quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Nicolas Chédeville, "Il Pastor Fido" - música contente


Sou um atrasadinho a dar novidades, já se sabe; mas para mim foi surpresa total: 'Il Pastor Fido' de Nicolas Chédeville é uma colecção de sonatas alegre e fresca, o ideal para uma praia deserta ou uma festa campestre. Ouvi duas gravações bastante diferentes, uma de 1992 com um pequeno agrupamento orquestral, e outra de 2015, quase sempre em duo - flauta / violoncelo ou cravo.

A flautista Irena Grafenauer com o Philarmonisches Duo, ao gosto alemão,com um pouco mais de 'peso' instrumental.

Stefano Bagliano com o Collegium Pro Musica, leve e saltitante, muito italiano.

Trata-se de um conjunto de sonatas para flauta acompanhada que na sua primeira edição em 1737 fora atribuído a Vivaldi. Esse músico francês, Nicolas Chédeville, era seu amigo e colega de profissão - fizera alguns arranjos para as obras do Mestre, e tocava musette com virtuosismo. A 'fraude' de atribuir estas composições a Vivaldi foi combinada com o editor, com o fim de tirar proveitos da venda; mas a obra nunca obteve grande sucesso, foi esquecida, e então Chédeville resolveu reivindicar oficialmente a sua verdadeira autoria.

A edição de 1737 indicava sonatas para "musette, flauta, oboé, violino, com baixo contíno", op. 13 del signor Antonio Vivaldi. Musette era o nome da cornamusa ou gaita de fole, em voga em França, mas provavelmente a composição original era para flauta.


À falta do documento de Chédeville, só em 1973  a autoria de Vivaldi começou a ser posta em causa; por fim em 1989 Philippe Lescat esclareceu a verdade: encontrou em Paris a declaração notarial de Chédeville a reclamar a obra como sua !

Acontece que estas sonatas são uma gracinha de invenção melódica e dinâmica, de engenhosos contrapontos, ora de vertiginosa rapidez, ora de sublime suavidade; tão belos os acompanhamentos nas cordas como no órgão. Com atenção, ouve-se bem que o estilo não é Vivaldiano, mas há sem dúvida várias citações de temas que foram adaptados. Saliento o allegro da 4ª sonata, esfuziante, com a técnica de bariolage, e a seguinte pastorale com uma preciosa parte no violoncelo, ou ainda o preludio da 3ª sonata a abrir no baixo continuo (coisa rara) - uma das mais bonitas.

Começo pela gravação de 1992 (Phillips); a execução primorosa e entusiástica é da flautista Irene Grafenauer, da teclista Brigitte Engelhard, do baixo e do contraponto do Philharmonisches Duo Berlin, Jörg Baumann e Klaus Stoll.

Sonata nº1 , I - Moderato.


Sonata No.1, III - Aria (Affettuoso)


A abertura da Sonata nº 3 no baixo continuo:
I - Preludio (Andante)


Sonata nº4, II - Allegro (c/ bariolage)


Na edição mais recente, de 2015, sem contrabaixo, há menos brilho virtuosístico em troca de ainda maior vivacidade. Nenhum dos CD é melhor: há que ouvir ambos ! Este vídeo cobre todas as 6 sonatas; p. ex. o allegro da nº 4 é aos 32:38.


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