domingo, 29 de agosto de 2021

Dois poemas talvez ligeiros, de Billy Collins, para o fim do Verão,


Não é um poeta de génio transcendente, Billy Collins, será que voltará a existir alguém de génio transcendente ? Os tempos são o que são, aurea mediocritas, e viva e aleluia se alguém sobressai e, por exemplo, escreve com subtileza, inteligência e um toque apropriado de humana ternura. Ou pelo menos humor.

Oh my God !

Not only in church
and nightly by their bedsides
do young girls pray these days.

Wherever they go,
prayer is woven into their talk
like a bright thread of awe.

Even at the pedestrian mall
outbursts of praise
spring unbidden from their glossy lips.

                                      Nem só na igreja
                                      e à noite junto ao leito
                                      rezam as jovens de hoje.

                                      Onde quer que vão,
                                      a reza entrelaça nas conversas
                                      como uma vistosa linha de pasmo.

                                      Até num vulgar centro comercial
                                      estrépitos de reza
                                      jorram à solta de lábios lustrosos.                                

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Last Meal

The waiter was dressed in black
and wore a hood,
and when we pleaded for a little more time,
he raised his pencil over his order pad.

And later when he came back
to ask if we were finished,
we shook our heads no,
our forks trembling over our empty plates.

                                   O empregado vestia de preto
                                   E usava um capuz
                                   e quando suplicamos mais um tempinho
                                   levantou o lápis do bloco de pedidos.

                                   E mais tarde quando voltou
                                   para perguntar se estávamos terminados,
                                   abanamos com a cabeça que não,
                                   com os garfos a tremer sobre os pratos vazios.


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O austero Gótico medieval das igrejas de Saaremaa e Muhu


As ilhas bálticas da Estónia são como cápsulas do tempo: ignoradas pela industrialização tal como pela construção invasiva, mantiveram a natureza quase intocada, e os sinais humanos tradicionais resistiram ao longo do tempo: moínhos, faróis, igrejas, casas do neolítico (influência Viking ?). Tudo muito sóbrio, despojado, um contraste gritante com o Mediterrâneo. Para quem valoriza mais o sossego...

Vou ficar-me por duas igrejas medievais notáveis.
 
Igreja de Karja
Gótico, séc. XIII - XIV

É uma igreja medieval luterana, na ilha de Saaremaa, dedicada a Stª Catarina; um edifício simples, sem torre, de uma só nave entre paredes altas caiadas, e uma rica decoração interior que é o seu mais valioso património.


A datação é aproximativa - fins do séc. XIII, talvez XIV. Além de lugar de culto, destinava-se a dar refúgio em caso de conflito ou perseguição - há quartos com lareira por cima da abóbada do tecto, de complicado acesso. Também podia dar abrigo a peregrinos na sua passagem.

O Calvário na parede exterior.



A riqueza em pedra esculpida no interior encontra-se em paredes e cornijas. Variam do Românico ao Gótico tardio, e entre os motivos há um grupo escultórico com Santa Catarina e outro com S. Nicolau, patrono dos pescadores, ao lado de um monge que segura um modelo de navio.

A nave vista do altar

Cornija esculpida

Também a pia baptismal é tardo-gótica do séc. XIV.


Valiosas ainda as pinturas murais bem conservadas, com símbolos pagãos - triskelion, pentagrama, demónios -  em portais e suportes da abóbada. Possivelmente foi construída ou decorada por quem regressava das cruzadas, influenciado pela arte Bizantina.

Mural do altar


Um triskelion é um motivo baseado em três formas espirais com simetria de rotação, que se encontra tanto na Grécia Antiga como na cultura Celta. Neste caso, são três pernas dobradas, com um olho ao centro, a decorar o tecto junto ao cruzamento de nervuras.

Igreja de Liiva
Gótico, séc XIII-XIV


Liiva fica na pequena ilha de Muhu, adjacente a Saaremaa, estando ambas ligadas por estrada; a igreja gótica, também dedicada a Stª Catarina, data de meados do século XIII. Chegou a sofrer com as bombas na 2ª Grande Guerra que destruíram muitas das pinturas murais, de influência bizantina.





Um prolongado restauro após a independência da Estónia , com ajuda da Suécia, mostra agora a mais esplêndida igreja Gótica da Estónia, e um exemplo de arquitectura medieval que não foi alterada com intervenções de diversas épocas como é frequente. 



Moínhos de Angla

Há moínhos antigos dispersos pelas ilhas, mas o conjunto mais procurado é o de Angla, os Angla Tuulikud. A maioria são do séc. XIX.


Moínho de Kassari



Tem graça constatar até que ponto os moínhos de Saaremaa e Hiumaa são na arquitectura da paisagem aparentados com as igrejas. 


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

I was mistaken [1970, David Crosby]


Uma das mais belas canções da música não-erudita dos anos 70 foi este Laughing de David Crosby; continua actual. Estive e estou errado de tantas e variadas maneiras...

I thought I met a man
Who said he knew a man
Who knew what was going on
I was mistaken
Was only another stranger
That I knew

I thought I'd found a light
To guide me through my night
And all this damn darkness yes, yes
I was mistaken
Was only a reflection of a shadow
That I saw

And I thought I'd seen someone
Who seemed at last
To know the truth
I was mistaken
Was only a very small child laughing
In the sun.




