quarta-feira, 10 de julho de 2019

'La Diosa Galica', ainda no Atlas de Borges


Na continuação das minhas leituras de Verão, um último breve conto de Jorge Luís Borges.

Cuando Roma llegó a estas tierras últimas y a su mar de aguas dulces indefinido y quizá interminable, cuando César y Roma, esos dos claros y altos nombres, llegaron, la diosa de madera quemada ya estaba aquí. La llamarían Diana o Minerva, a la manera indiferente de los imperios que no son misioneros y que prefieren reconocer y anexar las divinidades vencidas. Antes ocuparía su lugar en una jerarquía precisa y sería la hija de un dios y la madre de otro y la vincularían a los dones de la primavera o al horror de la guerra. Ahora la cobija y la exhibe esa curiosa cosa, un museo. Nos llega sin mitología, sin la palabra que fue suya, pero con el apagado clamor de generaciones hoy sepultadas. Es una cosa rota y sagrada que nuestra ociosa imaginación puede enriquecer irresponsablemente. No oiremos nunca las plegarias de sus adoradores, no sabremos nunca los ritos.


Quando Roma chegou a estas terras últimas e ao seu mar de águas doces indefinido e talvez iterminável, quando César e Roma, esses dois claros e altos nomes, chegaram aqui, a deusa de madeira queimada já cá estava. Chamar-lhe-iam Diana ou Minerva, ao estilo indiferente dos impérios que não são missionários e que preferem reconhecer e anexar as divindades vencidas. Antes, teria ocupado o seu lugar numa hierarquia exacta e seria filha de um deus e mãe de outro e estaria vinculada aos dons da primavera ou ao horror da guerra. Agora é acolhida e exibida nessa coisa curiosa, um museu. Chega-nos sem mitologia, sem a palavra que foi a sua, mas com o clamor apagado de gerações hoje sepultadas. É uma coisa apodrecida e sagrada que a nossa ociosa imaginação pode enriquecer irresponsavelmente. Nunca ouviremos as preces dos seus adoradores, não conheceremos nunca os rituais.

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A deusa gálica a que Borges se refere, foi encontrada em estado de madeira carbonizada, em 1898, e está no MAH de Genève.




  A estátua foi de início considerada uma
  divindade galico-romana, mas testes mais
  recentes datararam-na de aprox. 80 A.C.,
  e permitiram identificá-la com mais rigor
  como um guerreiro Alobroge celta (região
  Ródano-Genebra), com a típica espada e
  escudo circular.




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