segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Summerland, um belo filme fora de moda, e a "ilha no céu" dos teósofos


' Summerland ' é um filme bonito, evocativo, sensível, bem narrado; infelizmente terá vida curta, pois não segue o padrão main stream socio-catastrófico-belicista.

Comovente e mágico, Summerland transmite o melhor da vida, o que nos faz falta nestes tempos de angustiada desesperança. Uma nuance de romantismo quando regressa ao passado da relação afectiva entre as protagonistas, um realismo lúcido no presente, que é o dos ataques aéreos alemães contra Londres nos anos 40.

Alice e Frank fascinados pela Fata Morgana, a "ilha no céu" da teosofia.

A história decorre principalmente numa aldeia da costa em Kent, perto das falésias brancas das Seven Sisters; Alice Lamb mora numa casinha sobre as dunas, a escrever ensaios sobre o folclore medieval e o fenómeno de Fata Morgana que essa tradição referia avistar-se do topo da falésia na forma de uma "ilha no céu", como uma formação fantástica a encimar as nuvens, pairando acima do mar. Um escape à realidade da guerra, mas Alice orienta-se pela perspectiva científica, quer descobrir a explicação racional para os factos.

 

Embrenhada na investigação e na escrita, Alice enxota todos os que a importunam, mesmo as crianças numa campanha de apoio às vítimas. Por isso suspeitam dela, fechada e antipática, como sendo espia alemã, ou mesmo ... bruxa.


Até que lhe bate à porta Frank, um rapaz adolescente que foi evacuado de Londres e precisa de uma 'família' de acolhimento, que calhou ser ela, Alice.  Depois das resistências iniciais, Frank acaba por ficar. Com o tempo, nasce uma cumplicidade em torno da investigação sobre o "castelo no céu" e os mitos da vida depois da morte. E para não estragar mais a quem for ver, fico por aqui.

A relação afectiva entre Alice e Vera é tratada com contenção e elegância exemplares.

Filmado em cores suaves, que reforçam o lado mágico, Summerland consegue conciliar o devaneio com a realidade num mundo de melancolia em que milagres podem acontecer e vir iluminar vidas sombrias e solitárias.


Uma história bem contada, bom gosto na realização plástica, ah, e é, sim, um filme muito britânico.

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Porquê 'Summerland'  ? Escrito e realizado por Jessica Swale, o filme vai buscar o título ao mito pagão e teosofista de um lugar nos céus onde habitam os antepassados, que manipulam as nuvens para comunicar com os vivos - a tal Fata Morgana do castelo numa ilha de nuvem.


[Textos vários do Guardian, Variety, LA Times ...]

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