Para morador urbano, não estou muito mal servido de janelas, é verdade. Note-se que as fotos foram tiradas com o vidro fechado.
Choupos à frente...
- NUM GRÃO DE AREIA
O MUNDO INTEIRO VER -
Um novo dia. Para falar verdade, o anterior nem tinha sequer terminado. A luz manteve-se toda a noite, compondo uma larga banda de vermelho leitoso no horizonte. Estendida na cama, fui ouvindo o som das aves marinhas até adormecer. Fazer o café da manhã, as galinhas à solta no quintal do vizinho, um carro que chega, dois turistas passeiam na aldeia, enquanto saboreio o café à janela da nossa cozinha. A previsão anuncia para amanhã um dia de sol, a brilhar até às dez da noite. A luz já está a mudar quando me sento na sala a escrever ; as cores todas a ganhar vida, o verde dos montes e da relva sobre os telhados, o azul do mar, as casas pintadas de vermelho, verde e amarelo, os campos a refulgir e botões-de-ouro aos milhões. Dentro em pouco irei eu dar uma voltinha pela aldeia. O meu camisolão castanho das Faroé, o meu gorro de lã e as galochas estão à espera. Não podia haver um lugar melhor.
Não deve haver também melhor maneira de saudar o solstício.
Memória de uma escapada europeia
Passei de 2001 para 2002 em Graz - inseguro, com o Euro a estrear, iria conseguir obter dinheiro quando precisasse ? Felizmente esse 'vírus' foi um flop e a moeda um sucesso.
O frio era de rachar, certamente abaixo de zero, e anoiteceu muito cedo. Quando saímos à rua, foi directo para a Herrengasse, a 'granvia' de Graz - que seria o nosso picadeiro ao longo da estadia. É uma rua larga e direita, não muito longa, percorrida por eléctricos nos dois sentidos, que como é de regra em país civilizado convivem sem desnível com os peões, o que torna a rua muito cómoda.
Nos dias seguintes o tempo foi melhorando um pouco, e ao meio dia havia já mais luz.
Estamos em frente da Landshaus, a meio da rua. É um palácio de estilo italiano, desenhado pelo lombardo Domenico dell'Allio.
Também Viviane Hagner voltou à Casa, agora com o empolgante concerto para violino de Sibelius. A violinista ficou conhecida pelas gravações de conceros de Vieuxtemps, que são virtuosísticos quanto baste.
Tanto quanto apurei, dedica mais tempo ao ensino que a concertos, mas na CdM exibiu à fartura as qualidades técnicas - não se poupou em passagens difíceis e foi sempre intensamente emotiva em pianíssimos ou em mudanças de ritmo ou de tensão. O 2º andamento foi um momento comovente de expressivo lirismo, muitíssimo bonito.
Nunca tinha ouvido este concerto tão bem interpretado, só por isso valeu a pena. Perante a aclamação da assistência, Viviane tocou como encore uma obra de ... Tárrega! Transcrita de guitarra para violino, claro. Bem difícil.
Depois veio a 5ª de Sibelius, uma obra genial, uma de duas ou três entre as 8 que Sibelius escreveu. Nunca me canso de a ouvir, de tal modo a orquestração é rica e variada, usando todos os naipes e secções, alternando ritmos - é também bastante visual se atentarmos à espacialidade orquestral no seu todo. Volmer deve tê-la dirigido em palco já centenas de vezes, fez com que a Orquestra da CdM se elevasse ao seu melhor, muito bem coordenada e quase deslumbrante; apenas me pareceu que poderia ter sido um pouco mais incisivo, dinâmico, aqui e ali, havendo momentos em que a música soava como estando em piloto automático (sem prejuízo da execução técnica).
18 de Junho
Arvo Volmer direcção
Viviane Hagner violin
Sibelius
- Concerto para violino e orquestra
- Sinfonia n.º 5
Não terminar sem música ! Sarah Chang no Adagio do Concerto.