalguns locais ainda se organizam caçadas para manter a população sob controle. Senão lá se vai o galinheiro.
 



Os famosos olhos 'matreiros' são um dos encantos, possivelmente fatal para as presas.


A distribução da raposas brancas no planeta é "circumpolar", numa faixa baixo-ártico / sub-ártico à volta do pólo. A espécie varia um pouco, sendo as principais variantes a raposa da Gronelândia, da Islândia, do Canadá, das Ilhas Pribilof e das ilhas do mar de Bering, incluindo ainda a grande população da Ilha Wrangel.

 
Raposinhas a brincar ao crepúsculo, Ilha Wrangel

Existe uma centro de protecção, educação e controle na aldeia de  Súðavík , Islândia.
Súðavík, 66°01′ N, 22°59′ W

O complemento literário de hoje é extraído de um dos meus livros favoritos, A Woman in the Polar Night, de Christiane Ritter, uma das maiores obras-primas de autoria feminina.  Durante o seu isolamento numa cabana em Svalbard, Ritter é visitada por um raposo, a quem chama Mikkl, que estabelece com ela laços de quase amizade doméstica.

Mikkl demonstra agora o seu afecto por nós dormindo toda a noite junto à cabana. Deita-se enroscado na cama de palhas e pauzinhos, com a cauda felpuda a tapar o nariz. A raposa adormecida, de um branco luzidio, enquadra-se na perfeição com a serenidade da noite, que continua de uma claridade mágica. Mikkl é como um fragmento da misteriosa Idade do Gelo, que jaz disfarçado na glacial, luminosa quietude. No céu trasparente a enorme lua parece próxima, mas não como na Europa onde a sua luz é fria e distante. Aqui parece pertencer a este nosso mundo, um quadro luminoso de uma paisagem de gelo delineada com apurada nitidez.



sábado, 23 de março de 2019

Questões de Viagem, poema de Elizabeth Bishop


Este poema de Bishop é mais longo, dispenso-me por isso do original inglês que é fácil encontrar na net.

Muitas vezes me tenho interrogado, em viagem, ou antes ou depois, em 'casa': mas vale a pena ?, não teria sido melhor ficar e apenas imaginar e sonhar este passeio, esta praça, este concerto, este rio? É verdade que quase sempre acontece algo imprevisto, que nunca poderia imaginar nem no mais louco desvario. Foi assim o Carnaval de Basileia, onde cheguei para ver museus, mas cuja fantástica coreografia me deixou em pasmo pela madrugada. Às vezes coisas magníficas, outras vezes horrorosas. Serão essas anomalias que fazem, afinal, o gozo da viagem ? Parece ser o que sugere Elisabeth Bishop; mas na verdade não partilho totalmente essa ideia. Duas das viagens que mais me deram felicidade foram as últimas, Cotswolds e a Escânia, onde tudo correu na perfeição conforme eu tinha planeado. O contentamento de um laborioso projecto bem sucedido também conta, e ficar em casa não tinha sido melhor. E depois... Não.

Extraordinariamente evocativo, o poema é uma metáfora narrativa que visa mais longe.


Questões de Viagem

Há muitas cascatas aqui; as correntes agitadas
correm demasiado rápidas para o mar,
e a pressão de tantas nuvens nos cimos dos montes
fá-las trasbordar sobre as margens em suave câmara-lenta,
criando cascatas mesmo enquanto olhamos.
- Porque se estes rastos, estes longos, brilhantes, rastos de lágrimas,
não são ainda cascatas,
numa era próxima, e as eras são rápidas aqui,
sê-lo-ão certamente.
Mas se as correntes e as nuvens continuarem a correr, a correr,
as montanhas serão como cascos de navio virados do avesso,
enlodados e encrustados.

