Depois de Händel, é a vez de Beethoven. Não vou citar a 9ª, obviamente opera maxima, mas sim a outra obra onde a dimensão, o génio musical e a o atrevimento de inovar foram mais longe. Podia estar a falar das sonatas para piano, sobretudo as últimas, compostas em simultâneo. Também as levava para a ilha deserta. Mas a obra de Beethoven que constantemente mais me espanta, surpreende, dá novas pistas e sempre me comove, é a Missa Solemnis.
Eu que até nem sou crente ... deixo-me submergir na paixão e emoção, na espiritualidade, na sumptuosidade e na irresistível torrente de música que jorra na Missa Solene. Poucas obras ( a 2ª de Mahler, com certeza) me proporcionam uma experiência tão intensa de descida aos abismos e redenção. Os acordos finais (dona nobis pacem, pacem, pacem...) são do mais belo e arrepiante que se pode ouvir em toda a história da música. Uma obra que sussurra o seu fim até a um silêncio que é obrigatório prolongar, depois de quase hora e meia de formidável intensidade dramática.
Encomendada para a cerimónia da entronização do arquiduque Rodolfo como arcebispo de Olmütz, em 1820, a Missa Solene demorou quatro anos a ser composta, com numerosas interrupções, especialmente porque Beethoven compunha também ao mesmo tempo as ultimas três sonatas para piano; e só foi estreada a 10 de Abril de 1824 em São Petersburgo, num concerto organizado pelo principe Galitzine.
“É a maior obra que compus até agora”, escreveu Beethoven. A obra seria terminada com três anos de atraso, após o acontecimento que ela deveria celebrar.
"Esta missa aparece-nos hoje como uma imensa oratória que não tem lugar na liturgia, tanto por causa da sua duração como do efectivo requerido e pelo carácter espectacular e complexo da composição. (...) Na luta, constante em Beethoven, entre a dúvida racionalista e a fé, parece aqui que a fé triunfa, uma fé pouco ortodoxa sem dúvida, onde o criador de todas as coisas e o criador de génio dialogam de igual para igual.” (Roland de Candé )
Reconhecendo a importância da orquestra na Missa Solene, Wagner considerou-a como uma grande sinfonia sagrada, com solistas e côro.
Pela dificuldade de execução e pela larga escala orquestral e coral, é poucas vezes executada com dignidade em Portugal. A não perder em qualquer oportunidade...
As interpretações que prefiro:
Otto Klemperer (referência clássica)
H. von Karajan
Georg Solti (orq. Chicago, Lucia Popp, grande dinãmica)
Ph. Herreweghe (referência digital. H.i., côro )
Uma obra coral sinfónica não pode ouvir-se bem no Youtube, nem em colunazitas modestas; mas enfim, ilustro com o Benedictus , dirigido por Bernstein.
Fonte citada: Mezza Voce, Antena 2
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Obras Primas absolutas da Música – 2 : Beethoven litúrgico
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2 comentários:
Amigo Mário,só não concordo com a tua asserção «...até nem sou crente».É presunção tua...O teu texto desmente-a e é puro bom gosto!A bem da dimensão estética.Um abraço.
:D Não me venhas com essa conversa, Fernando, já sabes a que trancendência me refiro, e uma coisa é ser crente outra é compreender o discurso e a mensagem da fé; preciso de empatia com a música litúrgica, o que não que dizer que preciso de conversão.
Atribuir presunção assim com essa facilidade não te fica bem.
Abraço ateu e herege,
Mário
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