Fazia parte de um disco fora de série, único e incomparável: "If I could only remember my name." Crosby teve o apoio nas vozes de Grace Slick, Joni Mitchell, além de Nash e Young com quem iria gravar os próximos trabalhos. Uma das faixas com algum trabalho de vozes é a adaptação de uma canção tradicional francesa do século XV, Les Cloches de Vendôme, escrita por alturas do fim da Guerra dos 100 Anos, que David Crosby rebaptizou Orléans. Versão tradicional:
'Orléans, Beaugency, Notre Dame de Cléry, Vendôôme'...
 
 
And, still, I am mistaken.

sábado, 14 de agosto de 2021

Eva Gonzalès, pintora impressionista

Não sei de nenhuma exposição recente das obras desta pintora. Exponho eu aqui, portanto, para um Agosto cultural.

L'Espagnole, 1882

Eva Gonzalès(1847 - 1883) nasceu em Paris de uma família culta espanhola. O pai era romancista de folhetins e a mãe musica amadora, e a vida em Paris nesses anos corria folgada e feliz. Em 1865, aos dezasseis anos, Eva Gonzales começou a ter lições de desenho; através dos conhecimetos do pai nos meios literários, frequentava a elite cultural parisiense.

Le Peintre et le modéle, 1882

Foi determinante para a carreira de Eva o ter sido aceite como aluna por Édouard Manet em 1869. As obras de Eva acabaram por ser apreciadas em 1870 no Salon pela "técnica feminina" e "harmonia sedutora", e um estilo progressivamente mais pessoal que também Zola elogiou.

Le Réveil, 1876 - talvez a obra maior de Eva

Em 1879 casou com o artista gráfico Henri Guérard, que fazia trabalhos para Manet. Com ele continuou a frequentar encontros de artistas em Honfleur, entre outros Cézanne.

 
Jeune femme sur un bac devant la mer - caso raro de pontilhismo

Dedicou-se ao Retrato e à Natureza Morta, mas não à Paisagem, género que sabia não dominar.
Oignons, 1872

Pommes d'Api, 1878

Bouquet de fleurs, 1874

Autoportrait, 1874

Que bem se pintava nesta segunda metade do dezanove.


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

E Hotéis, porque não? Os meus seis melhores (lá fora).

Os Hotéis são todos iguais? Tive experiências muito variadas, desde verdadeiras espeluncas de dormir sobre tábuas, ou com ratos no quarto, ou cheiro a canos, candeeiros quebrados, banhos com inundação do quarto, até uns poucos que deixaram saudades, e que vou aqui documentar por gozo de memória. Para me restringir, só menciono dormidas lá fora, pela Europa. 

São seis que elejo, e merecem referência pela arquitectura ou decoração, pela situação, pelo pequeno almoço, pelo conforto, pelo bem que se dormiu. 

Saint-Martin-de-Ré

Um dos luxos mais saborosos das nossas viagens foi a Ilha de Ré, onde ficámos alojados no Domaine La Baronie. Nem sequer foi muito caro, pois estávamos fora do pico turístico, creio que em Setembro de 2011.

Não havia dois quartos iguais; um dos prmeiros "Hotel de Charme", sob o tema da História local.


Até tínhamos um relógio solar!


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Bolonha

O San Donato da cadeia Best Western fica mesmo mesmo no centro de Bolonha, é um edifício bonito, e sobretudo tem terraços espantosos sobre a cidade. Vêem-se telhados e torres, pátios e jardins, e pudémos gozar um luar fenomenal.


 


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Annecy

Outra estadia de sonho: o Les Trésoms, no alto e com vista para o lago. Tinha só um defeito: na volta da cidade baixa, tinhamos de subir, já cansados, uma íngreme rampa.

Sorte maior era a sala do pequeno almoço, enorme, soalheira, com grandes janelões a dar para o lago. Ao fim, um café no terraço e estava o dia começado em beleza. O ano era 2006.


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Tunbridge Wells, Kent

O nosso hotel ficava mesmo nas "Pantiles" de Royal Tunbridge, onde decorre o festival de jazz em Julho; o nosso quarto era como um balcão para o festival. Não era luxo nenhum, era modesto, não tinha elevadores, mas a localização, o edifício, o pequeno almoço no bar/pub, a esplanada, valeram a escolha.

 


A nossa mesa de pequeno almoço.




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Muito diferente foi o Victoria Hotel de Basileia em 2004; lobby e escadaria belle époque. Basileia é uma fabulosa cidade de Arte.


 Sem ser luxuoso (4*), era muito bonito e acolhedor.

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Em Lund, foi o Grand Hotel, finalmente um Grand.

Grand Breakfast


A escadaria é um deslumbramento.



Não são mesmo diferentes? Totalmente; e nem sequer são iguais na afabilidade, nos serviços, na existência de elevadores, na eficácia do wifi. No fim do dia, depois dos Museus, das Igrejas, das ruas pedonais de mau piso, dos passeios e excursões, dos concertos, o Hotel é o porto de abrigo, a caminha macia que esperámos. Conta muito.