Penso no longo regresso a casa.
Devíamos ter ficado em casa pensando em aqui ?
Onde estaríamos hoje?
Terá sentido observarmos estranhos num palco
deste teatro mais que estranho?
Que criancice é esta que enquanto nos resta um bafo de vida
nos corpos, teimamos em nos precipitar
a ver o sol do lado contrário?
O mais miudinho beija-flor verde do mundo?
A olhar para alguma inexplicável antiga pedra lavrada,
inexplicável e impenetrável,
de qualquer ponto de vista,
olhada num relance e sempre, sempre gratificante?
Oh, teremos de sonhar os sonhos
e vivê-los também ?
E teremos ainda espaço
para mais um sol-por dobradinho, ainda quente?

Mas seria com certeza uma pena
não ver as árvores ao longo desta estrada,
realmente exageradas na sua beleza,
não as ter visto gesticular
como nobres pantomineiros, vestidos de rosa.
- Não ter parado para abastecer e ouvido
a triste, duas-notas, lenhosa melodia
de duas tamancas desfasadas
a cliquetar toscamente
no chão engordurado da estação de serviço.
(Noutro país as tamancas seriam testadas.
Cada par teria a mesma tonalidade.)
- Uma pena não ter ouvido
a outra, menos primitiva música da ave castanha
que cantava por cima da bomba de gasolina avariada
numa capela em bambu de barroco Jesuíta:
três torres, cinco cruzes prateadas.
- Sim, uma pena não ter reflectido,
confusa e inconclusivamente,
sobre a conexão que possa existir desde há séculos
entre o mais rude calçado de madeira
e, meticulosa e picuínhas,
a escavada fantasia das gaiolas de madeira.
- Nunca ter estudado História na

débil caligrafia das gaiolas de ave canora.
- E nunca ter escutado a chuva
como quem ouve um discurso político:
duas horas de incansável oratória
e depois um súbito silêncio de ouro
em que o viajante pega num bloco de notas, escreve:

" Será falta de imaginação o que nos leva
a lugares imaginados, em vez de ficar em casa?
Ou será que Pascal não tinha toda a razão

sobre ficarmos sentadinhos em sossego no nosso quarto?

Continente, cidade, país, sociedade:
a escolha nunca é vasta, nunca é livre.
E aqui, ou além ... Não. Devíamos nós ter ficado em casa,
onde quer que casa seja ?
"


                                          Elizabeth Bishop
                                          [tradução minha]
  



"Tout le malheur des hommes vient d'une seule chose, qui est de ne savoir pas demeurer en repos dans une chambre."
                                                                        Pascal, 1670 


quarta-feira, 20 de março de 2019

'One Art', de Elizabeth Bishop - a arte de perder


ONE ART

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

Elizabeth Bishop



                               É fácil dominar a arte de perder
                               Tantas coisas parecem ter vontade
                               de perder, que se perdem sem doer.

                               Perde cada dia alguma coisa. Aceita nem sequer
                               das chaves da porta saber, desvanecer uma hora.
                               É facil dominar a arte de perder.

                               Depois pratica perdas graves, a irromper:
                               lugares, e nomes, e sítios aonde querias
                               viajar. Que se perdem sem doer.

                               Perdi o relógio da Mãe. E querem ver?
                               A mais querida de três casas foi-se.
                               É fácil dominar a arte de perder.

                               Perdi duas cidades, lindas. E, a acrescer
                               propriedades, dois rios, um continente.
                               Sinto a falta, mas não me fez doer.

                               - Mesmo se a ti perder (a voz, um gesto qualquer
                               que adoro) não estarei mentindo. É evidente
                               que é fácil dominar a arte de perder
                               embora possa mesmo (Escreve!) sim, doer.

                                                                                        [tradução minha]



sábado, 16 de março de 2019

Kirkwall (Orkney), magnífica capital insular com a Catedral a São Magno.


 Cá vai outra viagem que sonhei mas nunca fiz.

