quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Mau turismo: poema de Kate White


The Next Island

A Ilha que se segue

Lembro-me de Ítaca, um casco ainda adormecido
no horizonte cada manhã ao despertar.
Sem aeroporto, mas não muito remota, lá adiante
cruzando o mar. No último dia
alugámos um barco, 25HP, chave de ignição,
toldo branco esticado contra o sol.
Tivemos cinco minutos de instruções, por
gestos, esquecidas assim que foram precisas. 

A travessia também já há muito a esqueci. Só
um ténue sabor a naufrágio a meio caminho:
o molhe deixado para trás indistinto,
um porto distante fora de alcance, o motor
a roncar. E posso adivinhar mais do que lembrar
como gastávamos o tempo chegados a terra -
havia sempre incluídas duas garrafas
de Mythos e a urgência de nos deitarmos sob uma árvore.

É a partida o que melhor recordo
ao içar a âncora com resistência:
a corda emaranhada nas de outros barcos
nós amarrados num círcuito espiral
depois o picar da água salgada na pele quente,
ao saltar dentro dela para desatar a coisa. Salvos
por um homem que mergulhou a desfazer os nós
mas que, zangado, virou costas aos obrigados.

"Não, não acenes ", disseste tu quando
nos escapámos de volta para o mar.
                                                                         Kate White



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