quinta-feira, 9 de abril de 2015

Valencia, II:
A Llotja (Lonja) de la Seda



Não faltam edifícios bonitos em Valencia. Algumas ruas do centro histórico, no antigo intra-muros, são um contínuo desfilar de belas fachadas ocre ou cor de limão, com varandas de ferro forjado alinhadas muito certinhas por vários andares e lá em cima frontões mais ou menos trabalhados; alguns prédios de esquina do século passado, com torreões, exibem também arte decorativa em frisos de azulejo ou trabalho de gesso art deco. Mas a mais notável das casas é sem dúvida a Lonja de la Seda, frente ao Mercado Central, um edifício civil medieval único na Europa.

Situada num bairro de ruelas estreitas, é difícil ter uma boa perspectiva das duas frentes da Casa da Seda.


Foi construída para funcionar como Bolsa do Comércio da seda; é um edifício em calcário, do gótico tardio (séc. XV-XVI), que testemunha a vitalidade mercantil da cidade mediterrânica de Valencia no período final do Império Aragonês.



Ao nível da entrada, em planta rectangular, dispõem-se quatro espaços:

- A Sala das Colunas ou Sala da Contratação.
- A Cala do Consulado do Mar, posterior, com três pisos.
- A Torre.
- O Pátio das Laranjeiras (Patio de los Naranjos) que faz a articulação entre os blocos.

Há ainda, junto à parede amuralhada, uma escadaria de acesso ao segundo andar do Consulado do Mar, onde actualmente funciona a Academia Cultural.



A Sala das Colunas


A Sala das Colunas (ou Columnario), no seu esplêndido gótico flamejante, é a mais impressionante; o tecto, a 16 metros de altura, é formado por várias abóbadas com nervuras em ogiva, que nascem de oito colunas helicoidais com mais de 15 metros. Parecem palmeiras em pedra.


As duas filas de quatro colunas formam três naves na sala. Funcionava aqui desde 1407 a Mesa de Câmbios (Taula de Canvis) onde se realizavam as operações financeiras.


Ao longo das quatro paredes e à altura do topo das colunas corre um friso escuro com uma inscrição em latim e a letra de ouro, que começa assim: "Casa Ilustre, fui construída em quinze anos". E continua:

"Gustate et videte concives quoniam bona est negotiatio, quae non agit dolum in lingua, quae jurat proximo et non deficit, quae pecuniam non dedit ad usuram eius."

"Apreciai e vede, concidadãos, como é bom o comércio que não mente com as palavras, que promete ao próximo e não falha, que não empresta dinheiro para usura própria."

E termina: "O mercador que assim age acumulará riqueza e gozará a vida eterna".

Saídas do fundo do Columnario.

Acesso à escada em espiral para a Torre.

O portal gótico de acesso ao jardim.

Entrada interior para o Consulado do Mar.

O Consulado do Mar


Construída entre 1498 e 1548, esta casa já refecte a influência renascentista. Reunia-se aqui o Tribunal do "Consolat del Mar", instituição do Reino de Aragão que se ocupava desde 1283 dos negócios marítimos no Mediterrâneo. No século XVI Aragão e Castela estavam já unificados mas mantinham ainda uma grande autonomia.


No 1º andar, a Câmara Dourada com tecto gótico em madeira policromada.



Finalmente, ao ar livre, o Pátio das Laranjeiras, jardim tranquilo, verde e perfumado onde os corpos do edifício encontram unidade.


Gótico, Renascimento e Laranjas de Valencia.




3 comentários:

Fanático_Um disse...

Definitivamente, Valência é uma cidade para visitar tão depressa quanto possível! Obrigado Mário.

Mário R. Gonçalves disse...

De nada, Fanático_Um. Sim, sobretudo com ópera... e evitando os mais de 30º no Verão

Gi disse...

Que bonito, Mário. Estou a gostar da reportagem.