A Escócia é um país e é um mundo. Quando me apercebi de todo o território - 'mainland' e ilhas -, todas as pequenas cidades e vilas  dispersas até latitudes que se aproximam dos 60ºN, espantei-me com essa vasta extensão. Os cinco milhões e meio de escoceses parecem poucos, pois os quase 80 000 km2 de área diversificam-se em tantos recantos por uma costa recortada em fiordes, cabos, golfos e centenas de ilhas adjacentes ('over 790 ' !), que a distância e o tempo para ir por exemplo da capital a um desses sítios extremos pode ser superior a 17 horas de carro, tempo que demora a percorrer os 650 km de Tobermory a Lerwick incluindo ferries. São 25 horas de combóio ou autocarro.

Com este afastamento e isolamento,  admira que haja cidades remotas como Kirkwall, que ao mesmo tempo preserva o ambiente e arquitectura do passado e oferece todos os sinais modernos de civilização europeia. Kirkwall é uma bonita e culta capital insular, partilhando com a igualmente surpreendente Stromness a vida urbana das Orkneys. Podiam, em conjunto, ser uma candidatura fenomenal à mais longínqua Capital Europeia da Cultura.


Os antigos Romanos situavam a Ultima Thule por estes lados - os hiperbóreos eram muito provavelmente os Pictos. Ficava aqui o Finis Terris, o Fim do Mundo, e começava o desconhecido, como para nós é agora o Universo para lá da Galáxia.

Segundo Tácito, o governador Agrícola escrevia, no primeiro século,

"Foi então que uma frota Romana pela primeira vez circum-navegou a costa do mais remoto dos mares e estabeleceu que a Britania é de facto uma ilha. Seguidamente descobriu e conquistou essas outras  ilhas, até então desconhecidas, chamadas Órcadas.  (...) Tule, também, foi avistada ao longe pelos nossos homens, ainda coberta pelas neves do Inverno".

Hanc oram novissimi maris tunc primum Romana classis circumvecta insulam esse Britanniam adfirmavit, ac simul incognitas ad id tempus insulas, quas Orcadas vocant, invenit domuitque. Dispecta est et Thule, quia hactenus iussum, et hiems adpetebat. 

Provavelmente, eram as ilhas Shetland. Agora ficamos nas Órcadas e na sua capital. Nunca lá fui, nem irei, só lá cheguei pela net, e fiquei seduzido.


Kirkwall foi mencionada pela primeira vez na saga Orkneyinga (1046), como local de residência de Rögnvald (mais tarde St. Ronald), conde de Orkney desde 1138. Rögnvald era um nobre norueguês, descendente de família Viking, culto e letrado para a época, que viria a peregrinar à Terra Santa. Escreveu também poesia, sendo conhecido o poema-saga "Navegaram até Bizâncio".

As Orkney passaram para soberania da Escócia em 1472. Tendo Kirkwall sido escolhida como 'capital' das Orkney,  justifica-se o título "Royal Burgh of Kirkwall".


A frente urbana do porto (marina)  é a zona mais animada.

Num dia de sol, é a zona mais colorida da cidade.

Harbour Street.

Hoteis, clube náutico e o bar Helgis em Harbour Street, frente à marina.

Kirkwall, ilhas Orkney

Coordenadas: 59° N, 3° W
População  : ~ 9 300

A bonita Broad Street, a rua principal, com a vistosa Câmara e algumas lojas.

A 'Town Hall', em Broad Street, é de 1884. Actualmente é também casa de chá.

Há algo de MacKintosh nestas janelas.


É frente à Town Hall que se desenrola a principal festividade de Kirkwall, que junta uma pequena multidão e cada vez mais turistas: o 'Ba', que dizem ser um jogo tradicional antepassado do futebol, a que teria dado origem. 'Ba' é gaélico para ball (do nórdico bǫllr).


Este 'Ba' não tem treinador, nem estádio, nem SAD, nem hooligans: é um jogo espontâneo, popular. As janelas são, claro, a melhor bancada.


Mas continuemos a ver a cidade.

