quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Recordar os cafés de Ourense



Não sei bem porque gosto de Ourense. Não tem nada de marcante, nem castelos nem palácios nem museus nem concertos, mesmo a catedral é deselegante, pesadona, e o ambiente da cidade é cinzento e pobre, tal como a arquitectura. Tem locais pouco recomendáveis, umas feias ruelas em zigzag cheias de bares (a movida é ali) e uma rua comercial pedonal onde não há quase nada, apenas algumas lojas de cadeia e bancos; nenhuma pastelaria requintada, nenhuma fachada notável, nem sequer livraria ou alfarrabista. Paralela a essa corre uma viela que desagua na Praza do Ferro, um bom ponto de encontro, de onde irradiam as ruas de bares nocturnos - Viriato, Lepanto, Unión. O nosso Viriato. Lepanto foi a batalha em que Carlos V pôs os Turcos fora da Europa, batalha 'na que lutou Cervantes' como diz a placa !

Praza do Ferro

Rua Lepanto

Há um ambiente cordial singular, relaxado como é hábito em cidades pequenas e interiores, pelo facto de ser uma capital que mais parece uma vila crescidinha. Anda-se cem ou duzentos metros e já se atravessou quase tudo, o pequeno emaranhado do centro histórico entre o Jardin de San Lázaro e a Praza Mayor. Lembra Guimarães, mas em mais pobre e mais pequeno.


Os recantos mais agradáveis estão à volta da catedral.


Talvez o que marcava diferença fossem os cafés. Ourense mantinha até há pouco alguns daqueles mágicos cafés "de toda uma vida". Paredes de madeira, mesas de mármore e balcões forrados. Mas estes tempos 'instagram-pandémicos' não se dão bem com casas antigas, para mais mal cuidadas, e o Bohemio fechou, o Real vendeu-se para outra vida. Vou recordar o que era quando lá costumava ir.

Praza Santa Eufemia

Café Latino
Pz. Sta Eufemia / Rúa da Paz



O Latino é o único dos antigos que ainda resta no centro.



Desde 1986, oferece concertos de jazz, integrando um projecto europeu. E oferece, sempre, um leque de jornais.
https://www.facebook.com/pages/category/Coffee-Shop/CAFE-REAL-186982304680406/

Dois cafés na rua da Paz ? Deve ter sido a mais cultural: lá se situa o Teatro Principal, onde tive o gosto de assistir a dois concertos.


O outro café nesta rua era o

Café Bohemio
Rúa da Paz

Numa casa a pedir obras, a sala do café Bohemio precisava de um cuidado restauro, mas o custo era elevado. Fechou.


O recheio era todo em madeira, tampos de mármore. Já não há clientes...

https://www.facebook.com/Caf%C3%A9-Bohemio-624695910991802/



O diminuto Café Asturiano está mais escondido, na lateral rúa Concordia,rua sem graça.


Desde 1942, oferece o melhor café e ambiente de tertúlia. Além da famosa tortilla.


O Asturiano não tem televisão, nem janelas, lá dentro reina uma média luz proveniente da clarabóia, rodeada por plantas de interior.

https://www.facebook.com/cafeasturiano/

Café Gaimola
(esquina do jardim de San Lázaro com a rua de Santo Domingo)

 
https://www.facebook.com/bargaimola/



Um café moderno, de finais do século XX. Sempre cheio e ruidoso. Muitos pequenos almoços aqui tomei, de preferência o excelente chocolate y churros.


A gulodice favorita na Galiza. E a seguir um passeio ate às pontes, para desgastar.

A Ponte Mayor, Ponte Romana ou Ponte Vella, que é de facto medieval (1230) mas reconstruída sobre alicerces romanos.



Ou a bela Ponte do Milénio de 2001 :



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Lembrei-me de Ourense porque é aqui tão perto, sem aflição de gares, sem filas de espera. A curta distância há mais, há a Ribeira Sacra e Castro Caldelas.

1 comentário:

Tink disse...

E uma das primeiras exposições do Nadir Afonso que vi... 38ºC