segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

De Rilke, um poema para antes de adormecer


'Zum Einschlafen zu sagen' ( 'Para dizer ao adormecer' ) foi publicado no Das Buch der Bilde (1902), de Rainer Marie Rilke. Gosto particularmente da versão francesa, mas é bonito seja em que língua fôr, e mesmo cinemático, de certa forma. Bons sonhos, vezes três.




To be said when going to sleep

I’d like to sing someone to sleep,
to sit beside and be right there. 
I’d like to gently lull you, singing softly,
and accompany you asleep and waking up.
I’d like to be the only one at home
who knows: the night was cold.
And would like to listen within and without,
into you, the world, the woods.
The clocks, striking, call out each other
and we can see to the bottom of time.
And down below there's a strange man
and he is disturbing some strange dog.
After that comes silence. I have my eyes
laid wide upon you,
and they hold you gently and let go of you
when something moves in the dark.



À dire pour endormir

Je voudrais endormir quelqu'un en chantant,
m'asseoir tout près, et être là.
Je voudrais te bercer et chantonner tout bas
et t'accompagner au réveil et au sommeil venant.
Je voudrais être le seul dans la maison
à savoir que la nuit fut froide.
Et je voudrais écouter dedans et dehors,
en toi, dans le monde, dans la forêt.
Les horloges sonnent, criant les unes aux autres,
et l'on peut voir au fond du temps.
Et en bas un homme étrange passe encore
et il dérange un chien étrange.
Ensuite le silence s'installe. J'ai les yeux
grands ouverts posés sur toi ;
et ils te tiennent doucement, et ils te laissent
si quelque chose remue dans l'obscurité.




Para dizer ao adormecer

Eu queria adormecer alguém cantando docemente,
sentar-me junto de alguém e ficar ali.
Eu queria embalar-te e cantar baixinho
e acompanhar-te quando despertas e quando adormeces.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar, dentro e fora,
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios batem as horas, chamam-se entre si
e vemos o fundo o tempo.
E lá em baixo ainda passa um estranho
e enraivece um cão estranho.
Depois o silêncio vem. Tenho os olhos,
bem abertos, pousados em ti;
e abraçam-te suavemente e libertam-te

quando algo se move na escuridão.

[trad. minha]


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