As casas dos comerciantes mais prósperos, do séc. XVII e XVIII, dão à cidade o seu carácter único, por exemplo nos seus telhados e chaminés.


A arquitectura típica das ilhas (e da Escócia) é de planta rectangular, duas águas, empena triangular, frequentemente em degraus, encimada pela chaminé.

A agulha da Catedral a espreitar.

St Catherine's Place, uma área residencial que ainda conserva a traça antiga.

Um de muitas estreitas vielas, Mounthoolie Place, junto ao porto.

 
Clay Loan, um recanto no lado ocidental de Kirkwall.

Uma das casas mais antigas é The Girnell, actualmente sede do Clube Náutico:

Casa classificada do séc. XVII, era usada para armazenar grão e semente para pagar imposto ao condado; o grão era guardado em cofres, ou 'girnels'

Fica frente à marina, em Harbour Street.

As ruas principais são Broad Street e Albert Street.

Broad Street
É a rua mais institucional e com edifícios mais imponentes,  onde fica o Museu e a Catedral que será descrita mais adiante.

'Tankerness House', em Broad Street (agora é o 'Orkney Museum').
 
À esquerda da Câmara, 'Orkney Island Knitwear', casa tradicional em Broad Street.

Restaurante e loja Judith Glue, 'all things Orkney'.

'The Longship Shop', desde 1859, ao lado da Town Hall. Joalharia, artesanato, lãs.

Albert Street
 
Casas de pedra com chaminé sobre empena triangular em face da rua, à esquerda.

 

'Little Island', Albert Street

A Albert Street é a rua pedonal onde se concentra o melhor comércio.

A livraria 'The Orcadian' , Albert Street.


Conhecida em todo o país, oferece sobretudo livros sobre as ilhas Orkney (Órcades) e de autores locais. Organiza palestras e sessões para crianças.



Também ficava aqui em Albert Street o Ting (ou Thing), o parlamento Viking que funcionou até à Idade Média. Era uma assembleia livre onde se tratava de tudo o que dizia respeito à comunidade, até ao séc. XV quando as Orkney passaram para a coroa escocesa. O local, agora designado por Parliament Close, está assinalado com placa:


Em frente fica The Brig Larder, mercearia gourmet, uma das melhores lojas da cidade.


'Big Tree', a Árvore Grande

Nas ilhas Orkney não havia árvores nativas. As que actualmente existem foram transplantadas ou semeadas; a primeira foi talvez esta, que se tornou um ícone de Kirkwall, a decorar Albert Street:

A Big Tree é um sicámoro com cerca de 200 anos, uma idade que já se nota.

A árvore está em frente a uma casa classificada, com placa, do início do séc. XVIII.

No mesmo prédio, do lado direito, 'Starlings':

Cabine e poste do correio vitorianos, mesmo à entrada de Albert Street.

E muito perto, frente a Câmara em Broad Street, encontra-se a grandiosa

Catedral de St. Magnus.

http://www.northernvicar.co.uk/2017/08/24/kirkwall-orkney-st-magnus-cathedral-the-general-tour/
http://sites.scran.ac.uk/stmagnus/

É o mais valioso património da cidade, e a mais setentrional catedral das Ilhas Britânicas. Construída em 1137, quando a cidade era governada pelo nobre norueguês Conde Rognvald, é de arquitectura medieval  Normando-Românica; a construção prolongou-se por séculos, tendo terminado já com elementos góticos no século XV.

Agora também o largo de Broad Street em frente à igreja tem as suas árvores..

A igreja é dedicada a S. Magnus Erlendsson, também conde de Orkney (1106-1115) anterior à fundação de Kirkwall, e descendente da família real viking norueguesa, cuja história é narrada na Magnús Saga incluída na  Orkneyinga saga. Foi apelidado o 'O Último Viking' das ilhas escocesas, e é santo patrono das Orkney.


O efeito de cor foi conseguido com a utilização alternada de calcário vermelho e branco.
O belo portal, já gótico, mostra bem o efeito da utilização polícroma de dois calcários, e a corrosão da pedra por séculos de mau tempo.


