As ilhas bálticas da Estónia são como cápsulas do tempo: ignoradas pela industrialização tal como pela construção invasiva, mantiveram a natureza quase intocada, e os sinais humanos tradicionais resistiram ao longo do tempo: moínhos, faróis, igrejas, casas do neolítico (influência Viking ?). Tudo muito sóbrio, despojado, um contraste gritante com o Mediterrâneo. Para quem valoriza mais o sossego...
Vou ficar-me por duas igrejas medievais notáveis.
Igreja de Karja
Gótico, séc. XIII - XIV
É uma igreja medieval luterana, na ilha de Saaremaa, dedicada a Stª Catarina; um edifício simples, sem torre, de uma só nave entre paredes altas caiadas, e uma rica decoração interior que é o seu mais valioso património.
A datação é aproximativa - fins do séc. XIII, talvez XIV. Além de lugar de culto, destinava-se a dar refúgio em caso de conflito ou perseguição - há quartos com lareira por cima da abóbada do tecto, de complicado acesso. Também podia dar abrigo a peregrinos na sua passagem.
O Calvário na parede exterior.
A riqueza em pedra esculpida no interior encontra-se em paredes e cornijas. Variam do Românico ao Gótico tardio, e entre os motivos há um grupo escultórico com Santa Catarina e outro com S. Nicolau, patrono dos pescadores, ao lado de um monge que segura um modelo de navio.
A nave vista do altar
Cornija esculpida
Também a pia baptismal é tardo-gótica do séc. XIV.
Valiosas ainda as pinturas murais bem conservadas, com símbolos pagãos - triskelion, pentagrama, demónios - em portais e suportes da abóbada. Possivelmente foi construída ou decorada por quem regressava das cruzadas, influenciado pela arte Bizantina.
Mural do altar
Um triskelion é um motivo baseado em três formas espirais com simetria de rotação, que se encontra tanto na Grécia Antiga como na cultura Celta. Neste caso, são três pernas dobradas, com um olho ao centro, a decorar o tecto junto ao cruzamento de nervuras.
Igreja de Liiva
Gótico, séc XIII-XIV
Liiva fica na pequena ilha de Muhu, adjacente a Saaremaa, estando ambas ligadas por estrada; a igreja gótica, também dedicada a Stª Catarina, data de meados do século XIII. Chegou a sofrer com as bombas na 2ª Grande Guerra que destruíram muitas das pinturas murais, de influência bizantina.
Um prolongado restauro após a independência da Estónia , com ajuda da Suécia, mostra agora a mais esplêndida igreja Gótica da Estónia, e um exemplo de arquitectura medieval que não foi alterada com intervenções de diversas épocas como é frequente.
Moínhos de Angla
Há moínhos antigos dispersos pelas ilhas, mas o conjunto mais procurado é o de Angla, os Angla Tuulikud. A maioria são do séc. XIX.
Moínho de Kassari
Tem graça constatar até que ponto os moínhos de Saaremaa e Hiumaa são na arquitectura da paisagem aparentados com as igrejas.