sábado, 21 de setembro de 2019

Não há que ter medo para já. E depois?


Cada vez tenho menos certezas. Este texto é só um desabafo. Posso bem estar errado; mas anda por aí tanto disparate cheio de convicção...

Estão ainda vivos muitos dos que viveram ou têm profunda consciência do que foram as guerras, a tentativa Nazi e o fracasso Comunista. Com essa imensa sabedoria que ainda neles vive, não é simplesmente possível que se instale uma ditadura na Europa. Não me afligem 'extremas direitas' que são apenas direitas radicais, pífias ainda, sem milícias nem delírios de grande Império, sem força institucional. De ideologia, nada que se pareça com um programa nacionalista-imperialista radical - só a rejeição da imigração em massa. É mau, mas é inconsequente; nenhum povo europeu os deixará ir mais além da berraria.

Como sempre acontece, um regime 'mau' só vence se o regime 'bom' se tiver mostrado incapaz. Quando esta memória dos seniores que se traduz num apego radical e visceral à democracia tiver passado, dentro de digamos vinte ou trinta anos, quando ninguém se lembrar de guerras, ditaduras e genocídios a não ser pelo que vem nos livros (não chega), quando os jovens pensarem que uma ditadura pode ser boa se combater a poluição, então as coisas podem voltar a tornar-se verdadeiramente perigosas, mais ainda se a democracia continuar a ser incapaz. Então é que será preciso que os media e todos os democratas gritem "Lobo! Lobo!". Mas os que já o fazem agora prestam um mau serviço; criam um medo paranóico de coisa nenhuma que torna as pessoas infelizes e frustradas, e algumas, sim, desejosas de que alguém ponha ordem nisto. É esse medo do apocalipse que pode estragar tudo o que parece seguro e estável. Detesto, com repugnância, este jornalismo de catástrofe.

Quanto a alterações climáticas: que o clima está a mudar, sim, pois está, e sempre esteve, é por natureza mutável. A humanidade está a acelerar e a influir no sentido da mudança ? Não sei, não me parece nada provado, mas mesmo aceitando que está, também isso é um processo natural: qualquer espécie que se torne dominante de forma excessiva e descontrolada no planeta com certeza vai provocar múltiplas alterações, vegetais e animais, formas de contaminação, extinção de espécies concorrentes. É um processo, ele próprio, natural, que faz parte das possíveis evoluções planetárias. É um processo inevitávelmente desigual, que afecta mais umas regiões que outras, que não evolui de forma linear mas de forma caótica.

Acho bem que a humanidade tente diminuir a sua 'pegada ecológica', sem precipatações e alarmismo, paulatinamente. Conseguirá talvez abrandar os seus efeitos, mas nunca inverter a tendência. A evolução em curso, seja de aquecimento ou outra, irá sempre prosseguir, e a única medida eficaz é preparamo-nos em vez de andar só a investir contra moínhos. Deixar de poluir com plásticos é uma medida urgente e óbvia, porque podemos desde já implementar alternativas e métodos de limpeza. Plantar florestas é uma medida urgente e óbvia, porque está ao nosso alcance, é barato, não condiciona ou prejudica o nosso modo de vida, a nossa saúde e o nosso conforto. Aumentar e melhorar o transporte ferroviário é também uma boa opção, mas de efeitos a longo prazo. Já a paranóia dos combustíveis e da carne não só não me merece a mínima adesão, como até me parece um disparate ineficaz. Uma das grandes mentiras do discurso energético 'politicamente correcto', verde e de esquerda, é a treta das energias limpas: não as há, a não ser moínhos ou açudes. Para limpar aqui, vamos sujar ali. E é estúpido demonizar a alimentação mais facilmente disponível para os povos pobres (carne e peixe) : as frutas e vegetais é que são difíceis de obter nessas regiões de aridez ou gelo. E por cá, sempre associei a dieta batatas-e-couves (o caldinho) a alimentação pobre como era no estado salazarista. Se o tempo e a qualidade de vida melhorou nos países desenvolvidos, foi em parte por uma alimentação mais rica e variada; vamos impedir o acesso a esse bem ao terceiro mundo? e às gerações futuras ?
[não falo dos excessos, claro; são... excessos.]

O medo paranóico da 'catástrofe ecológica' não faz sentido, não é para as próximas décadas, mas é uma detestável fonte de lucro para literatura, cinema e mass media que várias empresas (Hollywood, Fox e outras TV, editoras livreiras, indústria de baterias e automóvel...) exploram exaustivamente. Contagiou a ONU e muitos jovens, sempre sensíveis a causas. É urgente des-alarmar, e isso caberia a cientistas sérios e bem informados. Porque deixam andar esta maluqueira ? Porque não vejo publicados estudos e propostas sérias sobre a gestão da crise climática? Bom senso em medidas imediatamente benéficas, em vez de investimento massiço em medidas de eficácia duvidosa que trazem grandes lucros a outros (ou aos mesmos).

A geração mais idosa deve velar pela democracia e pela moderação, pela paz e pela qualidade de vida, que continua a querer estender a mais regiões. É o falhanço desta atitude que pode assustar: não me parece que a geração seguinte mereça confiança. Pelo menos, vota mal, já se viu.

--------------------------
P.S. já agora, depois do discurso da criança Greta ouvido e venerado como se fosse um oráculo ou uma vidente, ainda mais irritado estou. A chantagem de uma miúda rezingona e choramingas erigida em heroína, a violência com que ela anuncia o fim catastrófico do planeta, se não fosse bem recebida pelos media, seria apenas risível, grotesco mesmo, como qualquer bruxo fazendo profecias. O trágico mesmo é a complacência, não, a terna adulação de um Guterres a um caso evidente de aldrabice profética... infantil. 


2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente! Oh, pessoas que pensam é outra coisa. Obrigada, Mário. Foi a falta de pensamento individual que estragou a vida dos meus filhos, que nem me arrisco a ter, com medo do pensamento processado em massa. Disso sim, tenho medo e sinto-me completamente impotente.

Mário R. Gonçalves disse...

Lembra-se do mundo em 1940, ou seja, há 80 anos? Blocos em guerra total, ditaduras tenebrosas por toda a parte, uma indústria altamente poluente, África e América latina na miséria; e certamente imenso gelo nas calotes polares. Pois ninguém queria saber ou se punha a adivinhar o que aconteceria em 80 anos, ou seja, agora. Só queriam era acabar com a guerra, as ditaduras, os campos de concentração, os blocos e a miséria total em tempo útil da sua vida, e desesperavam: algum dia será possível?. Foi, Isso conseguiu-se; hoje o mundo é outro - mais livre, global e limpo; a humanidade é outra, mais democrática, livre e vivendo com mais qualidade. Devíamos estar a festejar. Em vez disso, massacramo-nos com o que talvez aconteça daqui a 80 anos, noutro mundo, noutra humanidade. Sim, os gelos recuam. Ora. Tentemos não fazer asneiras, o resto eles que resolvam.

Vai ver que o pensamento processado em massa é doença nossa, asneira nossa de agora, um resquício ainda de ditaduras e miséria educativa; dentro desses 80 anos das previsões catastrofistas o mais certo é que a humanidade pense melhor e com mais liberdade. Impotentes somos todos, mas medo para quê, de quê ?