A porta abre-se par uma nave de impressionante arquitectura, majestosa e colorida, com a abóbada interior e as colunas massiças que são dos melhores exemplos de arquitectura Normanda.

A nave é alta e estreita, parecendo mais comprida por isso.


A transição para o gótico nota-se nas janelas e arcos, dos séculos XIII a XV.


A nave vista ao contrário, do altar para as traseiras.



Cadeiras do Coro.

Pormenor do altar em madeira de St. Magnus.

Altar com modelo de barco Viking numa das capelas.

Entre os muitos túmulos no interior, destaca-se o do explorador da era vitoriana John Rae, que da vizinha Stromness partiu para o Ártico canadiano, onde foi o primeiro a dar conta de muitas comunidades e ilhas, que percorria a pé, e descobriu a última secção que faltava da Passagem do Noroeste.

Rosácea da fachada sul do transepto.


Também as rosáceas são já do início do gótico.



Porta principal da fachada oeste, com um belo padrão bicolor e o arco gótico.


Gárgula de calcário já muito corroído.

A fachada traseira, com outra rosácea e vitral.




The Orkney Museum


Também é conhecido como Tankerness House Museum, por estar instalado nessa casa nobre do século XVI, situada no início de Broad Street, à volta de um pátio rectangular e com um jardim nas traseiras.


A Tankerness House é talvez a mais bela residência urbana das Orkney. A partir do séc XVII foi ocupada pela família de James Baikie, um comerciante  bem sucedido que se rodeou de alguns luxos.



E também há árvores neste jardim. Para mim seria local predilecto.




O Museu das Orkney documenta a história das ilhas, com destaque para o tempo dos Pictos e dos Vikings, que motiva a maioria dos visitantes.

A placa Scar Dragon

Esta requintado artefacto encontrado num navio Viking é esculpido em osso de baleia. Placas destas eram usadas para amaciar o linho.


Muito do espólio são pedras gravadas com desenhos e símbolos.



Pedras gravadas Pictas

Os Pictos habitavam a Escócia entre os séculos IV e IX, aquando da chegada dos Romanos àquelas paragens:

É ainda incerto se os desenhos rúnicos dos Pictos eram já uma forma primitiva de escrita.
Este disco de fuso para fiar tem inscrições Ogham, a 'escrita' primitiva dos celtas, no alfabeto dito "das árvores" .

Estátua de Conde Rognvald de Orkney(ca. 1103-1158) que mandou construir a Catedral.


Um dos sinais de modernidade em Kirkwall é a sua nova Biblioteca, exigida pela crescente vida cultural:


Vista aérea de Kirkwall

A Catedral (1) ao centro, em baixo, ainda é o maior edifício do núcleo histórico. Na Broad Street (rua em diagonal) o Museu (2) e a Town Hall (3); a seguir, começa a Albert Street (4), e mais adiante voltando à esquerda, a marina ladeada pela Harbour Street (6), e o porto. A Biblioteca no extremo esquerdo da foto (5).

'Amenities'
Não falta onde sentar para um chá ou café, ou num pub para uma bebida mais forte.

A Strynd Tearoom


'Tea time' na Strynd .

Helgi's é um pub com vista para o cais e a marina.


The Reel é um pub central, muito animado, com música ao vivo, à entrada de Albert Street.



Hotel St. Ola, frente ao porto

Esta 'viagem' entusiasmou-me. É o tipo de cidadezita onde me sinto bem. A quase 60º de latitude, isolados por mar, e à parte bosques verdes não falta nada aos habitantes de Kirkwall. Vive-se numa espécie de melancolia insular elegante e sóbria, ao contrário da grosseria contente e ruidosa do sul ou da parolice kitsch do oriente. Nesta fase, gosto de melancolia e de elegância. Kirkwall parece-me um muito bom sítio para se viver.